Publicada em 1848, a obra A Inquilina de Wildfell Hall, de Anne Brontë, foi inicialmente assinada por um pseudônimo masculino, chamado Acton Bell. Essa foi uma estratégia usada por muitas outras escritoras em séculos passados, inclusive por suas irmãs, Emily (autora de O Morro dos Ventos Uivantes) e Charlotte (autora de Jane Eyre), para que seus livros fossem aceitos pelo público. Infelizmente, Anne não chegou a ver sua obra assinada com o próprio nome, pois, em 1849, a escritora faleceu.
Apesar de escrito em uma época longínqua, o romance trata de um tema muito atual: a opressão da sociedade patriarcal sob a mulher. Além da resiliência feminina que persevera de geração em geração. É através da personagem Helen Huntingdon, que Brontë representa as angústias dessa opressão, e é por intermédio de Arthur Huntingdon que a escritora reflete o marido abusivo do patriarcado.
No “Prefácio à Segunda Edição”, Anne é contundente em afirmar o objetivo de sua obra:
(…), se eu dissuadi um jovem impetuoso de seguir os passos dele, ou evitei que uma jovem irrefletida incorresse no mesmo erro natural de minha protagonista, o livro não foi escrito em vão.
Resenha de A Inquilina de Wildfell Hall
A Inquilina de Wildfell Hall é um romance epistolar, no qual possui uma narrativa dentro de outra narrativa. Além disso, o texto mistura dois tempos: presente e passado. A história começa com a produção de uma carta por um jovem fazendeiro, chamado Gilbert Markham. Nela, ele conta a seu amigo sobre o rebuliço da chegada de uma misteriosa dama com seu filho no vilarejo, a Sra. Graham. Além de narrar como ele foi se apaixonando por ela.
Mas, em meio a inúmeras fofocas a seu respeito, Helen Graham decide mostrar para Gilbert toda circunstância que a levou até ali, e então o confidencia seu diário. A partir daí, a narrativa volta no tempo e passa a ser contada pelas recordações de Helen sobre os conflitos com seu marido alcoólatra, Arthur Huntingdon. Terminado o relato, o texto volta para o presente, onde o Sr. Markham narra o desfecho da história.
O diário de Helen é uma denúncia. É através dele que Brontë dá voz a muitas mulheres e escancara os abusos que elas sofrem dentro de suas próprias casas. Durante o confinamento causado pela pandemia da Covid-19, uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aponta que, só em São Paulo, os atendimentos de violência doméstica pela Polícia Militar cresceram cerca de 44,9%.
O abuso psicológico que Helen sofria de Arthur Huntingdon era constante. A história de um marido chegar em casa bêbado e culpar a esposa por todos os seus infortúnios, não parece algo do passado, não é mesmo?
E mesmo quando elas buscam se livrar de uma vida infeliz, sobrevivendo de seu próprio trabalho, os agressores as privam de mais um direito. Helen, que possuía grande habilidade em pintura, buscou a alternativa de sustentar ela e seu filho com sua arte, longe da convivência tóxica com o marido.
Mas, em um contexto no qual a sociedade via suas pinturas como meros passatempos de uma mulher nos intervalos de seus deveres domésticos, e que a censuraria duramente se abandonasse seu cônjuge, não foi difícil para Arthur a impedir.
“E então”, disse ele, por fim, você pensou em me desonrar, não pensou, fugindo e se tornando artista, e se sustentando com os trabalhos de suas mãos, não é mesmo? E você pensou em me roubar o meu filho, também, e criá-lo para ser um sujo comerciante ianque, ou um pintor desprezível e miserável?
A luta feminista é construída desde séculos passados. E, ainda assim, no século XXI, nos deparamos diariamente com casos de abuso psicológico, violência doméstica e feminicídio. Este livro é voltado para a humanidade entender o significado do feminismo. Portanto, vale muito a pena a leitura.
Irmã mais nova da família Brontë, Anne também foi poetisa. Em 1846, juntamente com suas irmãs Emily e Charlotte, foi publicado um volume de poesia, assinado por seus pseudônimos. E, em 1850, a escritora teve outra obra sua publicada, Agnes Grey.
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Por Jennifer de Carvalho Soares – Fala! Mack