Em 6 de agosto de 1945, um bombardeiro B-29 realizado pelos EUA, chamado de Enola Gay, despejou uma bomba de urânio sobre a cidade de Hiroshima, no Japão. Num contexto de conflitos e corrida armamentista, a Segunda Guerra Mundial teve consequências absurdamente trágicas, como a morte de mais de 140 mil pessoas, por conta desse bombardeio.
A obra Hiroshima, de John Hersey, foi publicada em 1946 pela editora Alfred A. Knopf e retrata os efeitos causados em diversos setores no local pelo ataque realizado.
O livro conta a história dos hibakushas, denominação que os japoneses davam aos sobreviventes à bomba e dá destaque a seis histórias principais. Seis pessoas diferentes, com vivências distintas sobre um mesmo fato.
O livro Hiroshima
Hiroshima é dividido em cinco partes.
Um clarão silencioso é o primeiro capítulo. Nele, o autor traça um panorama dos seis hibakushas que são o foco da obra para contar esse acontecimento. John Hersey apresenta características de cada um deles. Nesse recorte, o leitor conhece as peculiaridades deles e o que estavam fazendo momentos antes da bomba explodir.
O momento da explosão é narrado de forma muito precisa e, ao ler, você é capaz de imaginar tudo o que aconteceu com exatidão.
O capítulo dois, O fogo, creio que é o mais agonizante. O autor mostra o que ocorreu logo após a explosão. O desespero, o desentendimento do que havia acontecido, o medo e a sobrevivência.
O autor intercala a situação das seis personagens diante de algo tão terrível e é impossível não sentir tristeza por tanta dor descrita nessas linhas (assim como o livro todo, mas esse capítulo descreve cenas mais pesadas).
Em Investigam-se os detalhes, o terceiro capítulo, o autor descreve o início da investigação do que havia acontecido. Nesse trecho, a população começa a confabular sobre o que aconteceu, qual o tipo de bomba utilizada, porque as pessoas estão passando tão mal e com manchas na pele, entre outras coisas do tipo.
No dia seguinte ao ataque, foi transmitido o primeiro comunicado sobre o ocorrido, através da rádio japonesa. O aviso falava que os detalhes ainda estavam em investigação, mas que provavelmente tinham sido alvo de um novo tipo de bomba. Os que sobreviveram até então, não tinham condições para processar o que aquele anúncio lhes contava. O restante do capítulo informa sobre os dias seguintes e como todos estavam se deslocando e sendo socorridos, aos poucos.
Flores sobre ruínas, o penúltimo capítulo, retrata as semanas após o ataque e o que as pessoas estavam fazendo para “melhorar” a situação ou para tentar seguir do melhor jeito que era possível.
Cerca de um mês seguinte à explosão, as plantas e flores cresciam sobre o desastre que havia ocorrido. O autor, ao longo da obra, demonstra a resiliência dos japoneses, diante de tantas coisas ruins e o seu sentimento de nobreza ao perceber que iam morrer em nome da pátria e do Imperador. O nome do capítulo se relaciona a essa forma de resistência e persistência do povo japonês.
Por mais que as flores tivessem crescido por Hiroshima, dentro de seus lares, as pessoas sofriam com os efeitos da radiação da bomba; nos hospitais, os médicos buscavam teorias para a doença e as renovavam a cada novo sintoma.
Com o tempo, os serviços voltaram ao normal e a estimativa do número de pessoas mortas, feridas e desaparecidas foi divulgado. Contudo, o governo japonês não apresentava esses números de forma oficial, ao contrário do governo americano…
O último capítulo, Depois da catástrofe, nos mostra como a vida de cada um dos seis sobreviventes seguiu ao longo de 40 anos. Todos eles enfrentaram dificuldades extremas, nos primeiros anos principalmente. Com o tempo, alguns conseguiram passar por cima dessas complicações, mas outros conviveram a vida toda com a doença causada pela radiação da bomba, o que as impedia de trabalhar muitas vezes (isso quando conseguiam emprego, porque o preconceito com hibakushas era notório).
A questão dos sobreviventes se tornou uma questão política em 1957, quando a Dieta finalmente aprovou a Lei de Assistência Médica às Vítimas da Bomba. Contudo, muitos só foram atrás desse direito depois de muito tempo.
Depois de anos, Hiroshima tinha mudado radicalmente; o autor cita “uma vistosa fênix emergira das ruínas de 1945: uma cidade extraordinariamente linda, com mais de 1 milhão de habitantes[…]”. O que talvez pode ter passado a sensação de que o ataque não ocorrera, até pela quantidade de hibakushas que restaram… todavia, esses sobreviventes sempre iriam carregar algo daquele terrível dia de agosto de 1945.
Hiroshima é um livro extremamente importante para a compreensão daquele momento histórico e para diversas áreas da comunicação, em especial, o Jornalismo. John Hersey implementa, nessa obra, os fundamentos do “New Journalism” e, com isso, o leitor consegue sentir empatia pelas pessoas que sofreram o ataque da bomba atômica. O autor mescla os fatos com uma narração incrível dos relatos dos sobreviventes.
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Por Manuela Montez do Rio – Fala! Cásper