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Tartarugas: ciclo de vida e geomagnetismo

Chega o momento da desova. Depois de meses em incubação, os filhotes de tartarugas marinhas rompem os ovos e, juntos, fazem seu caminho até o mar. Se guiam pela luz do horizonte e registram informações sobre sua praia natal, que guardarão para o resto de suas vidas. Dentre essas informações, está o campo magnético da Terra, que serve como guia de navegação para migrações futuras que cada filhote venha a fazer. Este é o fenômeno conhecido como “geomagnetic imprinting hypothesis”, ou hipótese do imprinting magnético.

A palavra imprinting vem do inglês e significa marca, carimbo, registro, representando exatamente o que as tartarugas fazem durante o percurso do ninho até o oceano: uma espécie de carimbo do campo magnético da Terra naquela praia em que nasceram. Logo após o nascimento, os filhotes nadam muito para atingir o mar aberto, onde se escondem em bancos de algas para evitar predadores e ficam lá por alguns anos, conhecidos como “anos perdidos”.

Imagem: https://maceio.7segundos.com.br/noticias/2018/10/03/122067/biota-e-turistas-preservam-local-de-desova-de-tartarugas-na-praia-do-gunga.html

Quando atingem maior maturidade, as tartarugas marinhas se tornam animais extremamente migratórios, cruzando o oceano para realizar dois tipos de migração: para reprodução e para alimentação. “Assim que saem dessa fase (dos anos perdidos), elas se dirigem então para os sítios de alimentação. São as primeiras migrações que elas fazem”, explica Ana Cristina Bondioli, bióloga formada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e doutora em genética da conservação pela Universidade de São Paulo (USP).

Além do geomagnetismo, as tartarugas passam a usar diversos outros mecanismos e ferramentas como referência para esses grandes deslocamentos, como o movimento das marés e a visão, o olfato e a audição desenvolvidos. 

Quando atingem a idade reprodutiva, podendo variar de 30 a 50 anos de acordo com a espécie, retornam para a praia em que nasceram para se reproduzir e botar os ovos. Esse comportamento se chama filopatria e foi selecionado evolutivamente por fornecer sucesso na hora da procriação. Se as tartarugas pudessem falar, diriam algo como “Bom, eu nasci lá, é o único ambiente que tenho certeza que é favorável para o desenvolvimento dos filhotes. É pra lá que vou voltar!”.

 Segundo Ana Cristina, estes animais podem percorrer centenas de quilômetros para voltar à praia natal. Tartarugas nascidas na África vêm se alimentar no Brasil e voltam para o continente de origem para se reproduzir.

É neste processo que o imprinting geomagnético desempenha seu principal papel, pois é graças ao “carimbo” deixado pelos pólos magnéticos que os animais conseguem navegar distâncias tão grandes e chegar a locais tão precisos. Como, na maioria das vezes, o processo de desova acontece no litoral, a ação  do homem é um dos principais fatores de intervenção no ciclo natural.

“De cada mil filhotes que nascem, somente um ou dois conseguem atingir a maturidade. (…) Além dos predadores naturais, as ações do homem ameaçam as populações de tartarugas marinhas, destacando-se as seguintes: a pesca incidental, ao longo de toda a costa, com redes de espera, e em alto mar, com anzóis e redes de deriva; a fotopoluição; o trânsito de veículos nas praias de desova; a destruição do habitat para desova pela ocupação desordenada do litoral; a poluição dos oceanos e as mudanças climáticas”, de acordo com o projeto TAMAR (abreviação de tartaruga marinha), principal responsável pela preservação de tartarugas marinhas no Brasil. 

Imagem: http://www.pescamadora.com.br/2015/05/pesca-incidental-e-a-principal-ameaca-as-tartarugas-marinhas-no-brasil/

A hipótese do imprinting foi confirmada por um artigo publicado na revista Nature, renomada no meio científico, sobre um estudo em que tartarugas marinhas foram colocadas em tanques acoplados a grandes ímãs, que possibilitaram a inversão artificial dos pólos magnéticos da Terra. Quando os pólos foram invertidos, as rotas seguidas pelas tartarugas se inverteram também. Constatou-se, então, que este era de fato o mecanismo utilizado para a localização.

Depois de regressarem ao local de origem, chega, enfim, o momento da desova. Depois de meses em incubação, os novos filhotes de tartarugas marinhas rompem os ovos e, juntos, fazem seu caminho até o mar.

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Por
Mariana Catacci de Oliveira – Jornalismo Jr. ECA USP

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