Seria estranho se eu pedisse para te fotografar? A trama de Observadores, que é escrita e dirigida por Michael Mohan, toca em um ponto muito comum a todo ser humano: a curiosidade. Incrível como a curiosidade se torna um desejo intenso de ver, ouvir, conhecer, experimentar algo novo ou até mesmo desconhecido. No novo suspense da Amazon Prime Video isso fica claro, como as pessoas são capazes de criar problemas reais apenas para matar a curiosidade alheia.
Uma análise crítica de Observadores, novo suspense da Prime Video
Observadores imediatamente se conecta com o espectador, pois nós reconhecemos – ainda que com um pinguinho de culpa por isso – os protagonistas e suas incontroláveis vontades de observar a vida alheia. De uma forma curiosa, porém, o filme até acende o alerta sobre a fragilidade que é essa tal privacidade a qual a maioria das pessoas preza – e acha que possui – mas, no fim das contas, nossos dados, nossas intimidades são mais públicas do que as ruas.
A trama conta a história de Pippa e Thomas, um casal jovem que acaba de mudar para um apartamento alugado. Durante a noite, no prédio da frente, se deparam com um casal que não tem receio de mostrar suas intimidades para os vizinhos. Pippa e Thomas acham estranho, mas logo ignoram e seguem suas vidas. Porém, o ato de bisbilhotar a vida deles passa a ser uma distração. Juntos, descobrem que Seb é fotógrafo e assedia sexualmente todas as modelos que leva para o apartamento no período em que sua esposa Júlia está fora de casa.
Enquanto Thomas começa a achar perturbador, Pippa passa a ficar obcecada com tudo que está acontecendo, aumentando um nível a cada dia: acorda para ver o casal de madrugada, compra um binóculo e até fica escondida na penumbra tentando ver a vida dos outros. Essa insistência, que já começa a se transformar também em uma busca pelo desejo proibido, passa a atrapalhar a relação dos dois. Sem parar, esse interesse pela intimidade alheia passa a ser o plano de fundo dessa obra de suspense com umas pitadas eróticas. Por meio de planos detalhes, o diretor é capaz de criar uma tensão sexual sem deixar a cena brega.
Na obra, tudo é ligado à visão: seja o título do filme, o fato da jovem trabalhar em uma ótica. O filme não tem interesse em demonstrar o que necessariamente deixa Pippa tão obsessiva, só apresenta que a jovem entra numa espiral de loucura e não consegue sair mais. O diretor busca trazer frequentemente novos elementos que mantêm o casal interessado na vida dos vizinhos.
A escolha do elenco foi muito bem acertada, Sydney Sweeney e Justice Smith, com uma química tangível, fazem com que o espectador tenha o mesmo nível de interesse que os personagens. A diferença é o nível moral de pessoa para pessoa que define o nível aceitável de algumas questões: tudo bem observar se o casal é exibicionista? Se sim, qual é o momento certo de parar e pensar “Opa, isso já é intimidade demais pra mim?”.
Não bastasse, Observadores ainda possui uma peculiar fotografia que, somada à uma montagem e à uma edição certeiras, confere um aspecto belo dentro desse contexto bizarro, além de acelerar o ritmo nos momentos certos nos quais sentimos nosso coração bater um pouco mais rápido, quebrando a adrenalina em que os personagens estão se jogando.
E por fim o filme tem uma ótima construção, atores talentosos e um último ato que não precisava de tantas revelações. A sensação que fica é que o final acaba tirando um pouco daquilo que encantou até então. Inconveniências à parte, trata-se de um ótimo suspense, afinal todo mundo curte uma bisbilhotice. E se você não curte, talvez sua grama seja mais verde do que a do vizinho.
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Por Sabrina Ferreira – Fala! Centro Universitário Brasileiro de Pernambuco