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‘Brooklyn Nine-Nine’: Confira 5 questões sociais abordadas na série

Uma mistura harmoniosa entre comédia e tramas policiais, Brooklyn Nine-Nine é, atualmente, a queridinha entre os amantes de sitcoms e vai muito além da comicidade a todo custo: reflexões são sempre bem-vindas.

Lançada em 2013 pela Fox e adquirida pela NBC em 2018, a série, atualmente, conta com sete temporadas e a oitava já confirmada. Os episódios, com duração média de 20 minutos, giram em torno do dia a dia de um grupo de profissionais da fictícia 99° delegacia policial da NYPD, o Departamento de Polícia de Nova York. Em meio a investigações, torneios de Halloween e risadas, Brooklyn Nine-Nine destaca-se ainda por outro grande aspecto: sua maneira de abordar, de maneira leve, porém direta e esclarecedora, inúmeras problemáticas sociais e temas delicados.

Confira a seguir algumas das temáticas e momentos em que a 99 trouxe reflexões para muito além das ruas do Brooklyn.

Questões sociais abordadas na série Brooklyn Nine-Nine

Racismo

O racismo na série é materializado, principalmente, na trajetória do capitão Raymond Holt (Andre Braugher). Em alguns flashbacks resgatando momentos de Holt no início de sua carreira na polícia, é possível entrar em contato com todo o preconceito sofrido pelo capitão no ambiente de trabalho.

Negro e homossexual numa época e ambiente ainda de dinâmica mais conservadora e preconceituosa, Holt diz que escolheu muitas de suas batalhas para chegar aonde chegou, e usa da hierarquia policial para tentar mudar pouco a pouco as remanescências ainda fortes do racismo que sofreu.

Primeiro dia de Holt na NYPD
“Olá, sou Raymond Holt.”  “Veio aqui para se entregar?”

Outro personagem que sofreu de atitudes racistas foi o sargento Terry Jeffords, interpretado por Terry Crews. No oitavo episódio da sexta temporada, a série apresenta uma cena em que o sargento é repreendido por um policial enquanto simplesmente andava pela rua onde mora. Jeffords foi tratado de maneira agressiva e desrespeitosa por nenhuma razão, e não consegue sequer dizer ao homem que também é um policial.

A cena completa do episódio ainda mostra que Jake Peralta (Andy Samberg), outro dos detetives da 99, nunca viveu situação parecida mesmo ao realizar atitudes que realmente pareceriam suspeitas, explicitando o tratamento segregacionista e não ético algumas vezes ainda realizado pela polícia – e presente na estrutura e mentalidade da sociedade como um todo.

Episódio 16, Temporada 4 – “Moo Moo”  

Abuso e assédio sexual

Durante o oitavo episódio da sexta temporada, Jake e Amy Santiago (Melissa Fumero) lideram a investigação de um caso de assédio sexual envolvendo dois profissionais de uma empresa de finanças, Seth e Keri. Inspirado no movimento #MeToo, idealizado por mulheres nas redes sociais para mobilizações contra o abuso e assédio, o caso ilustra uma situação em que, ao oficializar uma denúncia de assédio, a profissional inspirou muitas outras mulheres que também sofreram o mesmo a também denunciarem.

Em meio ao processo de investigação, Amy  revela a Jake que também já passou por situação parecida com seu mentor da delegacia em que trabalhava anteriormente, mas nunca teve coragem de relatar a alguém por medo de comprometer sua carreira e imagem no NYPD.

O episódio explicita que trazer uma situação dessas à tona não é tão simples como parece, e o agressor muitas vezes ainda sai ileso ou deixa marcas ainda maiores na vida da vítima. Keri, por exemplo, resolve pedir demissão da empresa em que trabalhava, a qual era majoritariamente formada por homens, teria sua imagem prejudicada e relação profissional afetada após a condenação do agressor, mesmo provada sua culpa.  

Episódio 8, Temporada 6 – “He Said, She Said”

Homofobia e aceitação

Assim como no caso do racismo, a homofobia acompanhou a luta de Raymond Holt para alcançar sua posição e prestígio no meio profissional. Durante o episódio 17 da segunda temporada, por exemplo, o capitão relata as incertezas vividas durante seu casamento com o marido, Kevin, num contexto em que o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda era duramente repreendido pelo olhar da sociedade e ainda recém-legitimado. 
Na série, sua homossexualidade é parte importante de seu perfil pessoal e profissional, mas é tratada com naturalidade e não resume o personagem, que apresenta muitas outras faces interessantes ao público.

Em conjunto às temáticas LGBTQ+, a detetive Rosa Diaz reforça ainda, na quinta temporada, que o “B” dessa sigla não é de “Brooklyn”. Diaz é muito reservada quanto à sua vida pessoal, mas, após manter em segredo desde a sétima série, ela assume sua bissexualidade para Charles Boyle (Joe Lo Truglio) no episódio “99”.

O relato foi recebido com naturalidade pelos amigos, mas Rosa passa por momentos de tensão quando resolve oficialmente se assumir para família: sua mãe não recebe bem a notícia e passa muito tempo afastada da filha sem processar muito a situação. A trama exemplifica uma situação extremamente complexa e característica de pessoas que, por não se relacionarem exclusivamente com o sexo oposto, podem passar por problemas no processo de aceitação familiar.

melhores episódios de Brooklyn Nine-Nine
Detetive Rosa Diaz. | Foto: IMDb.

Machismo

Também durante o episódio do caso de assédio contra Keri, Amy e Jake têm uma conversa sobre como as mulheres passam por obstáculos e dificuldades extras em seus ramos profissionais. Amy destaca, a partir disso, inúmeras outras situações rotineiras que ambos passam em que ela recebe tratamentos diferentes dos dirigidos a Jake, sempre inferiorizada ou sexualizada.

Assim como Keri sofreu assédio e sempre foi diminuída e excluída pelos homens em seu ambiente de trabalho por ser mulher, Amy Santiago, mesmo com toda sua capacitação e profissionalismo tão desenvolvidos quanto ou até melhores que muitos colegas de trabalho, não recebe a devida credibilidade pela própria população por ser mulher, revelando toda a essência machista que ainda perdura intrinsecamente em nossa rotina.

Debate – He Said, She Said

Masculinidade Tóxica

A série destaca esse tópico justamente por não inseri-lo no perfil de suas personagens. Jake Peralta, Charles Boyle e Terry Jeffords, os detetives principais do elenco, fogem do padrão de masculinidade muitas vezes perpetuado no universo masculino, no qual prega-se certa insensibilidade e fuga de determinadas atividades ou assuntos para manter uma imagem de “macho-alfa” perante a sociedade.

Jake Peralta, por exemplo, apresenta claramente inúmeras vulnerabilidades e instabilidades devido à separação dos pais ainda quando criança, e isso não se esconde durante sua trajetória. O sargento Jeffords, que por fora revela todo um estereótipo de homem hétero, musculoso, insensível e intimidador revela por dentro (além de uma grande paixão por iogurte) um coração cheio de inseguranças em relação à sua rotina de risco como membro da polícia, sentimentos sempre à flor da pele e um grande pai para suas gêmeas.

questões sociais em Brooklyn Nine-Nine
Jake Peralta e Terry Jeffords em Brooklyn Nine-Nine. | Foto: IMDb.

Brooklyn Nine-Nine nos mostra, assim, personagens profundos e multifacetados, provando que, com respeito e representatividade, se constrói uma comédia capaz de conquistar todos os cantos e públicos do mundo.

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Por Isadora Noronha Pereira – Fala! Cásper

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