Por Victória Gearini – Fala!MACK
Série divide opiniões pelo mundo e produtores defendem sua criação
A série 13 Reasons Why foi a grande aposta de lançamento da Netflix em 2017. Em maio deste ano, a segunda temporada estreou na plataforma e dividiu opiniões a respeito do se conteúdo. A série ficou famosa por abranger assuntos considerados tabus pela sociedade.
A primeira temporada conta a história de Hannah Baker, uma jovem americana de 17 anos, que depois de inúmeros casos de bullying, se suicida. Na segunda temporada, o objetivo é mostrar as consequências após seu ato e o julgamento dos culpados.
Cenas de abuso sexual, uso de drogas e suicídio são mostrados explicitamente, o que gerou repercussão. Cerca de 81% dos entrevistados pelo Fala! acreditam que a série não é adequada para todo o público e que pode ser um gatilho negativo, mas 60% concordam que as cenas explicitas de violência são necessárias.
Opiniões do público
O estudante de jornalismo, Matheus Braga, 20 anos, acredita que as cenas fortes são importantes e que devem impactar o público, pois mostram a realidade. Já a estudante de publicidade e propaganda, Sofia Frutuoso, 20 anos, não concorda. “O estupro é um assunto que deve ser tratado, inclusive o masculino, mas passar a cena daquele jeito, na minha concepção foi completamente desnecessário”, disse ela.
A auxiliar de compras, Giovanna Maeno, 18 anos, afirma que as cenas do estupro masculino são necessárias para mostrar que isso não acontece somente com as mulheres. Além disso, ela achou interessante mostrarem o lado das vitimas que se revoltam e procuram vingança. No entanto, a jovem ressalta o controle do público. “Por mais que eu concorde que a série deve mostrar essas coisas, acho que quem tem problemas psicológicos ou emocionais não devem assisti-la”, disse ela.
O estudante de jornalismo, Samuel Soares, 18 anos, comenta a sua visão sobre o papel social da trama. “Na minha visão ela alerta como as ações de qualquer um podem ter influência direta na vida de outro ser humano. Tem esse lado de uma necessidade de mudança na postura da sociedade”, disse ele.
A também estudante de jornalismo, Nathalia Lopes, 18 anos, acredita que o intuito da primeira temporada era bom, mas que na continuidade da trama se perdeu no conteúdo. “Na segunda temporada parece que eles tinham que inventar história para fazer série. O final de tentativa de tiroteio parece que eles meio que querem heroizar o Clay, que é sempre responsável por resolver tudo”, comenta a estudante.
Tentando entender os porquês
Para explicar a repercussão da série, a Netflix lançou o documentário 13 Reasons Why: Tentando entender os porquês. Nele o elenco e a produção defendem os propósitos da obra e discutem o fenômeno do suicídio que atinge todos os gêneros e classes sociais.
A série conta com a participação da cantora e atriz Selena Gomez que trabalhou como produtora executiva. “Quisemos fazer de um jeito que fosse honesto e fazer uma coisa que pudesse ajudar as pessoas, porque o suicídio nunca deveria ser uma opção”, disse ela.
A trama foi baseada no livro de Jasher Asher, lançado em 2007. O autor afirma que o suicídio é um assunto importante a ser tratado, ainda mais entre os jovens, onde os casos são maiores. “A questão do suicídio é um assunto desconfortável, mas ele acontece, então precisamos falar disto e é perigoso não falar, porque sempre há espaço para ajuda”, conta Asher no documentário.
O criador da série Brian Yorkey, em entrevista divulgada pelo site Vulture, afirmou que o intuito da segunda temporada era iniciar um debate sobre violência sexual contra homens nas escolas norte-americanas. “Quando falamos que algo é ‘repugnante’ ou difícil de assistir, muitas vezes isso significa que estamos atribuindo vergonha à experiência”, defende Yorkey se referindo a cena de estupro envolvendo o personagem Tyler.
Depoimentos pessoais
“Eu não consegui dar continuidade a segunda temporada, por ter sofrido uma violência sexual que simplesmente me bloqueou. Se eu não tivesse acompanhamento psicológico, bem provável que se eu continuasse assistindo poderia ter uma síndrome do pânico a qualquer momento. Acho que vai de cada pessoa. Para quem não tem nenhum problema psicológico serve de alerta, mas caso contrário é perigoso, porque pode gerar diversos transtornos.” – Mariana Ferrari, 22 anos, jornalista.
“Quando a série foi lançada, recebi uma mensagem de uma colega dizendo que ela já tinha ideias para se matar. Hoje em dia, com tratamento psicológico, ela não pensa mais assim, e não indica a série para ninguém que tenha a cabeça como ela tinha. Eu sofro de ansiedade, já sofri bullying e tive depressão, mas nunca pensei em me matar ou algo do tipo. Entendo o que a série quer passar, mas ao mesmo tempo tem casos como o que falei, de gente que não tem a cabeça para isso.” – Stephanie Bianqueti, 19 anos, estudante de biomedicina.
“Eu tenho depressão, inclusive cheguei a cogitar o suicídio e fiz uma leve tentativa. A série é importante para auxiliar as pessoas a não deixarem as coisas chegarem numa crise. Concordo que as reações à série possam ser adversas, mas comecei a pensar que estava doente por causa dela. Me identificava bastante antes mesmo de ser diagnosticada com depressão. Qualquer coisa para quem está numa crise é ruim, mas a série orienta a não chegar a tal nível. Ajuda também psicólogos e psiquiatras, para fazerem o trabalho deles de forma visível e com a notável importância que tem.” – B.S., 21 anos, estudante de letras.
Pesquisa do Fala!
Durante a pesquisa desenvolvida para o portal, cerca de 24 jovens entre 18 anos a 22 anos comentaram seus pontos de vista sobre 13 Reasons Why. Com a pesquisa, é interessante notar que cada entrevistado absorveu a série de uma forma diferente e todos demostraram interesse em contar suas experiencias pessoais adquiridas a partir do tema. Dados da pesquisa:
- 81% não consideram a série boa influencia a qualquer pessoa;
- 54% acham que ela pode influenciar o indivíduo a fazer algo ruim;
- 60% consideram as cenas de violência explicita importantes para impactar;
- 67% concordam que não mostrar as cenas de estupro e suicídio é atribuir culpa e vergonha a experiencia da vítima.
Análise psicológica
O suicídio é a segunda maior causa de mortes no mundo, principalmente entre os jovens. Desde 2002, só no Brasil, essa taxa subiu de 5,1% para 5,6% para cada 100 mil habitantes, considerada uma porcentagem alta. A psicóloga, Cristina Gonçalves de Abrantes, 25 anos, explica que a mídia ainda trata como tabu falar sobre o assunto, mas que é importante trazer essa discussão para a sociedade. “As pessoas não falam. Se sentem mal. Acham pesado, mas é um tema que precisamos falar”, disse ela.
A psicóloga ressalta ainda a importância em diferenciar “ideação suicida” do “planejamento suicida”. No primeiro caso, a pessoa já pensou em se matar e no segundo ela já planejou sua morte, ou já passou pela tentativa efetiva do ato. Ela explica que o tratamento psicológico em ambas situações exige acompanhamento de profissionais e lembra que o apoio de familiares e amigos é de extrema importância durante o processo de recuperação do paciente.