Eu quis gritar bem alto, jogar fora tudo o que me sufocava, mas respirei fundo e, silenciosamente, chorei. Aquilo doía tanto no meu peito que eu não sabia explicar e não queria que ninguém perguntasse, só me deixassem sentir. E eu estava sentindo muito.
Não sei quantas semanas estamos de quarentena, já perdi a noção das datas e tudo parece ser um longo e tenso único dia. Sinto-me presa a algo que não posso controlar. Sem nenhuma resposta e sem data marcada para tudo isso acabar, me vejo em labirintos onde a ansiedade dá sinais e respirar fundo tornou-se meu novo companheiro.
Lembro de acreditar que isso não chegaria ao Brasil ou talvez chegasse, mas não fosse durar muito tempo, estava enganada. Ele chegou. Forte. Pós-carnaval. E ficou!
Ficou mais forte do que imaginávamos e, em poucos dias, ele tiraria as nossas noites de sono, nossa vida ao ar livre, para alguns, trabalho e entes queridos. Ele recebeu o nome de coronavírus e tomou conta do mundo.
Há um ditado popular que fala “a vida é aquilo que acontece enquanto estamos programando as coisas”, e a vida aconteceu. No dia 26 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, o primeiro caso de coronavírus foi confirmado no Brasil. Agradecemos por ter vindo depois do carnaval, mas não tínhamos noção de que ele adiaria todos os nossos planos e viraria nossa vida de ponta cabeça.
Quando nos demos conta, ter nossa rotina era impossível e precisaríamos nos adaptar a fazer e ficar somente em casa, algo meio absurdo para uma geração que está sempre correndo contra o relógio. Eu entrei em choque, não conseguia assimilar tudo, caramba, e minha vida e meus planos? Por quanto tempo ficaríamos desse jeito? Tinha feito vários planos e acordos comigo mesma, os dias que viriam tinham tudo para serem incríveis e surpreendentes, mas tudo tinha ido por ralo abaixo e isso me desmoronava.
Já faz dois meses desde o primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil, de lá para cá, nada tem sido igual e nem um pouco normal. Os números de contaminados não para de crescer e já ultrapassamos mais de quatrocentos óbitos em 24 horas. Nosso excelentíssimo presidente, Bolsonaro, teima em ir contra as recomendações mundiais e tornou-se um genocida que se encontra com manifestantes em atos políticos, pessoas de classe média alta sem um pingo de compaixão e com olhos de cifrão.
Hoje, nos deparamos com uma possível abertura gradual dos comércios em SP, uma linha de crescimento cada vez mais alta de contaminados e óbitos em todo país, com estados em estado de alerta, prefeitos sem saber o que fazer para conter o avanço do vírus e famílias mal se despedindo de seus entes queridos. Nesse mesmo momento, pessoas estão saindo para dar uma volta ou reunir os amigos para fazer uma resenha, como se o mundo inteiro não clamasse por ajuda.
A indignação nos consome, a solidariedade cresceu, a ignorância ainda se faz presente e o Bolsonaro se importa mais com seu ego do que com a população brasileira. O mundo está um caos e o Brasil ainda mais, sorte nossa se até a próxima eleição ainda exista um país povoado.
Desabei ouvindo relatos de médicos, enfermeiros e famílias que perderam seus entes queridos e percebendo que a preocupação com os meus planos é nada em comparação ao que estamos vivemos, posso recuperar isso lá na frente, entretanto, quem perdeu alguém, não.
Em Brasília, alguém chama isso de “gripezinha” e ri da nossa cara sem nenhuma vergonha, com apoiadores cegos. De dependermos de nosso governante, iremos de mal a pior. Boa sorte a nós, precisaremos.
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Por Barbara Cristina Silva Barbosa – Fala! PUC