Os últimos 30 anos foram de grande expansão e acesso dos jovens e adultos à graduação. Neste período, houve o surgimento de diversos cursos de nível superior nas 3 esferas do conhecimento (Humanas, Exatas e Biológicas), a criação de diversos programas de bolsas universitárias e o surgimento de muitas universidades particulares. Além disso, neste período houve uma democratização do ensino superior por meio do surgimento da modalidade EaD.
O acesso à graduação ao mesmo tempo em que proporcionou aos jovens e adultos maiores e melhores condições para ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo levou ainda ao surgimento de problemas dos mais diversos, tais como: o excesso de profissionais formados (enquanto que ainda há um déficit de profissionais em outras áreas), a questão da credibilidade do curso e da instituição que o oferta e a questão da formação dos docentes.
Nos últimos 10 anos, porém, o acesso às vagas no mercado de trabalho tornou-se cada vez mais difícil. Vários são os motivos: o excesso de profissionais, as dificuldades da legislação, o impacto das crises (econômica, financeira, política e, por fim, a crise de saúde proporcionada pelo COVID-19), as mudanças na dinâmica do mercado que busca novos profissionais com novas competências para atender as necessidades de um novo público, os golpes dos falsos empregos.
O fato é que a simples graduação deixou de ser um atrativo de muitas empresas na busca de um candidato para o seu quadro de funcionários. Cada vez é preciso alinhar os discursos entre a prática e a formação com os discursos de necessidade do mercado.
Graduação: Emprego garantido?
Antigamente, os mais velhos falavam aos jovens: “Faça uma faculdade e você terá emprego garantido”. Hoje esta frase não é mais verdadeira. Não há garantias de que uma formação universitária trará um emprego a um jovem ou adulto. Com raríssimas exceções é possível afirmar isso.
Uma graduação, hoje, é tida como a conclusão de um Ensino Médio. Ou seja, é algo obrigatório.
Entretanto, reforço que, concluir uma graduação não é garantia de emprego. Aliás, para muitas áreas e setores, uma graduação não faz a menor diferença. E não me refiro apenas a cargos mais básicos, porém dignos em sua importância, como os ajudantes, ASG, motoristas, etc. A dinâmica do mercado levou ao surgimento de novos cargos que não requerem muitos estudos ou que ainda podem ser feitos sem a necessidade de uma graduação.
Com isso, o sonho de muitos jovens não está mais na conclusão de um curso de nível superior. Para muitos, o sonho está ambientado no desenvolvimento de negócios bem sucedidos e multimilionários, seguindo o exemplo de nomes que se originaram na região do Vale do Silício, tais como Steve Jobs, Bill Gates e muitos outros. Ou os modelos brasileiros espalhados pelas mídias sociais, entre as quais destacam-se o Instagram e o YouTube.
Recentemente, foi lançada a discussão em torno da necessidade de se concluir uma graduação. E a grande verdade é que apesar de importante, a graduação não é mais o único fator que pode garantir um emprego. A graduação enfatiza apenas parte da formação necessária. A ênfase atual está no desenvolvimento de habilidades relacionais e tecnológicas, as quais muitas das vezes não requerem formação universitária.
A revolução dos cursos técnicos
Nos últimos 10 anos os cursos técnicos ganharam grande relevância perante o mercado de trabalho. Entre os principais fatores destacam-se: um menor tempo para formação, especificidade do curso, necessidade e demanda do mercado e a credibilidade histórica que tais cursos possuem ante o mercado.
Os cursos técnicos, porém, não substituem por completo uma formação universitária. No entanto, são grandes aliados dos jovens principalmente para que estes venham a ocupar maior destaque.
A graduação perde cada vez mais espaço para a formação técnica e não deve parar por aí.
O que fazer diante desse cenário? Devemos abandonar a graduação? Com certeza não. Profissões como médicos, advogados, dentistas, psicólogos, engenheiros, contadores ainda requerem formação universitária adequada para o exercício da profissão. Novamente, porém, preciso afirmar que o simples fato da graduação não garantirá o emprego. É preciso somar a formação com a oportunidade certa.
Em outras áreas, como por exemplo: vendas, youtubers, influencers, motoristas, redatores, fotógrafos, não requerem graduação. No entanto, é fato que uma graduação pode ajudar em todos estes casos na busca de outras oportunidades que possam vir a surgir.
O que fazer diante do cenário proposto?
Nunca deixe de estudar. Mesmo graduado, é preciso continuar estudando e se dedicando em aprender novos conhecimentos que poderão ser muito úteis. A graduação, aliás, é muito mais do que apenas ensino e pesquisa. É um ambiente propício para a geração de networking, criação e desenvolvimento de soluções inovadoras para o mercado, um ambiente de ampla interação social e econômica.
Um bom conselho que se pode dar a quem está pensando em uma graduação é: escolha uma área na qual você tenha afinidade e na qual você possa alinhar seus objetivos de vida. Faça pesquisas sobre os cursos, estude o mercado, converse com pessoas que têm formação na área e tome uma decisão. No entanto, jamais deixe de estudar e de aprender.
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Por Letícia Ferreira Soares Azevedo – Fala! Universidade Federal do Amazonas