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‘A Sangue Frio’: de detalhe em detalhe – leia a resenha do livro

A engenhosa particularidade na escrita de Truman Capote ao fazer A Sangue Frio

Dia 15 de novembro de 1959.Uma cidade chamada Holcomb, no interior do Kansas, EUA. Noite calma e calorosa. A Lua brilhava tanto que não havia necessidade de luz elétrica para iluminação. A cidade era tão pequena – e, diga-se de passagem, “segura” – que não viam necessidade de trancar as portas ao dormir, já que todos da cidadezinha se conheciam. Mas, nessa noite em específico, um simples trancar de portas poderia mudar o destino de uma família que houve de ser fatal.

O escritor Truman Capote (1924-1984), após abrir o jornal The New York Times para ler as notícias do dia, se depara com uma manchete sobre o assassinato de uma família do Kansas, que o intrigou tanto que, seis anos depois, apareceu com um livro contando a história desse assassinato e seus envolvidos.

O autor de Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo), ao escrever o exemplar, cria um novo gênero: o romance não-ficção, sendo ele um dos pioneiros ao lado de Gay Talese (Fama e Anonimato) e John Hersey (Hiroshima) ao surgir com o jornalismo literário. Capote surpreende ao contar uma história tão detalhada que parece inventada, mas tão bem escrita que, pensando bem, um homem só não seria capaz de inventar tudo aquilo.

a sangue frio
De detalhe em detalhe, A Sangue Frio surpreende os leitores. | Foto: Ana Bubola.

A Sangue Frio e o preciosismo de detalhes

Esforçado e careta, Herbert William Clutter, mais conhecido como senhor Clutter, cumpre o papel de pai perfeito ao personificar o homem que está ali para sustentar e cuidar de sua família. Bonnie Fox, que ao se casar com Herbert torna-se senhora Clutter, era uma mãe e esposa presente, porém, devido a seus problemas físicos e psicológicos, torna-se uma pessoa cada vez mais distante. Suas tentativas de amenizar as dores tomam grande parte de seu tempo.

O casal possuía quatro filhos: Evanna, Beverly, Nancy e Kenyon, sendo os dois últimos vítimas do assassinato. Houve quatro disparos, cada bala em um membro da família, mas, no final das contas, seis pessoas foram mortas, levando em conta que os dois assassinos – Richard Hickock e Perry Smith – foram capturados e executados cinco anos após o crime.

Todos os personagens são muito bem detalhados, com suas manias e personalidades definidas por Capote, que de cara já deixa os leitores boquiabertos com sua rigidez ao aperfeiçoar cada detalhe.

O livro possui uma linguagem fácil e flui naturalmente, ótimo para aqueles que têm interesse por criminologia e querem criar um hábito de leitura. A escrita acurada de Truman faz com que o leitor enxergue os personagens além de estereótipos de vítimas ou vilões, ele os enxerga como indivíduo. A precisão ao retratar pessoas como seres complexos deixa sua obra mais rica, mais instigante, mais humana. Ele faz questão de não deixar nada de fora, como se todas as decisões dos personagens colaborassem para um destino que não cabe a ninguém mudar. E Capote esclarece isso como ninguém jamais fez.

Por outro lado, é um livro que, dependendo do leitor, pode ser cansativo. A grande quantidade de descrição é o limbo da obra, o céu e o inferno ao mesmo tempo. Apaixonar-se pela dedicação gritante colocada no livro é um caminho que não agrada a todos e pode ser interpretada como “encheção de linguiça”, ficando exaustivo para quem está lendo.

Uma coisa é certa: o autor não tem dó ao rechear a obra com os mínimos acontecimentos. Sua incrível capacidade de entrevistar todos sem deixar nenhuma informação de fora é de impressionar qualquer um, o questionamento de que se tudo aquilo de informação é real acontece com todos ao lerem. A Sangue Frio é terrivelmente bem escrito, um clássico da literatura americana e do jornalismo literário mundial. Livro de extrema necessidade quando se trata de refletir sobre destino, culpa, morte e, principalmente, sobre a vida.

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Por Beatryz Gaia – Fala! Cásper

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