Comemoração do 4º aniversário do blog Formando Focas reúne grandes nomes do jornalismo para compartilhar suas histórias.
Uma tarde de aprendizado
Um sonho que se iniciou em 2015 e que hoje está transformando o futuro de jovens que visam ser bons profissionais na área jornalística. Uma idéia simples, mas bem alimentada pela jornalista Patrícia Paixão, criadora do blog Formando Focas que tráz um conteúdo acadêmico mais descontraído para que seus leitores consigam aprender de uma maneira mais informal.
Apaixonada por jornalismo, Patrícia até compara seu sobrenome “Paixão” com o sentimento que tem por sua profissão. Ela utiliza a internet para passar para frente todo seu conhecimento e sente-se muito orgulhosa por poder comemorar o 4º aniversário do blog. O evento aconteceu dia 17 de agosto, no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e reuniu alunos e excelentes profissionais que passaram a tarde compartilhando um pouco de suas experiências e dicas para os “focas”.
A primeira atividade foi uma mesa sobre reportagens especiais e recebeu os jornalistas Kaique Dalapola e Beatriz Sanz que, atualmente, trabalham no portal R7 e Victória Damasceno, que atua no UOL. Apesar de serem “recém chegados” na profissão já possuem boas dicas de como funciona o trabalho com reportagens especiais.
“A reportagem especial envolve muito tempo, mas te dá tesão ao produzi-la”, afirma Beatriz. Ela cita também que não é fácil, muitas vezes as fontes não ajudam ou então não se sentem à vontade para falar. Mas quando se trata de um assunto que vale a pena não se deve desistir dele.
Kaique acrescenta que, para ele, o jornalismo é uma ferramenta que deve ser utilizada para mostrar o lado mais marginal da sociedade, o lado daqueles que não são vistos. E compartilha também as dificuldades que teve durante sua caminhada acadêmica. “Nós somos os filhos da Paixão, ela nos ensinou o que é jornalismo”, cita com gratidão à Patrícia, que foi sua professora há alguns anos.
Victoria explica que o conteúdo do dia a dia tem que ser produzido de forma muito rápida, diferentemente dos trabalhos especiais, que requerem tempo e apuração. Isso é o que difere a reportagem especial. É um trabalho mais “autoral”, pois exige um engajamento total do repórter.
Após a mesa, houve uma pausa para um café, que serviu para os convidados se conhecerem melhor e conversar um pouco mais sobre jornalismo, é claro.
A segunda parte do evento trouxe grandes nomes do jornalismo investigativo, Breiller Pires, comentarista da ESPN, Thaís Nunes, repórter do SBT, Paloma Vasconcelos, repórter da Ponte Jornalismo, Yago Sales, repórter do IG e Moacir Assumpção, jornalista, escritor e professor do curso de Jornalismo da Universidade São Judas.
Thaís abriu a conversa agradecendo a presença e a importância de ver uma platéia tão jovem interessada em exercer o trabalho jornalístico de justiça e verdade, ainda mais no momento que estamos vivendo. Apontando para uma foto de Vladmir Herzog ela, disse “nós devemos sempre nos lembrar dele, devemos ser resistência aos que ameaçam nosso trabalho, que é mostrar a verdade”.
Ao compartilharem suas experiências, cada um mostrou os altos e baixos de trabalhar com investigação. As dificuldades mais simples como a falta de investimento, até os problemas mais difíceis de lidar, como as ameaças. Muitas vezes o jornalismo investigativo mostra o que querem que seja oculto da sociedade.
Para Breiller, o jornalismo investigativo serve para gerar impacto na sociedade e também dar voz aos que não têm. E para conseguir boas matérias deve-se ter uma capacidade de desconfiar e ter um olhar crítico em situações comuns.
Não é uma tarefa fácil, principalmente por saber que um erro pode causar um problema muito grande na vida de alguém, então deve-se sempre ir atrás da verdade. E não se pode publicar algo que ainda é duvidoso.
Paloma diz ter lido cerca de duas mil páginas sobre um caso antes de ir à entrevista com sua fonte, pois é de extrema importância conhecer o assunto para poder informar corretamente a população.
Ao serem questionados sobre como eles lidam com situações de ameaças, principalmente no Brasil, um país reconhecido por ser um dos mais perigosos para jornalistas. Thais contou sobre as diversas vezes em que passou por situações delicadas e afirmou. “Nesses momentos precisamos dar um passo atrás para depois darmos dois passos à frente. Muitas vezes é necessário abrir mão, sua vida está em jogo, mas depois você vai lá e responde com o seu melhor trabalho”.
De forma descontraída, Yago Salles brincou “a gente foge, eu por exemplo fugi”. Tentando mostrar que nem sempre será um trabalho fácil. Mas com tantas dificuldades, todos afirmam que o jornalismo é uma profissão muito gratificante e necessária, principalmente nesse momento de grande ameaça à profissão.
O evento foi encerrado com os agradecimentos de Patrícia Paixão e com um sorteio de livros para incentivar os estudantes que participaram do encontro. “É uma honra ter esse auditório lotado, nesse ambiente de memória a Vladmir Herzog, não podemos esquecer nossa história”, finalizou Cadu Bazilevskii, que faz parte da diretoria do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.