Na última semana, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) criaram o ‘Adia Enem‘, projeto que pede uma mudança no cronograma das provas do Exame Nacional do Ensino Médio em decorrência da crise do Covid-19. O projeto procura garantir a realização igualitária da prova dentro dos padrões adequados, assim como assegurar a segurança dos vestibulandos que irão prestar o exame.
Frente à pandemia do coronavírus, o acesso à escola ficou remoto na maioria dos países do globo, inclusive aqueles de primeiro mundo. Com o Brasil, não foi diferente. As escolas, tanto as públicas como as privadas, fecharam e, na maior parte do Brasil, estão adotando um esquema de ensino a distância, com aulas on-line e atividades para suprir a necessidade do acesso à educação.
Motivos para a criação do projeto
Uma liminar do Ministério Público foi mandada para o Ministério da Educação (17/04) para uma possível mudança no cronograma do Enem 2020, frente ao problema sanitário que está se enfrentando. Entretanto, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, depois da recorrência do Ministério, voltou atrás, dizendo que “A extensão da decisão proferida nos autos da sentença é de grande proporção, pois afeta as três etapas (pré-aplicação, aplicação e pós-aplicação) do projeto Enem”, ou seja, que a mudança nas datas resultaria em uma bagunça na organização da prova como um todo, desde o início das impressões até a abertura do sisu.
No dia 31/04, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, juntamente com o presidente do Inep, Alexandre Lopes, anunciou a data de realização do Enem, não havendo nenhuma mudança em relação à alteração das datas da prova, previstas para os dias 1 e 8 de novembro.
Isso que tem que paralisar tudo é bobagem. O Brasil não pode parar, não vai parar. Todo ano querem acabar com o Enem. Só que a argumentação deles é totalmente equivocada. Eles dizem: as pessoas não estão podendo se preparar. Mas está difícil para todo mundo. É uma competição. A gente vai selecionar as pessoas mais preparadas para serem os médicos daqui dez anos, os enfermeiros, os engenheiros, os contadores.
Abraham Weintraub
O posicionamento dos órgãos responsáveis pela realização da prova revoltou grande parte dos estudantes e levantou a atenção da UNE e da UBES. A partir disso, foi criado um abaixo-assinado on-line com o intuito de pressionar tanto o Inep, quanto o Ministério da Educação para voltarem atrás na decisão de continuar com o cronograma original do Exame. Até agora, mais de 100 mil pessoas já assinaram a petição, mostrando a insatisfação dos estudantes brasileiros mediante a medida, insatisfação gerada a partir de uma série de motivos.
Especialistas da educação afirmam que o sistema de ensino atual não está capacitado para adotar esse método de ensino virtual. De acordo com o IBGE, 33% das casas do Brasil não têm acesso à internet e 58% destas não têm nem acesso a computadores. Este é um fator que dificulta o processo de aprendizado do aluno que não tem meios para se preparar para o Enem, prova que integra milhares de brasileiros todos os anos nas Universidades públicas e faculdades particulares do país. Além disso, a maioria dos alunos são de escola pública e cerca de 40% dos estudantes não possuem espaço adequado para estudar.
A situação também se mostra complicada para diversos professores da rede pública de ensino, que precisam utilizar de recursos próprios e trabalhar o dobro do tempo para atender a demanda de pais e alunos preocupados e com dúvidas, seja sobre a matéria, o andamento das aulas e outros. Com essas condições, milhares de vestibulandos, principalmente os da classe mais baixa da sociedade, irão se prejudicar e tirar uma nota muito abaixo do necessário para o ingresso no curso desejado.
Mobilização nas redes sociais
Nas redes sociais, o uso da hashtag #AdiaENEM se mostra constante e é através dela que as pessoas estão se mobilizando e tentando cada vez mais mudar o panorama atual.
O site “sem aula, sem enem” também foi criado em decorrência da situação, orientando as pessoas a se cadastrarem para mandar mensagens para Deputados e Senadores dos seus respectivos estados e, assim, conseguirem efetivar a mudança de datas das provas.
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Por Paulo Matheus – Fala! Universidade Federal Rural de Pernambuco