Por Luiza Granero – Fala!MACK
A estilista Kate Spade foi encontrada morta no seu apartamento em Nova York e eu estou muito decepcionada com você. Achei que já tinha aprendido a lição, achei que já tinha entendido a importância de seguir a regra“pessoas antes de coisas”, mas você se perdeu.
O suicídio de Kate foi confirmado hoje e, antes de se matar, ela escreveu uma carta de despedida para sua filha dizendo que não era culpa dela. E você, durante todo esse tempo, pensando nas bolsas, lamentando por não ter dinheiro para comprar uma delas. Sentindo-se infeliz por não poder adquirir um produto de marca. Isso me decepciona.
O que me deixa não é que você não a ajudou, isso era inevitável. Vocês não se conheciam. O que de fato, me entristece é que, constantemente, você inverte a regra. Amava a marca, mas não conhecia a pessoa. Admirava o produto e não o produtor. Deu vida a algo inanimado e transformou em objeto alguém que nunca deveria ter morrido dessa forma.
Aposto que você se chocou quando olhou para a foto dela pela primeira vez e percebeu que nunca tinha notado que de fato uma “Kate Spade” existia. Tenho certeza que se entristeceu por ter passado uma vida inteira almejando um pedaço de couro e alguns botões banhados a ouro ao invés de buscar uma nova história de vida ou algo que fosse verdadeiramente real.
Agora, pense um pouco. Entenda o perigo. Se isso aconteceu uma vez, por tanto tempo, e você nunca nem percebeu, tente me responder agora: quantas outras vezes essa regra não pode ter sido invertida?
Quantas outras coisas não foram postas antes de pessoas? Isso não te assusta? Quantos outros indivíduos à sua volta, nesse exato momento, não estão em depressão e se sentem invisíveis, mesmo sendo o centro das atenções, porque estão sempre atrás do coisas que vendem? Quem será o próximo?
Para onde você está indo com esses valores?
Eu estou tão decepcionada com você. Mesmo com tantas palavras, tantas poesias compartilhadas… você deixou escapar. Provavelmente, mais uma vez. Kate Spade gritava por socorro, mas o que realmente chamava atenção eram suas bolsas de marca. E onde chegamos? O que no fim valeu a pena?
Quem mais você está tratando dessa maneira? Me diga: quem mais você está deixando de enxergar por ver apenas objetos que não possuem vida? Olhe a sua volta. Por isso, por ter invertido cruelmente uma regra tão importante, e por ser tão fácil cair na tentação, escrevo esse lembrete de mim para mim e peço que repita, todos os dias, constantemente, até que nunca se esqueça:
Pessoas antes de coisas.
Pessoas antes de coisas.
Pessoas antes de coisas.
Para que, nas próximas vezes, não haja bolsa, marca ou qualquer tipo de objeto que você ouça mais do que um ser humano. E para que, você anseie todos os dias, por algo que preencha seu coração e não apenas o fundo do seu armário.