Já perdi a noção de quantos dias faz que eu não saio de casa para me divertir, ver amigos e até encarar o lotado transporte público de São Paulo logo pela manhã. A crise sanitária que estamos vivendo (no Brasil, conseguimos a proeza de viver simultaneamente uma crise econômica e política também, mas isso não vem ao caso) mudou completamente o nosso modo de viver, apresentando a todos nós o tal do home office, aulas on-line e a nova peça de roupa do século XXI, a máscara.
Numa dessas tardes em que eu tomava meu centésimo cafezinho junto com a minha mãe, comentamos sobre como todas as notícias que passavam na TV eram somente sobre o Covid-19, seja a notícia boa ou ruim, tanto que até brincamos ao comemorar uma notícia sobre um roubo de carro na Marginal Tietê que acabara de acontecer, tirando os holofotes do coronavírus.
Já de madrugada, numa das noites em que a insônia me fazia companhia, comecei a refletir sobre a situação com a minha mãe de mais cedo e, ficando cada vez mais agitado, pensei em como não estávamos sofrendo por não poder sair de casa e ir em churrascos, festas, e sim sobre uma coisa mínima que fazia parte do nosso dia. Confesso que isso me pegou de uma maneira absurda, tanto que fui dormir lá pelas seis da manhã, incomodado pelos meus pensamentos.
Como isso é estranho, não é? Apenas um mês e pouco atrás, eu acompanhava o noticiário pela manhã enquanto tomava meu café antes de ir para a faculdade, vendo as matérias e reportagens que falavam do trânsito intenso da marginal, do metrô parado e das pessoas que se espremiam feito atum na lata para poderem entrar no trem e partir para mais um dia de trabalho, e eu com o meu mau humor matinal, resmungava e pensava na minha luta contra o ônibus e a linha Azul do metrô, percebendo, inclusive, que já estava atrasado e chegaria depois do horário permitido na faculdade.
Tudo isso me fez perceber em como eu sinto falta das grandes e até das pequenas coisas, e creio que todos nós sintamos. Não se trata mais da vontade de ir em bares e cinemas, e sim de ver pessoas, sentar na cadeira da sala de aula ou do trabalho, e até de poder sair de casa sem ter que carregar vidros e mais vidros de álcool em gel (ou “alquingél” para nós, brasileiros).
É aquele papo do Columbus, no filme Zombieland (caso não tenha assistido, fica aqui a minha indicação), sobre a Regra 32 de sobrevivência num apocalipse zumbi: aproveite as pequenas coisas, coisa que no filme é retratada por um simples bolinho achado no meio de um cenário apocalíptico.
No meu caso, o meu bolinho é tomar meu café vendo o tráfego na marginal. Quem puder ficar em casa, fique. Vamos nos cuidar, já já passa.
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Por Cesar Bertolo – Fala! FMU