O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou uma lei de tempos de guerra, o Ato de Produção de Defesa
Na quarta-feira (1), o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em coletiva de imprensa que parte das compras de equipamentos médicos que seriam feitas “caiu”, devido à grande compra de EPIs (Equipamento de Proteção Individual) da China pelos Estados Unidos. Os EPIs permitem proteger todo o corpo de profissionais mais expostos à ação do coronavírus.
“Hoje [1° de abril] os Estados Unidos mandaram 23 aviões cargueiros dos maiores para a China, para levar o material que eles adquiriram. As nossas compras, que tínhamos expectativa de concretizá-las para poder fazer o abastecimento, muitas caíram”, afirmou o ministro. Ainda terminou dizendo que tem que poupar ao máximo o uso de equipamentos.
Segundo o jornal americano The New York Times, o primeiro avião trouxe 80 toneladas de mercadorias, como 10 milhões de luvas, 1,8 milhão de máscaras, aventais e “milhares de termômetros”.
Os Estados Unidos invocaram uma lei aprovada na época da Guerra da Coreia, em 1950. A medida dá ao presidente o poder para “expandir o suprimento de recursos da base industrial dos EUA para apoiar programas militares, de energia e de segurança interna”.
O governo pode mandar as empresas fabricarem os equipamentos necessários, como foi o caso da General Motors, que vai começar a fabricar respiradores. Outra fabricante famosa que está sob a lei é a 3M, que fabrica, na China, os EPIs. Toda produção tem ido para os EUA e eles estão proibidos de exportar os produtos para outros países.
Segundo Chad Bown, integrante do Peterson Institute for International Economics, essa manobra de Trump pode dificultar as relações com os outros países, visto que os EUA dependem de insumos vindos de outras nações, fazendo com que ocorra retaliações.
Os Estados Unidos dependem das importações de equipamentos médicos e seus componentes. No ano passado, os americanos compraram mais de cinco vezes a quantidade dos mesmos respiradores, máscaras e luvas de fontes estrangeiras que o governo Trump agora se recusa a vender no exterior. Os parceiros comerciais dos EUA não ficarão ociosos em resposta.
Chad Bown
Devido a esses impasses, o Ministério da Saúde está tentando fazer os pedidos desses equipamentos com outros fornecedores. “Só acredito na hora que estiver dentro do país e na minha mão”, afirma Mandetta.
Segundo o ministro, a mesma situação de incerteza na entrega afeta o fornecimento de respiradores usados em UTIs. “Hoje [1°de abril] conseguimos fazer uma possível compra de 8.000 respiradores. Tem 30 dias para nos entregar. Se receber, ótimo, acalmo”, disse.
Mandetta ainda espera que, após a crise, o mundo repense a forma como a produção desses equipamentos é feita. “Espero que nunca mais o mundo cometa o desatino de fazer 25% da produção de insumos em um único país. Essa é uma discussão do pós-epidemia”, comentou.
A produção é centralizada na China e a alta demanda pelos diversos países que enfrentam casos de coronavírus e o aumento do preço dos produtos são barreiras para o abastecimento do estoque nacional.
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, o governo contratou a produção de 17 mil respiradores com a indústria nacional e afirmou que há um contrato de R$1,01 bilhão para compra de 15 mil respiradores com uma empresa de Macau.
Avião retido em Miami
De acordo com uma reportagem da Folha de S. Paulo, uma carga dos equipamentos chineses que foram comprados pelos governos do nordeste, ficou no aeroporto de Miami e a suspeita é de que os Estados Unidos pagaram mais pelos produtos.
O governo da Bahia, representante dos governadores do nordeste, afirmou que uma carga de 600 respiradores artificiais, comprada pelos governos da região, foi retida no aeroporto de Miami (EUA), quando fazia conexão rumo ao Brasil.
A Embaixada Americana disse em uma rede social que os EUA não reteram nenhum avião em Miami. “O governo dos Estados Unidos não comprou nem bloqueou nenhum material ou equipamento médico da China destinado ao Brasil. Relatórios em contrário são completamente falsos”, publicou na rede social.
Não é o Brasil que sente essa interferência
Outros países vêm sofrendo com essa guerra de equipamentos. Autoridades em Berlim, disseram que o carregamento de máscaras produzidas nos EUA teria sido confiscada em Bangcoc, na Tailândia.
Países como França e Brasil vêm relatando a prática de roubo de contratos pelos norte-americanos. Segundo os governos, os EUA estariam oferecendo melhores ofertas financeiras – mais altas que as contratadas -, fazendo com que as empresas assumissem a multa de rescisão de contrato.
Em entrevista coletiva na Casa Branca, o presidente Donald Trump disse que necessita das máscaras e que não quer ver outros conseguindo.
Precisamos das máscaras. Não queremos outros conseguindo máscaras. É por isso que estamos acionando várias vezes o ato de produção de defesa. Você pode até chamar de retaliação porque é isso mesmo. É uma retaliação. Se as empresas não derem o que precisamos para o nosso povo, nós seremos muito duros.
O ministro alemão, Andreas Geisel, disse que esse é um “ato de pirataria moderna”. “Não é assim que se lida com parceiros transatlânticos”, disse o ministro. “Mesmo em momentos de crise global, não é correto usar métodos do ‘velho oeste’.”, complementou.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que não pretende retaliar os Estados Unidos, mas que seria um erro os Estados Unidos bloquearem ou reduzirem o comércio de produtos essenciais, inclusive, insumos médicos.
A fabricante 3M teme que o uso dessas leis restritivas de exportação possam causar a falta de insumos para a fabricação dos equipamentos, devido a possíveis retaliações de outros países.
“Os limites de exportação são apenas mais um exemplo da política comercial incoerente de Trump na luta contra o Covid-19”, afirma o pesquisador Chad Bown.
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Por Thalisson Luan Batista da Silva – Fala! PUC