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Opinião: Por que políticos insistem no uso da cloroquina?

Apesar da falta de uma eficácia comprovada, a cloroquina é a principal munição adotada por uma série de políticos do mundo inteiro na guerra contra o coronavírus. No Brasil, além do debate medicinal, o remédio ganhou ideologia: se você é contra, é ptista; se é a favor, bolsonarista. Mas se o efeito ainda não se mostrou efetivo, por que políticos insistem no uso da cloroquina? A verdade é que não é a primeira vez que um medicamento ganha status de “arma política”.

O ano era 2016 quando o então deputado federal Jair Bolsonaro subia ao palanque da Câmara dos Deputados, em Brasília, para defender a fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer”. O remédio, também sem nenhuma eficácia comprovada cientificamente contra a doença, era defendido veementemente como “milagroso” pelo grupo de 26 deputados que subscreveram o projeto que autorizava a produção, importação, distribuição e prescrição do medicamento.

Apesar da aprovação na Câmara e no Senado e da sanção da então Presidente Dilma Roussef, a legislação foi suspensa por medida cautelar pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que alegou não haver registro da substância na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dentre outras normas.

Hidroxicloroquina
Hidroxicloroquina. | Foto: Reprodução.

A cloroquina é eficaz contra o coronavírus?

Hoje, a história se repete com a cloroquina e a hidroxicloroquina. Encabeçados pelo presidente americano Donald Trump, que chegou a tomar o remédio de forma preventiva contra recomendação do seu próprio governo, muitos políticos veem na cloroquina a saída para a guerra contra a Covid-19.

Ainda que sem nenhum respaldo científico, o que acontece é uma grande aposta, tanto que o laboratório do Exército Brasileiro, a mando do presidente Jair Bolsonaro, já gastou mais de 1,5 milhão para ampliar a produção do fármaco.

Além da produção do Exército, grandes empresas têm lucrado cada vez mais com a informação de que a cloroquina é boa contra o coronavírus, como é o caso da Apsen, que produz o remédio. O presidente da empresa, Renato Spalicci, é um grande entusiasta do bolsonarismo nas redes sociais e colocou em prática, segundo a revista Exame, um plano emergencial para triplicar a produção do Reuquinol, marca da cloroquina, com turnos extras nos fins de semana.

Para o microbiologista Átila Iamarino, há um consenso científico entre quase todos os países do mundo onde se diz que a cloroquina e a hidroxicloroquina não garantem para ninguém a chance de sair da guerra contra o coronavírus.

“O que qualquer país que está lidando melhor com a Covid está fazendo, que de fato protege as pessoas e permite retomar atividade econômica, é isolamento e testar as pessoas. Mas não tem um tratamento, até hoje, que, de fato, diminua o número de pessoas que precisam ser hospitalizadas”, disse o cientista para a CNN Brasil. “Só sabemos que a cloroquina é boa para a malária”, completou.

Nos Estados Unidos, na mesma semana em que a FDA, uma agência do governo estadunidense semelhante à Anvisa, revogou a autorização para que o fármaco fosse usado no tratamento da Covid-19, o presidente Donald Trump disse que os EUA continuarão enviando hidroxicloroquina ao Brasil: “Eles pediram, e nós vamos enviar. Não posso reclamar, eu tomei por duas semanas e aqui estamos”, afirmou.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a interrupção de uma análise que investigava a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina depois de um estudo publicado pela The Lancet, famosa revista científica, que concluía que os medicamentos não são eficazes para o tratamento da Covid-19, além de aumentar o risco de morte.

Porém, a história ganhou um novo capítulo quando a própria The Lancet publicou uma retratação onde dizia que não podia garantir a veracidade das fontes dos dados do estudo, o que levou a OMS a retomar os estudos com os medicamentos. Mas, até agora, ainda não existe nenhum estudo que comprove a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a Covid-19.

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Por Pedro Guimarães – Fala! UFRJ

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