Protegendo-se dentro de uma Igreja devido a um bombardeio militar do Azerbaijão, um homem idoso armênio ora desesperado: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Pois é teu Reino o poder e a glória, Amém”. A cena capturada pela imprensa da BBC News revela as consequências de um conflito que perdurou por 3 décadas: a guerra entre Armênia e Azerbaijão sobre o controle da região lucrativa e estratégica de Nagorno-Karabakh.
Guerra entre Armênia e Azerbaijão
A origem do conflito, o qual se estendeu durante décadas, resume-se à história da relação desses países com a extinta União Soviética. Ambos faziam parte desse extenso bloco e eram antes conhecidos como Transcaucásia, nome dado para essa região que liga a Rússia ao norte do Oriente Médio. Desde aquela época, uma evidência já se destacava para essa fusão: ambos os países possuíam religiões totalmente distintas, sendo a Armênia de predominância cristã e o Azerbaijão, de islâmica.
Com o fim do antigo ajuntamento comunista na década de 1980, as tensões se agravaram ainda mais entre as duas regiões, agora independentes de Moscou. A questão da região de Naborno-Karabakh foi logo em seguida discutida em seu próprio Parlamento e obteve como resultado o desejo por uma anexação com a Armênia (apesar de toda aquela área ficar no país rival vizinho), fato não aceito pelo Azerbaijão.
Outros fatores para o conflito
Porém, a questão religiosa não é o fator predominante para o entrave dessa longa e penosa guerra no Oriente Médio. A região de Naborno-Karabakh oferece como produto mais valioso, o petróleo, o qual não se limita a ser vendido apenas dentro de seu próprio continente, mas sua aquisição se estende pela Europa também. Essa zona de tensão é preciosa tanto pelos azeris, quanto pelos armênios, por comportar-se como uma passagem para gás e outros produtos importantes pelo Mar Cáspio, levando os insumos para os mercados mundiais. O Azerbaijão funciona como uma espécie de artéria essencial que leva tais produtos para um importante aliado, a Turquia, e para demais países europeus. A dominação de uma área tão importante como essa traçaria os rumos econômicos da região que a possuir, e um relato coletado de um padre armênio pelos supracitados jornalistas da BBC reafirma tal situação:
Não é uma guerra sobre ou por Karabakh. É uma guerra que se tornou uma competição entre Turquia e Rússia […] quem vai ditar as regras no Cáucaso Sul.
A luta pela conquista da farta região levou a milhares de desabrigados durante todos esses anos de embate. Tais ataques atingiram o pior nível em 2020, desde a década de 1990, quando estima-se que cerca de 30 mil pessoas perderam suas vidas. Um acordo de paz nunca havia sido firmado e os bombardeios se mantiveram de forma esporádica ao longo do conflito.
Finalmente, por conta de uma pressão estabelecida pela comunidade internacional, a qual acompanhou a trajetória dessas calamidades, no dia 10 de novembro de 2020, um acordo que estabelecia a rendição de ambos os oponentes foi tramado. Sob a mediação da Rússia, o presidente do Azerbaijão e o primeiro-ministro da Armênia assinaram então esse documento histórico que cessou o confronto militar e abriu novas oportunidades para o processo de construção da paz na região.
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Por Letícia Souza Iervolino – Fala! Cásper