Desde o início do ano, o Covid-19 é pauta frequente no mundo todo e sua disseminação gradativamente vem atingindo inúmeros territórios, direta ou indiretamente. No continente africano não foi diferente, e mesmo que em diferentes intensidades, vários dos seus 54 países também estão enfrentando um contexto de instabilidade frente à pandemia.
A seguir, entenda um pouco mais da situação de alguns desses países, as medidas tomadas pelo governo e dados atualizados sobre os casos de coronavírus na localidade.
Nigéria
A Nigéria registrou um dos primeiros casos de coronavírus no continente, na cidade de Lagos. A confirmação ocorreu ainda no final de fevereiro e tratava-se de um nigeriano que esteve em Milão, e na época, a Itália já apresentava grandes centros da doença. Desde março, o presidente Muhammadu Buhari ordenou o confinamento total em Laos e na capital Abuja.
No dia 17 de abril, porta-vozes anunciaram a morte de Abba Kyari, chefe de gabinete do presidente, por Covid-19. O próprio presidente integra o grupo de risco da doença, já com 77 anos e problemas crônicos de saúde.
Além do coronavírus, o país enfrenta a problemática envolvendo o Boko Haram, um grupo de uma vertente extremista do islamismo que atua, principalmente, na região norte do território. Com a chegada da pandemia, políticas públicas de combate ao grupo foram interrompidas momentaneamente, causando uma atmosfera de tensão e instabilidade conjunta.
Em 15 de abril, Abubakar Shekau, líder do Boko Haram, caracterizou em um áudio as medidas tomadas durante a pandemia como “malignas”, e culpa as más ações das pessoas pelo vírus: “O mal que você pratica é o que trouxe isso, parem de culpar qualquer coisa (…)”.
O mapa abaixo ilustra a cobertura da infraestrutura de saúde na região da África Ocidental. Observa-se que esses recursos espalham-se desigualmente na região, que apresenta a Nigéria como grande concentração dos centros de saúde e hospitais, essenciais no amparo aos diagnosticados com coronavírus.
Angola
Até o momento, os 30 casos positivos de Covid-19 no país concentram-se na província de Luanda. Estima-se que até a metade do mês de maio seja finalizada a obra de um hospital emergencial na região com capacidade para mais de mil camas, divididas em um setor para civis e outro para as Forças Armadas Angolanas, como preparação para um eventual aumento de enfermos no país.
Mesmo com o baixo número de casos confirmados e apenas duas mortes, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, não deixou de ressaltar à população angolana a necessidade de respeitar as medidas preventivas e o isolamento social.
É importante que as pessoas tenham em conta que podem morrer. Nós não queremos óbitos no seio das nossas famílias. Estamos a lidar com um inimigo invisível.
Afirmou Sílvia Lutucuta
Em 24 de abril, um novo decreto presidencial declarou a prorrogação do estado de emergência e das medidas de isolamento social no país até o dia 10 de maio.
África do Sul
Com uma das maiores economias e populações do continente, a África do Sul apresentou medidas consistentes no combate ao vírus. Por meio de medidas de isolamento desde março, hospitais preparados para um volume alto de enfermos e equipes médicas em constante treinamento, o país presenciou uma queda brusca no número de casos diários durante a primeira quinzena de abril.
Mesmo com o preparo, o país permanece como o mais atingido pela pandemia, com quase 6 mil casos. Desse modo, no dia 27 de abril, mais de 200 especialistas, epidemiologistas e clínicos gerais chegaram de Cuba para colaborar na frente de combate ao vírus, que já realizou próximo de 170 mil testes na população. Contudo, a partir do dia 1 de maio, o presidente Cyril Ramaphosa inicia a gradativa e suave suspensão do isolamento social, assim como previsto desde março.
Embora um confinamento nacional provavelmente seja o meio mais eficaz, não pode ser prolongado indefinidamente. Os habitantes precisam comer, ganhar a vida, as empresas têm que produzir e vender, precisam gerar receita e manter seus trabalhadores.
Ramaphosa em pronunciamento na televisão
A primeira confirmação no país ocorreu em 5 de março e se tratava de um homem de 38 anos com recente visita à Itália.
Egito
Contabilizando cerca de 392 mortes até o final de abril, o país concentra, assim como a África do Sul, quase 6 mil casos confirmados e um dos maiores números do continente.
Em 26 de março, a jornalista Ruth Michaelson, do jornal The Guardian, foi forçada a deixar o país dias após publicar uma matéria sobre o coronavírus no Egito. Especialistas ouvidos para a matéria, ao analisar as condições e dados do local, consideraram que a quantidade de casos de coronavírus poderia ser superior à reportada pelo governo, e isso provocou reações negativas das autoridades egípcias para com a atuação da profissional.
Informações precisas sobre esta pandemia são essenciais. Os cidadãos precisam ser capazes de confiar na forma como seus países lidam com essa ameaça à existência. Ao tratar os jornalistas dessa maneira, o regime egípcio mostrou que teme informações claras, assim como teme a doença.
Publicação de Michaelson em seu Twitter
No dia 7 de abril, o Ministério de Assuntos Religiosos anunciou a suspensão das atividades coletivas para o período sagrado do Ramadã, tornando o Egito o primeiro país árabe a oficializar tal medida e seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Com início previsto para o dia 23 do mesmo mês, as atividades do período contariam com reuniões familiares, idas à mesquitas, viagens para cidades santas, dentre outros. Agora, as autoridades políticas e religiosas recomendam à população que o jejum e oração não pare, se possível, mas que seja feito em casa e sem quebrar o isolamento.
Burkina Faso
Em Burkina Faso, foi reportada a primeira morte por coronavírus na África subsaariana, em 18 de março: uma mulher de 62 anos. Até o momento, cerca de 650 casos e mais de 40 mortes já foram contabilizadas no país.
Recentemente, o governo decidiu atenuar as medidas de isolamento social por preocupações em relação aos impactos econômicos que uma paralisação prolongada das atividades poderia trazer.
No gráfico abaixo, constata-se que mais de um terço da população da África Ocidental (região na qual está Burkina Faso) não possui recursos para lavagem das mãos com água e sabão em suas casas, uma das melhores medidas de prevenção contra o Covid-19. Em países menores, como a Libéria, 97,4% da população não possui as facilidades necessárias para tal atividade.
Argélia
Mais de 4 mil casos já são contabilizados na Argélia, país do norte africano. Desde o dia 20 de março, as autoridades argelinas decretaram medidas para frear o avanço da doença, com o fechamento de restaurantes, suspensão da circulação de meios de transporte e proibição das usuais manifestações populares por liberdade e democracia.
O primeiro caso no país foi o segundo no continente, precedido pelo caso no Egito em 14 de fevereiro.
Uma das preocupações mais fortes foi, certamente, em relação à economia. Dessa forma, o governo adotou medidas de incentivo ao consumo interno de produtos e ao combate ao desperdício, e autorizou moinhos privados a abrirem canais de venda direto com o consumidor para lidar melhor com o fornecimento de produtos chave no mercado argelino, como farinha e sêmola.
Além disso, grandes empresas de vários setores foram convocadas a adaptar suas produções ao contexto: as do ramo têxtil, por exemplo, lidam agora com a produção de máscaras.
Para conferir mais informações acerca do Covid-19 tanto na África quanto no resto do mundo, você pode acessar o site da Johns Hopkins University, que disponibiliza animações, gráficos e uma dashboard com dados completos e diariamente atualizados sobre os casos de coronavírus. A OMS também oferece uma plataforma interativa sobre a pandemia, onde é possível observar diferentes análises gráficas e a progressão de casos de cada país, desde o início até os dias atuais.
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Por Isadora Noronha Pereira – Fala! Cásper