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Casos de racismo se tornam frequentes em jogos do futebol italiano

Atitudes deploráveis vem se repetindo em todas as competições disputadas do país

O jogo entre Hellas Verona e Brescia, válido pela 11ª rodada do Campeonato Italiano, foi marcado por um ato vergonhoso e de grande repercussão. Ao cobrar um lateral, o atacante Mario Balotelli, do Brescia, percebeu que alguns membros da torcida adversária estavam emitindo ofensas racistas e imitando sons de macacos. Revoltado, ele jogou a bola para a arquibancada e ameaçou sair de campo, mas foi convencido pelos colegas de equipe a continuar. O jogador ainda marcou um belo gol na partida, que terminou 2 a 1 para o Verona. 

Legenda da Imagem: Mário Balotelli com a camisa do Brescia em jogo contra o Hellas Verona. Fonte da Imagem: EFE/EPA/FILIPPO VENEZIA.

Após o ocorrido, as opiniões ficaram divididas na Itália. O técnico do Verona, Ivan Juric, disse em entrevista concedida a Sky Sports que as provocações foram normais e que não tinham cunho racista: “Não tenho medo de dizer que hoje não havia nada: muita vaia e provocação a um grande jogador, mas nada mais”. 

O prefeito da cidade de Verona, Federico Sboarina, que estava presente no estádio Marc’Antonio Bentegodi, disse à agência ANSA que não havia cantos racistas por lá e que todos ficaram atônitos quando Balotelli chutou a bola na direção da torcida. Ele foi além, dizendo que “uma torcida e uma cidade estão sendo expostos à vergonha”. Depois da declaração do político, quatro vereadores da cidade também se posicionaram contra o atacante, enviando uma moção ao conselho de Verona, onde é solicitado o julgamento e punição do jogador por atacar e difamar a cidade italiana. O texto presente na moção ainda diz que “não é mais justo que Verona seja colocado no banco dos réus quando, como neste caso, nada aconteceu.”

Entre os que estão contra Balotelli, a declaração mais extrema veio de Luca Castellini, atual líder dos ultras de Verona – grupo de torcedores radicais. Em entrevista dada ao programa Radio Cafè, ele declarou que somente o atacante havia escutado falas racistas no estádio e questionou sua cidadania: “Tem cidadania italiana, mas não é de todo italiano. Ouviu esses coros somente na cabeça dele. Temos uma cultura de identidade, somos uma torcida irreverente. Mas não fazemos isso com instinto político ou racista. Isso que o Balotelli fez é uma palhaçada”.

Legenda da Imagem: Balotelli sai de campo cabisbaixo após derrota para o Hellas Verona. Fonte da Imagem: IMAGEM: EFE/EPA/Simone Venezia.

Castellini tentou usar Eddie Salcedo, negro e filho de colombianos, como uma prova de que a torcida do Verona não é racista, dizendo que quando o jogador marca, é aplaudido por todos. O líder dos ultras ainda foi irônico, citando a Comissão Segre, que está sendo discutida atualmente no Senado e tem a intenção de lutar contra o racismo, o antissemitismo e à instigação ao ódio. Ele disse: “Há algum problema em dizer a palavra negro? A Comissão Segre vai atrás de mim porque chamo alguém de negro? Vão tocar o alarme para mim?”.

Balotelli não ficou calado diante de tamanho absurdo e através de uma rede social disse que Castellini já não falava mais de futebol, pois estava envolvendo questões sociais e históricas muito maiores que ele. Ele completa: “Pessoas assim devem ser banidas da sociedade, não só do futebol. Chega de engolir. Chega de deixar para lá. Chega. Chega.”

Legenda da Imagem: Post feito por Balotelli após declarações feitas por Castellini. Fonte da Imagem: Reprodução/ Instagram

Ao contrário do que se esperava, a torcida do próprio Brescia também se manifestou contra o atacante. Em texto publicado pelos Ultras Brescia 1911 EX-Curva Nord – torcida mais extrema do time italiano -, eles dizem que o jogador deveria ter dado lugar a alguém menos nervoso: “Se não estava preparado psicologicamente para encarar os torcedores do Verona e – principalmente – em um jogo tão importante quanto o de domingo, em que uma cidade jogou a salvação de um treinador – entre os mais amados – (Balotelli) deveria ter dito e dado lugar a alguém menos… nervoso do que ele; ninguém ficaria chateado.” 

O principal jornal esportivo diário da Itália, Gazzetta dello Sport, se posicionou a favor de Balotelli. O jogador estampou a capa de uma das edições, que trazia a frase “verdadeiro italiano”, em oposição as declarações dadas por Castellini.

Legenda: Capa do jornal esportivo diário “Gazzetta dello Sport” estampada por Bolsonato dizendo: “Italiano verdadeiro”. Fonte: Reprodução.

A situação de Balotelli, infelizmente, é mais uma entre tantas que acontecem no futebol, principalmente na Itália. Antes desse caso, a torcida do Verona foi responsável por atos racistas contra Kessiè, do Milan. Já Lukaku, da Inter de Milão, e Moise Kean, do Everton, foram vítimas dos torcedores do Cagliari. O brasileiro Dalbert, da Fiorentina, ouviu ofensas vindas da torcida do Atalanta, avisou ao árbitro e o jogo foi paralisado.

Além da torcida, pessoas da imprensa esportiva e representantes de grandes órgãos do futebol italiano constantemente estão envolvidos em escândalos por racismo. Giovanni Malagò, presidente do comitê olímpico italiano, disse durante uma entrevista ao programa 24 Mattino que “erra quem vaia um jogador negro, mas erra ainda mais quem ganha 3 milhões de euros e se joga na área, talvez até feliz em conseguir o pênalti, se o árbitro não for checar no VAR”. Malagò tentou se explicar, dizendo que fez uma comparação extrema, mas a declaração continuou a circular.

O jornalista Luciano Passirani, disse durante sua participação no programa Top Calcio 24, que considerava Lukaku o melhor jogador em ação no futebol italiano e que “para pará-lo, você tem de dar dez bananas”. O apresentador do programa repreendeu Passirani imediatamente e o jornalista disse que foi apenas uma piada. Horas depois, a emissora Telelombardia anunciou o desligamento de Passirani.  

No caso de Balotelli, o Verona recebeu uma punição branda, e terá que jogar seu próximo compromisso com uma parte da arquibancada do seu estádio fechado. Já Luca Castellini foi banido do estádio Marc’Antonio Bentegodi até 2030. A frequência em que esses casos acontecem pode ser facilmente relacionada a fraqueza ou ausência das punições. 

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Por Geovanna Dourado Hora – Fala! PUC

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