Com avanço das tecnologias dos meios digitais denúncias de ataques cibernéticos se tornam mais comuns a cada dia. Segundo dados do índice Breach Level da Gemalto, cerca de 4,6 bilhões de arquivos foram furtados ou acessados indevidamente somente em 2018.
Segundo levantamento realizado pela Kaspersky Lab, mais de 940 mil pessoas em todo o mundo tiveram alguma senha roubada, somente no primeiro semestre de 2019. Além disso isso demonstra um aumento de 60% nos roubos cibernéticos em relação a 2018.
Quando se analisam somente os usuários do Brasil se revela outra dado preocupante, 35% dos brasileiros não sabem proteger sua privacidade online, e 19% afirmam que já tiveram informações particulares suas ou de familiares em domínio público, sem a devida permissão.
As conclusões preocupantes não se limitam somente às pesquisas da Kasperksy, outra empresa do ramo de segurança digital a Gemalto, analisou que em 2018 cerca de 4,6 bilhões de arquivos foram furtados ou acessados indevidamente.
Segundo o índice Breach Level da Gemalto, 291 dados são furtados por segundo, no total são 25 milhões por dia. E desses dados roubados, somente 3% estavam protegidos por criptografia, método para impedir que terceiros possam interceptar mensagens entre dois usuários, tornando a informação ilegível sem o devido acesso permitido.
Nos casos citados, os alvos eram simples usuários de redes sociais, que representaram 56% de todos os furtos realizados segundo o Breach Level, porém, as mesmas táticas de manipulação de informações e roubo de dados também afetam outros setores da sociedade, como órgãos públicos civis e militares.
Segundo Márcio de Pinho Botelho, historiador, professor e game designer, pode-se definir toda prática de ataque ou dano através dos meios digitais como um ataque cibernético contra uma nação, governo ou organização. “Isso inclui ações de sabotagem a uma usina elétrica, nuclear ou algo do tipo, ataques de hackers para derrubar redes de dados como o do FGTS”, explica Márcio.
O historiador afirma que o debate sobre o termo da “guerra cibernética” ainda não é totalmente conclusivo, já que essa forma de conflito é “silenciosa” segundo ele. Botelho cita exemplos como as acusações do presidente venezuelano Nicolás Maduro em relação a supostos casos de sabotagem dos EUA contra usinas elétricas no país.
E Botelho pondera que as acusações de ciberataques em sua maioria não são facilmente definíveis ou claras, ele também cita o exemplo de senadores republicanos nos EUA que insistem em afirmar que a guerra comercial contra a China atualmente é uma forma de guerra cibernética.
E quando se trata não somente de humanos se utilizando dos meios digitais para causar danos, mas sim, de máquina autônomas ou inteligências artificiais que podem vir a ser auto suficientes devido à processos de aprimoramento próprio de aprendizado de máquina, programadas com intuitos bélicos?
Para o professor o real questionamento é se essas máquinas autônomas serão mais baratas do que soldados humanos.
“A automação só faz sentido se os custos forem mais baixos”, explica Botelho, que considera que no futuro haverá sim um maior debate sobre a questão ética envolvendo a vida dos homens e mulheres em campos de batalha ao redor do mundo e se há a necessidade ou não de troca de indivíduo humano por uma máquina.
Para ele, a troca de um pelo o outro não será imediata. Primeiro deve haver um processo de minimização de danos, ações militares melhor calculadas através do uso de inteligências artificiais e até mesmo com apoio de ataques cibernéticos.
“Vimos recentemente como drones podem ser bastante úteis em campo de batalha, como nos ataques que aconteceram nas instalações sauditas de petróleo” em 14 de setembro afirma Botelho.
O ex-consultor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil e consultor legislativo do Senado Federal, Tarciso Dal Maso Jardim concorda com Márcio ao afirmar que a guerra cibernética “pode ser um meio para auxiliar a guerra convencional ou não”.
Tarciso explica que é uma guerra sem lugar, e que não se pode definir um tempo de paz ou guerra e comenta que a sociedade em geral está passível de se tornar uma vítima de um ciberataque devido aos altos índices de usos de serviços, redes sociais e aplicativos em geral pelos quais fornecemos os mais variados dados depositados na internet.
O doutorando em direito internacional explica que segundo o DIH (Direito Internacional Humanitário) que se aplica em situações de conflitos armados ao redor do mundo, não existe uma legislação ou definição jurídica clara de como se agir em caso de uma guerra cibernética.
“O que existe hoje é uma adaptação dos princípios clássicos do DIH, sobretudo das Convenções de Genebra e dos dois Protocolos [Adicionais] de 1977, para uma realidade posterior”, explica Tarciso.
E deixa claro que não “há um tratado específico sobre esse tipo de tecnologia”, e compreende que em certas situações pode ser mais fácil de agir sobre drones tripulados remotamente, por exemplo, mas mais difícil quando se trata de armas autônomas e mais ainda “quando se trata da obscura guerra cibernética” comenta o cons?ultor.
Porém Tarciso deixa claro que cada vez mais – dentro do contexto tanto nacional quanto internacional – a guerra cibernética é um fenômeno atual, e governos ao redor do mundo tem se preparado para essa nova forma de conflito. E cita como exemplo a Alemanha, que desde de 2017, possui um comando dentro das Forças Armadas para a defesa cibernética.
Ao falar sobre o Brasil comenta sobre o evento “Guardião Cibernético”, um exercício de simulação para treinar oficiais do Exército em caso de um ataque do gênero dentro das fronteiras e bancos de dados brasileiros.
Durante a simulação, os participantes do treino são expostos a diversas situações de crimes virtuais e precisam tomar decisões para a resolução daquela crise. A simulação é coordenada pelo Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber).
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Por Artur Ferreira – Fala! PUC