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Opinião: O Brasil repete os mesmos erros da Itália?

Assim como Giuseppe Sala fez no início da pandemia, Bolsonaro subestima o novo coronavírus e vai contra medidas de isolamento

Giuseppe Sala, prefeito de Milão, no dia 27 de fevereiro, divulgou um vídeo de um movimento contra a quarentena feito por donos de bares e restaurantes da cidade. O slogan da campanha era “Milano non si ferma” (“Milão não para”, em tradução livre). 

O político italiano queria preservar a economia, evitando o fechamento do comércio e a paralisação das atividades turísticas. Naquele momento, o país tinha 14 mortes relacionadas à doença e 11 cidades da Lombardia, de onde Milão é capital, já estavam em quarentena.

O norte da Itália, região em que a Lombardia fica localizada, foi a mais afetada, com quase 67 mil casos confirmados e mais de 12.000 mortes. Após um mês, em meio ao colapso do sistema de saúde italiano, Giuseppe Sala voltou atrás e assumiu que errou ao ir contra as medidas de isolamento.

Muitos se referem àquele vídeo que circulava com o título #MilãoNãoPara. Era 27 de fevereiro, o vídeo estava explodindo nas redes, e todos o divulgaram, inclusive eu. Certo ou errado? Provavelmente errado. Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus, e aquele era o espírito. Trabalho sete dias por semana para fazer minha parte, e aceito as críticas. 

Disse o prefeito
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Confira o vídeo “Milão não para”

No entanto, a Itália e tampouco o prefeito de Milão, parecem servir de exemplo para o presidente brasileiro. Isso porque o governo federal chegou a lançar a campanha “O Brasil não pode parar” que incentiva jovens a voltaram a suas rotinas regulares, sugerindo a implementação do  isolamento parcial, ou seja, somente aos idosos e as outras pessoas do grupo de risco.

Campanha "O Brasil não pode parar"
Campanha “O Brasil não pode parar”. | Foto: Reprodução.

Para quem defende a vida dos brasileiros e as condições para que todos vivam com qualidade, saúde e dignidade, o Brasil definitivamente não pode parar.

Desentendeu Flávio Bolsonaro, senador e um dos filhos do presidente

Além disso, Jair Bolsonaro segue dando sucessivas declarações em que minimiza a gravidade do novo coronavírus e até banaliza vidas, tratando as mortes como inevitáveis e naturais em um cenário como este.

“Alguns vão morrer, vão morrer, lamento, é a vida. Não pode parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito”. Bolsonaro chegou a chamar a Covid-19 de “gripezinha” e “resfriadinho”.

O presidente também se opõe a maior parte dos governadores que defende uma quarentena horizontal para que aja um achatamento na curva do número de casos.

O maior remédio para a doença é o trabalho. Quem pode trabalhar, tem que voltar a trabalhar. Não pode se esconder, ficar de quarentena não sei quantos dias em casa e está tudo bem. Não é assim.

Ressaltou Bolsonaro à TV Bandeirantes

Com isso, hoje, o SUS (Sistema Único de Saúde) está às vésperas de um colapso, em estados como São Paulo e Amazonas não têm mais leitos e há escassez de equipamentos de proteção (EPIs) na maioria dos hospitais públicos.

O brasileiro tem que entender que quem vai salvar a vida dele é ele, pô! Não tem que ficar esperando vereador, deputado, senador ou presidente cuidar da vida dele. Se ele não tem capacidade ou não tem amor pelo avô ou pelo bisavô, paciência.

Disse Bolsonaro na quinta-feira
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O MPF (Ministério Público Federal) entrou na justiça contra a campanha. Devido a ela incitar os brasileiros a voltarem às suas vidas normais  em um período de expansão do coronavírus, sem que tivesse embasamento técnico para isso. 

À vista disso, uma juíza federal do Rio de Janeiro, no dia 28 de março, proibiu a publicação de campanhas que sugiram à população desrespeitar o comportamento aconselhado por especialistas da área da saúde ou que não estejam pautados em dados retirados de estudos promovidos por notórias entidades cientificas.

No dia seguinte da decisão judicial, Bolsonaro declarou que o vídeo da campanha do governo federal, “O Brasil não pode parar” foi vazado. “Alguma televisão mostrou o vídeo? Aquele vídeo vazou. Não tem o que discutir, como vaza tudo neste País”, disse a jornalistas na porta do Palácio do Alvorada. 

A Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) apagou publicações relacionadas à campanha. A Secretaria justificou que o conteúdo estava sendo produzido experimentalmente e foi divulgado de forma errada.

Todavia, uma nota liberada no dia 28, negou qualquer veiculação feita pela Secon de publicidades com esse tema e também a existência da campanha “O Brasil não pode parar”.

João Dória, que faz parte dos governadores que defendem uma quarentena mais rígida, em uma coletiva de imprensa no dia 31 de março, comparou Jair Bolsonaro a Giuseppe Sala, enfatizando que o prefeito de Milão se arrependeu do seu comportamento.

Ele reconheceu o seu erro ao apoiar uma iniciativa do setor privado em apoiar a campanha de que Milão não deveria parar. A lição de humildade do prefeito é de reconhecer os erros e eu espero que o presidente Jair Bolsonaro reconheça o seu erro de estimular as pessoas a saírem de casa. Faça, presidente, como fez o prefeito de Milão. Reconheça o seu erro e seja valorizado por isso. Ser humano, ser sincero, falar a verdade, reconhecer as suas falhas é prova de grandeza e não de fraqueza.

João Dória

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Por Camila Nascimento – Fala! Cásper

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