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Ministério da Saúde distribuiu mais de 7 milhões de comprimidos de cloroquina

Desse total de comprimidos de cloroquina, mais de 6 milhões foram destinados ao tratamento da Covid-19. Veja também os gastos do Ministério da Saúde em campanhas com influenciadores digitais sobre o coronavírus

Desde o ano passado, quando a OMS declarou que estávamos vivendo uma pandemia causada pelo novo coronavírus, o mundo inteiro se mobilizou para descobrir remédios que pudessem auxiliar no tratamento da doença. Um dos candidatos foi a cloroquina, medicamento usado no tratamento e profilaxia de malária.

O remédio chegou a ser defendido por médicos e até mesmo governantes, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que já fez propaganda da cloroquina no Palácio da Alvorada e mobilizou pelo menos cinco ministérios, uma estatal, dois conselhos da área econômica, Exército e Aeronáutica para difundir o remédio por todo País.

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Ministério da Saúde distribuiu mais de 7 milhões de comprimidos de cloroquina em 2020. | Foto: Fernando Moreno/ AGIF via AFP.

Cloroquina e sua propagação

Quando Bolsonaro virou propagandista da cloroquina, já se sabia que o fármaco possuía o status de medicamento sem eficácia comprovada, o que significava que não existia ainda provas empíricas de que funcionava para o tratamento. Hoje, o uso da hidroxicloroquina para Covid-19 já possui o selo de ineficácia comprovada, tendo em vista o grande número de estudos que demonstram seu fracasso no combate à doença.

Não só se descobriu a ineficácia, como também concluiu-se que o remédio pode fazer mal à saúde quando usado para tratar casos de Covid. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostrou que a cloroquina provoca danos às células endoteliais, presentes em todos os vasos sanguíneos do corpo humano. Outras pesquisas já mostraram que a mortalidade nos casos graves de coronavírus está relacionada à lesão celular endotelial, de modo que a cloroquina, na verdade, pode piorar a infecção viral.

“Se por um lado, a cloroquina pode diminuir a replicação viral, por outro promove uma citotoxicidade que pode potencializar a infecção viral”, afirma Paulo Cézar Gregório, que conduziu a pesquisa durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR.

A grande quantidade de estudos não foi o suficiente para parar o endosso ao medicamento por parte de Bolsonaro e até mesmo de uma instituição como o Ministério da Saúde, que corresponde ao setor governamental responsável pela administração e manutenção da saúde pública do País. Em 2020, o órgão chegou a distribuir 7.683.700 comprimidos de cloroquina aos estados. Desse total, apenas 1.508.000 comprimidos foram destinados ao tratamento da malária e o restante, 6.175.700, para o tratamento da Covid-19.

Veja a distribuição do medicamento para o tratamento do novo coronavírus por estado:

Campanha com influenciadores

O Fiquem Sabendo, agência de dados especializada no acesso à informação, divulgou, no início deste mês, que o Ministério da Saúde gastou ao menos R$1,3 milhão em campanhas com influenciadores digitais sobre o coronavírus. Esse montante inclui gastos com o cachê dos influenciadores, com agências de marketing e conteúdo. Os temas da campanha foram as medidas de prevenção, o TeleSUS e o desenvolvimento infantil.

A primeira fase custou R$400 mil. Desse total, R$18 mil foram pagos a cinco influenciadores: Estevam pelo mundo (R$6 mil), Prof. Paulo Jubilut (R$4 mil), Nerd Show (R$5 mil), Vovó de seis (R$2 mil) e Vovó Janete (R$1 mil).

A segunda etapa foi a que teve gastos mais elevados com o cachê dos influenciadores. De um total de R$500 destinados à divulgação do TeleSUS, iniciativa que tem o objetivo de disponibilizar um serviço de atendimento pré-clínico de saúde, prestando esclarecimentos sobre a doença e quando a pessoa deve procurar atendimento presencial, R$31,5 mil foram pagos para Nanda Caroll (R$5 mil), Camila Loures (R$7,5 mil), Henrique e Diego (R$3 mil), Igão (R$6 mil) e Flávia Viana (R$10 mil).

Por fim, dos 400 mil reais gastos na última etapa, R$16,4 mil foram para os cachês de Shantal (R$8 mil), Thalia Rodrigues (R$2 mil), Priscila Brenner (R$1,4 mil), Talita Ramos (R$3 mil) e Jessika Taynara (R$2 mil).

Segundo apurou o Repórter Brasil, até o início de dezembro de 2020 o Ministério da Saúde, sob o comando do ministro Eduardo Pazuello, gastou ao menos R$88 milhões em propagandas ligadas à Covid-19. Os conteúdos das propagandas giram em torno dos feitos do governo, da reabertura do comércio e até da força do agronegócio.

Ao Repórter Brasil, o médico José David Urbaez, da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que “O que temos visto nas propagandas é assustador. É o negacionismo como política pública, porque diminui o tamanho do problema. Não deixa claro para a população que estamos em uma pandemia e que isso é grave”.

Segundo a matéria, o valor gasto na gestão de Pazuello foi mais alto que o gasto nas gestões anteriores, com Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. No total, o Ministério já gastou R$162,4 milhões em publicidade com temas ligados à pandemia.

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Por Carlos Magno Pinheiro Barreto Junior – Fala! UFBA

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