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A Cobertura Política na América Latina

Por Crisley Santana – JornalismoJr ECA-USP

Fontes não oficiais e ameaças públicas são parte dos desafios enfrentados por jornalistas na Venezuela

Para entender um pouco melhor o cenário do jornalismo político na América Latina, a J. Press conversou com Paula Ramón, atualmente correspondente da agência de notícias AFP em São Paulo, e que já colaborou com The New York Times, CNN, La Nación, China Central Television e G1.

Qual é a maior diferença da cobertura política feita na América Latina se comparada com a cobertura política que é feita em outras regiões?

É difícil de responder, até porque não tenho experiência na região toda, mas acho que deve haver paralelismos do ponto de vista do trabalho. Mas é claro que as dinâmicas próprias de cada país imprimem ritmos diferentes.

Quais os pontos fortes da cobertura política Latina? E quais os fracos?

Seria difícil para mim avaliar o que acontece em outros países, mas imagino que depende de cada perspectiva. No caso venezuelano, por exemplo, acho que a cobertura política perdeu importância, sendo que o que verdadeiramente é notícia é como o país está desandando, a migração, os problemas sociais e econômicos. Esses assuntos deveriam ter muito mais peso do que a cobertura política.

Na América Latina, um jornal assumir publicamente sua posição política é visto com “bons olhos”? Esse jornal tende a ganhar credibilidade?

Acho que não é possível afirmar isso como uma generalização. Se bem que alguns leitores são fiéis a meios que representam suas posições políticas e com os quais podem se identificar constantemente. Estabelecer posições políticas a favor ou contra forças ou atores pode derivar em perda de credibilidade, porque alguns leitores assumiram que as escolhas editoriais são parciais, mesmo que não sejam. Isso para dizer que nem sempre os leitores veem com bons olhos quando um jornal assume uma posição política. Ganha credibilidade quem abre o debate e aceita diferentes pontos de vista, na minha opinião.

Relate desafios que já enfrentou como jornalista que cobre política.
Correspondente que cobre política é diferente de quando se é local. Neste ponto, prefiro falar só da minha experiência na Venezuela. Na minha época, havia todo tipo de desafios. O primeiro e mais evidente era não ter fonte oficial para quase nada. O conceito de informação de interesse público não existe mais na Venezuela, ter informações básicas é um desafio. Logo, ganhar fontes do governo para obter informação mesmo em off é ainda mais complexo. Outro problema era ser alvo da mídia oficial ou mesmo do presidente Chávez, ou funcionários menores, embora importantes, dependendo do que se publicasse. Isso gerava certo tipo de pressão que, no meu caso, não foi forte, mas para outros colegas gerou problemas a ponto de serem ameaçados publicamente.

 

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