Por Beatriz Abrantes – Fala!MACK
O mês do Ramadã é o mês mais importante para a comunidade muçulmana por todo o mundo, já que foi o mês em que o Alcorão foi revelado ao profeta Maomé. Para eles, a festa é tão grande que pode ser comparada ao natal, pela união que envolve a comunidade islâmica, com banquetes e celebração entre famílias e amigos. Além de tudo isso, há o ritual mais famoso, o jejum.
“O Ramadã é um curso espiritual anual em que um muçulmano aprende muitos benefícios. Além do jejum, não só da comida e da bebida, mas o jejuador também deveria ter outro tipo de jejum, que é o jejum dos sentidos. Ter controle da língua, fazer jejum da visão e da audição, todos esses sentidos também, ele tem que estar em jejum. Então é um curso purificador, um curso espiritual que educa o ser humano, além dos benefícios físicos”, conta o Sheikh da Mesquita de Santo Amaro, Sheikh Mohamed Al Bukai.
Para aqueles que desconhecem, um Sheik é um estudioso islâmico que trabalha como um orientador para a comunidade islâmica, fazendo sermões, orações diárias, casamentos, e também tiram dúvidas sobre a religião, ou seja, é uma referência dentro da comunidade.
O jejum é uma prática que dura o mês todo, permitindo os fiéis a se alimentarem e beberem antes do primeiro raio de sol e depois do último raio de sol, ou seja, durante o dia não se pode comer e nem beber absolutamente nada. O ritual do Ramadã inicia-se quando se atinge a puberdade, trazendo consigo a obrigação das práticas do mês. As únicas pessoas que são desviadas dessa função são os idosos, mulheres que estão amamentando, aqueles que possuem alguma doença, ou viajantes.
É importante ressaltar que, para os muçulmanos, o calendários deles é lunar, enquanto o nosso, solar. A cada ano que passa, o mês de ramadã abrange diferentes dias do nosso calendário, mas nos últimos anos, tem se aproximado entre os meses de maio e junho. “Esse ano o ramadã começou dia 17 de maio. Provavelmente, o ano que vem, vai começar 07 de maio. Então, todo ano, começa dez dias antes, por isso passa por todas as estações do ano. A cada trinta anos faz um círculo completo. Aí passa por todos os meses do calendário solar”, revela o Sheik Al Bukai.
Contudo, a comunidade islâmica oferece auxílio aos jejuadores, como a quebra de jejum, que ocorre todos os dias em qualquer mesquita de São Paulo. Inicialmente fazem uma oração e depois quebram o jejum com água e tâmaras, os alimentos recomendados pela Sura, uma extensão do Alcorão com uma série de práticas indicadas para os fiéis.
Após a quebra de jejum, os islâmicos se dirigem ao jantar, chamado de Iftar, em que um verdadeiro banquete é servido, com direito a sopas de entrada e até sobremesa. Não surpreende a quantidade de comida que lhes é servida, afinal, são diversas pessoas que passaram o dia inteiro sem comer.
Ana Paula Matos Cestaro, 28, é muçulmana há dois anos e frequenta o Iftar todos os dias na Mesquita de Santo Amaro. Ao contrário do que se pode esperar, ela não possui problemas para fazer o jejum diariamente, assim como a maioria dos muçulmanos. “Tem momentos do meu dia que eu sinto um pouco de fome, sinto uma dor de cabeça, mas não é uma coisa que me atrapalha, que eu veja como negativa. Meu dia a dia é muito corrido, então eu acabo nem sentindo falta de comer. Além disso, eu me preparo muito psicologicamente. Então chega o ramadã, eu não fico com fome”.
As mesquitas não são instituições lucrativas, então toda a comida que é disponibilizada vem por meio de doações ou entidades muçulmanas. “70% vêm através de doações da própria comunidade aqui, pessoas que fazer parte da comunidade e acaba ajudando pra manter e suscitar a quebra do jejum no ramadã. E tem uma pequena parte que vem através das comunidades fora do Brasil, que tem algumas entidades beneficentes que acabam ajudando essa despesa. A maioria vem daqui mesmo, da comunidade islâmica de São Paulo”, conta Sheikh Al Bukhai.
Para os muçulmanos, a compensação espiritual durante o Ramadã é tamanha que deixar de comer é a melhor forma de retribuir a essa sensação calorosa que Deus, ou Allah, lhes transmite. “É uma época que a gente ta abrindo mão do sustento que Deus deu pra gente. Então, quando eu faço isso a intenção, a gente dá prioridade pra outras coisas, como deixar as coisas mundanas. Por exemplo, a comida, uma coisa totalmente física, pra gente aumentar nossa proximidade com Deus”, diz Ana.
“A gente fica aguardando a chegada do mês do ramadã. É uma sensação maravilhosa. É uma experiência única que todos os anos a gente passa. É realmente uma grande divindade de Deus para nós”, conta o Sheikh, entusiasmado com a época de espiritualidade.