Há milhões de anos, o supercontinente Pangeia se fragmentou, gerando diversos subcontinentes, até chegar aos 6 continentes atuais do planeta. Porém, uma faixa de terra entre a Índia e o Sri Lanka, na Ásia, vem há séculos despertando a curiosidade sobre essa conexão entre os dois. Esse curioso trecho nos faz pensar que, talvez, eles de fato sejam – ou foram, em algum momento – conectados.
A Ponte de Rama ou Setubandha, também conhecida como Ponte de Adão, é uma cadeia de bancos de areia que se estende entre a ilha de Mannar, perto da costa noroeste do Sri Lanka, até à Ilha Pamban, na Índia. Com cerca de 48 km de comprimento, nenhuma parte desse enorme banco de areia atinge profundidades maiores do que 1,2 m na maré alta, sendo considerado um local muito perigoso para a navegação. Apesar disso, ela não é transitável a pé.
Mas qual é a explicação para a existência dessa misteriosa ponte? Podemos encontrar uma das respostas no Ramáiana, o épico sânscrito atribuído ao poeta Valmiki.
Origem mitológica
Esse conjunto de versos conta a história de um príncipe, Rama de Ayodhya (por isso o nome Ramáiana, cuja tradução é “A viagem de Rama”). Sua esposa Sita é abduzida pelo demônio Rakshasa, rei de Lanca, Ravana. Datando de aproximadamente 500 a 100 a.C., o Ramáiana tem uma enorme importância na consciência cultural da Índia, sendo tão fiel e sólido na crença popular quanto a própria ponte.
A história começa contando que o príncipe Rama perdeu o direito ao trono. Durante um exílio de 14 anos na floresta, sua esposa foi raptada pelo rei demônio, Rakshasa. Rama amava muito sua esposa e, para resgatá-la, ele precisaria atravessar quase 50 km de oceano – e conseguiu, graças a seu exército de macacos antropomorfos (semelhantes a humanos) e alfabetizados.
Segundo o épico, os macacos escreveram o nome de Rama em pedras e as lançaram ao oceano. Aos poucos, elas foram se unindo e formando uma ponte flutuante, o que permitiu ao príncipe chegar ao outro lado e salvar sua amada. Rama foi aplaudido pela população e ganhou de volta o direito ao trono, sendo coroado rei logo após o seu retorno.
A ponte, porém, continuou no local para ser usada pela população. Registros apontam que, até o século XV, ela realmente era utilizada para travessia intermitente, que desaparecia de acordo com a maré, conforme apontam escritos mantidos no templo Rameswaram, na Índia.
O que diz ciência?
Diversos estudos descrevem a passagem como uma cadeia de barras, recifes de coral, areia e até mesmo um resquício de um período em que o Sri Lanka teria se desprendido da porção continental da Ásia. De acordo com cientistas, o processo geológico que a deu origem tem sido atribuído à movimentação da crosta terrestre, falhas tectônicas e atividade no manto.
Outras teorias afirmam que, na verdade, seu surgimento está ligado ao processo natural de sedimentação e à contínua deposição de areia, o que forma os cordões litorais com a subida no nível do mar.
Embora várias especulações sejam feitas, o surgimento da ponte continua sendo um mistério. Até hoje, não é possível determinar se a ponte é uma estrutura natural ou realmente foi feita à mão humana (ou de macacos).
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Por Lucas Oliveira Leal – Fala! UFRJ