As ruas estão vazias, nenhum barulho de buzinas, ninguém nas calçadas; bares e lojas fechados, nas praias – que antes estavam lotadas – não se vê mais nenhum guarda-sol. Esse é o cenário da maioria das cidades ao redor do mundo, por conta do novo coronavirus, chamado de Covid-19.
Desde o começo do ano, famílias entraram em quarentena para se proteger do vírus que vem causando mortes no mundo todo. Embora, no Brasil, ainda haja uma resistência em torno das medidas de proteção, quem mora fora do país está levando as coisas muito mais sério.
Confira a quarentena de brasileiros que moram no exterior
Espanha
É o caso da empresária brasileira Beatriz Rodrigues, de 23 anos, que mora em Madrid, na Espanha. “Aqui está um caos, nossa vida está parada faz uns 15 dias, tá bem difícil”, conta.
Beatriz possui uma empresa de transporte e logística que trabalha com materiais de informática e telefonia, ela trabalhava de segunda à sexta e, aos finais de semana, saía para parques e restaurantes, mas desde o surgimento do vírus, as coisas começaram a mudar.
Na sexta-feira (13) todo mundo começou a se preocupar bastante. Eu fui no mercado, estava uma fila enorme, já estava faltando produtos, um monte de coisa.
Diz
Nessa semana, os alunos foram dispensados pelas escolas das aulas presenciais e passaram a receber atividades on-line, e na semana seguinte as empresas começaram a fechar suas portas. Na Espanha, os casos confirmados já ultrapassaram o número da Itália, que até então era o país mais atingido da Europa. No domingo (5) o número de infectados atingiu 130.759 e as mortes chegaram a 12.418 vítimas.
O governo decretou período de emergência até o dia 26 de abril, mas a medida ainda precisa ser aprovada pelo congresso. O controle de pessoas nas ruas também está sendo rigoroso.
“No nosso documento da Espanha tem o endereço, se a polícia me para e eu estou muito longe da minha casa eu levo uma multa de mil a 30 mil euros”, conta Beatriz. O recomendado é que apenas uma pessoa da família saia para comprar mantimentos essenciais e os supermercados estão tomando medidas de prevenção.
Eu fui no mercado e para entrar eu fiquei em uma fila enorme que estava dobrando a esquina. Só pode entrar dez pessoas por vez e na entrada você tem que colocar luvas, máscara e passar álcool em gel nas mãos. As caixas estão fechadas para que você não tenha contato nenhum com os produtos e o dinheiro você tem que colocar em uma bandeja.
Explica
Muitas pessoas já estão ficando sem dinheiro por conta dos contratos de trabalho, já que as empresas estão dispensando seus funcionários e eles não estão recebendo por isso. As pessoas que continuam trabalhando precisam de um certificado da própria empresa comprovando o trabalho e para os carros que estão em circulação é permitido apenas uma pessoa por veículo. Os voos foram cancelados, trens não estão funcionando e as estradas foram fechadas.
“Aqui as pessoas são muito disciplinadas, as pessoas começaram a se proteger até mesmo antes da ordem do governo”, conta Beatriz. Os idosos estão colocando em seus portões fitas vermelhas para indicar que precisam de ajuda.
“A solidariedade aqui está prevalecendo, os jovens se disponibilizam a fazer as comprar para os idosos, para que eles não saiam de casa”, explica. Quando perguntada sobre as expectativas para as próximas semanas ela diz que é de incertezas.
Todos estão emocionalmente abalados e fragilizados. Escutamos choros. Enfrentamos nossos medos, ansiedades e tristeza. Sabemos que vai ser um impacto muito grande e todos vamos sofrer as consequências pós-pandemia.
Estados Unidos
Além da Europa, outros países estão registrando cada vez mais casos de Covid-19, como é o caso dos Estados Unidos, que contabiliza mais de 300 mil casos confirmados, o maior número do mundo, mais de 8 mil mortes.
Só Nova York já registrou quase 114 mil casos e mais de 3.500 mortes. O estudante Marcus Vinicius Papalia, 19 anos, mora em Danbury, Connecticut, estado vizinho de Nova York, que só essa semana já registrou mais de 400 casos e é uma das cidades com mais casos do estado.
A rotina de Marcus era como a de qualquer outro estudante, ele ia para a escola de manhã e, à tarde, saia com os amigos, no entanto sua rotina foi afetada depois dos primeiros registros de coronavirus no país.
“Depois da quarentena o pessoal aqui ficou meio maluco”, conta. As escolas fecharam as portas e começaram a enviar atividades on-line e o comércio foi parando de funcionar aos poucos. E se as coisas estão difíceis para os americanos, para os estrangeiros que moram no país mais ainda. “As companhias de trabalho, como de pedreiros, carpinteiros, pintura começaram a fechar, essas coisas que imigrante tem mais contato”, explica.
Marcus conta que, no começo, as pessoas não se preocuparam tanto, porque praticamente não havia nenhum caso na cidade. Mesmo assim as prateleiras dos mercados começaram a ficar vazias, principalmente por conta da diminuição dos abastecimentos.
O grande aumento do número de casos uma semana em Danbury mostra como a pandemia está se espalhando pelos Estados Unidos muito rapidamente. “Não tem como fugir, porque a gente está rodeado por Boston e Nova York, que têm bastante casos. É impossível não chegar aqui”, diz.
Austrália
Do outro lado do mundo, a situação também se agravou. A Austrália, atualmente, possui mais 5 mil casos confirmados e o número de mortos aumentou para 30.
A estudante Gabriela Abreu da Silva, de 19 anos, que se mudou para Sidney em 2019 para fazer intercâmbio e trabalhar, conta que a rotina começou a mudar aos poucos. “Agora a gente tá trabalhando duas vezes por semana, meu namorado está fazendo só Uber Eats porque não tem trabalho”, explica.
Ela diz que não há todos os tipos de produtos nos mercados, para achar algumas coisas é necessário ir em mais de um mercado. “No transporte público eles fecharam o acento dos idosos para ninguém sentar e já diminuíram bastante a quantidade de gente nos ônibus”, conta.
As escolas estão dando aulas on-lines e as empresas grandes fazendo home office, no entanto, a situação dos EUA se repete aqui também. “O resto do pessoal que trabalha em obra, tudo essas coisas, tá tudo parado. Não tem emprego, as empresas fecharam e não tem o que fazer”, diz.
Ela reforça a preocupação com a falta de emprego por conta da necessidade de continuar pagando as contas e comprando mantimentos, pois supermercados e farmácias continuam abertos. Os restaurantes que ainda não fecharam estão fazendo apenas serviço de delivery ou retirada de pedidos, que só pode ser feita apenas por uma pessoa de cada vez.
Gabriela conta que a quantidade de pessoas nas ruas diminuiu bastante desde o início da quarentena e que ela e o namorado estão tomando as devidas medidas de prevenção.
Apesar deles não estarem no grupo de risco, na última semana, mais de 21% dos casos confirmados na Austrália foram de pessoas entre 20 a 29 anos.
Mesmo com o cenário negativo, ela tem boas expectativas para o futuro. “Acredito que quando acabar tudo isso, vai ter muitas oportunidades porque a Austrália precisa disso, da mão de obra. Acredito que tudo melhore e que a gente tenha uma boa qualidade de vida”, diz.
__________________________________________________
Por Mariana Rodrigues de Oliveira – Fala! Mack