Um relacionamento abusivo ocorre quando uma pessoa se aproveita da fragilidade e vulnerabilidade do parceiro. Essa relação tóxica refere-se quando um dos lados torna-se impedido de responder em questões de igualdade, frente a agressões, intimidações e até mesmo chantagens. Esse tipo de relacionamento se configura no momento em que uma das partes toma posição de poder para controlar a outra, não necessariamente se sustentando em violências, mas é colocado juntamente com a desqualificação e a manipulação.
Os abusos em decorrência de um relacionamento tóxico, em praticamente todos os casos, acaba deixando marcas profundas nas pessoas. Tanto as torturas emocionais quanto psicológicas, geram traumas sérios, mesmo após a relação, podendo interferir desde o ponto de vista comportamental até na própria saúde física, emocional e sexual da vítima. Essa questão não está relacionada ou limitada a um gênero, podendo ser praticada pelo homem ou pela mulher. Porém, levando em consideração das estatísticas e do machismo presente em nossa estrutura social, a vítima é, geralmente, do sexo feminino.
Quais as marcas deixadas por um relacionamento abusivo?
Problemas na autoestima
Em uma entrevista com a psicóloga Dra. Cintia Barbosa, que produz conteúdos a respeito do tema relacionamento abusivo, ela nos conta que ser ou ter sido a vítima de relacionamentos dessa forma pode deixar grandes marcas na autoestima de uma pessoa, prejudicando o seu senso de merecimento em todas as esferas de sua vida; assim que a vítima estiver muito fragilizada e já afastada das pessoas que poderiam ser uma rede de apoio, ela vai se sentir cada vez mais dependente do abusador e é completamente dominada por ele.
Dentre essa situação, muitas mulheres saem de relações tóxicas com a autoestima extremamente abalada, na maioria das vezes, por se sentirem insuficientes e pelos traumas gerados de comentários ofensivos do ex-parceiro. Assim relata *Maria, que infelizmente passou por essa experiência e segue afetada até os dias de hoje, mesmo não estando mais em uma relação com o abusador:
Hoje em dia, estou transtornada com o meu corpo. Em meu primeiro relacionamento saí tão magra e desnutrida que eu ouvia comentários desnecessários que me afetaram, vindos do meu próprio ex. Eu era julgada pelas roupas que eu usava, pois não coincidia com o padrão de corpo que eu tinha. Em outro relacionamento, na minha opinião, saí mais gorda. Eu olhava para o espelho e não gostava de mim.
A violência psicológica
A violência psicológica é tão grave quanto a física, no entanto, na maioria das vezes, ela é ignorada e vista como um sinal de “fraqueza” da vítima. A psicóloga afirma que como consequência após o término de uma relação abusiva, a saúde emocional da vítima pode ser comprometida dependendo do tempo e da intensidade desse relacionamento, podendo apresentar sintomas de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e do sono. A pessoa que sai de uma relação dessa forma, além de uma saúde mental totalmente fragilizada, se torna insegura, incapaz e isolada emocionalmente, assim como uma das situações que ocorreu na vida de *Maria:
Eu saí desse relacionamento com o meu psicológico destruído, ansiedade e depressão. Nada me fazia ficar bem. Adoeci psicologicamente e hoje sou a pessoa mais insegura que eu conheço. Atrasei todos os meus estudos, fui me destruindo aos poucos, até o ponto de eu não confiar em mais ninguém. Sou a pessoa mais isolada que existe emocionalmente. Quando alguém me elogia, eu não consigo acreditar, eu não consigo mais entrar em um relacionamento saudável.
Saúde física
A saúde física ainda é muito afetada no público feminino (impactando no aumento dos casos de feminicídio), podendo deixar sequelas após uma relação tóxica. Mulheres vítimas desses relacionamentos desenvolvem fobias, medos constantes, traumas, sintomas como dores crônicas e até alterações hormonais, consecutivos dos casos de violência doméstica e agressão física. Além disso, os filhos também são impactados, podendo sofrer violência física ou psicológica por parte do abusador, trazendo consequências pro resto da vida deles.
Questões comportamentais
Do ponto de vista comportamental, as vítimas de um relacionamento abusivo após a separação podem passar a ter consumos abusivos de álcool, drogas ou medicamentos para o controle da ansiedade. Provavelmente, você já deve ter ouvido alguém dizer que iria beber para esquecer aquela pessoa, ou até mesmo se drogar. A questão é que a vítima saii do relacionamento tão abalada, que não enxerga o fato de ainda ser dependente emocionalmente do abusador, ao chegar a esse ponto. Além do mais, algumas vítimas podem ficar vulneráveis, desejando colocar rapidamente outra pessoa no lugar e podendo cometer uma repetição de um padrão, dessa forma, correndo o risco de se envolver em outro relacionamento abusivo.
Ainda abordando sobre a perspectiva comportamental, por outro lado, como se sai o abusador após a relação tóxica? Será que ele consegue impactar a vida da vítima com ações propositais, mesmo após a separação? Aposto que você já tenha visto muitos casos da não aceitação de um término em um relacionamento abusivo por parte do abusador. Nesse caso, sempre há a ocorrência de chantagens ou até mesmo de perseguição. O abusador que não consegue aceitar o fim de um relacionamento pode fazer de tudo para ter a vítima de volta ou tentar estragar a vida dela e, infelizmente, assim ocasionam alguns casos de homicídio.
Como vítima de uma união extremamente tóxica, *Marcio nos relata o quão sofria com as perseguições de sua ex-namorada após o término do relacionamento, que segundo ele, perseguia-o constantemente e provocava chantagens:
Após o término do nosso namoro, ela começou a me perseguir. Vivia atrás de mim e tentava voltar comigo de todas as maneiras possíveis, até o ponto de realizar algumas chantagens. Além disso, quis causar intrigas aos meus pais para que me privassem de sair de casa.
Voltar a viver normalmente após uma relação abusiva pode se tornar um grande desafio, pois quando a vítima está acostumada a conviver na presença de um parceiro tóxico, é normal que ela demore alguns meses para se ambientar com uma nova realidade. Sendo assim, é questão de tempo e de prática diária sentir-se bem consigo mesmo.
O importante é não ter medo e nem vergonha de procurar ajuda, mesmo não estando mais nesse relacionamento. O bem-estar e a saúde mental vem em primeiro lugar. Grupos de autoajuda podem ser uma ótima opção para compartilhar sua experiência e conhecer indivíduos que passaram pela mesma situação, ajudando uns aos outros. A ajuda profissional em questões emocionais é totalmente bem-vinda. A ajuda de um psicólogo é essencial para a superação dos traumas, isso fará com que a vítima possa libertar-se das amarras de seu estado emocional. Embora a mistura de sentimentos de raiva e rancor sejam compreensíveis após o término, é importante não se deixar levar por eles, pois isso não ajudará em nada ao seguir em frente após um relacionamento abusivo.
*Maria e *Marcio são nomes fictícios.
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Por Ananda Miranda – Fala! Cásper