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1917 – Leia a crítica do filme indicado ao Oscar

1917 – Tensão e beleza dentro da Primeira Guerra Mundial: filme indicado ao Oscar conquista os críticos com fotografia em plano-sequência

Ambientado em um dos maiores conflitos mundiais, “1917” deixa à sala de cinema tensa e o público atento para o cenário de caos. 

O filme que está concorrendo ao Oscar 2020 como Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Mixagem e melhor fotografia, entre outros, conta a história dos soldados britânicos –  durante a Primeira Guerra mundial – Schofield (George Mackay) e Blake (Dean-Charles Chapman), encarregados de enviar um bilhete para impedir um grande ataque que poderia gerar a morte de mais de 1600 soldados britânicos. Para isso, eles vão ter que passar pelo território inimigo, o que põe em risco suas vidas.

 1917 fala sobre a Primeira Guerra Mundial através da jornada de dois soldados para a entrega de um bilhete. Créditos da foto: site Refinery29
1917 fala sobre a Primeira Guerra Mundial através da jornada de dois soldados para a entrega de um bilhete.

A Primeira Guerra Mundial começou no ano de 1914, com a morte de Francisco Ferdinando, príncipe do Império Austro-Húngaro, em um atentado conhecido como O Atentado de Sarajevo. A partir disso, a Europa foi dividida em duas, com a Tríplice Entente (formada por Rússia, França e Reino Unido) e a Tríplice Aliança (formada por Alemanha, Itália e o Império Austro – Húngaro), que batalhavam entre si. O conflito só teve fim anos mais tarde, em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes.

Ilustrando a Primeira Guerra, o filme dirigido e roteirizado por Sam Mendes, que também dirigiu o clássico “Beleza Americana (1999)”, traz uma pequena perspectiva sobre um dos maiores conflitos mundiais, conquistando destaque entre os críticos, já que à indústria cinematográfica não costuma produzir conteúdo sobre o tema, por se tratar de um conflito mais político e experimental. Foi nessa época em que tanques de guerra, rifles e armas químicas foram desenvolvidas, além do surgimento de uma das táticas de guerra mais famosas que eram as trincheiras, usada como um dos cenários principais do filme. 

Entre as principais inciativas táticas na época, as trincheiras eram grandes corredores de valas cavadas no solo que serviam como demarcação de posições do conflito. Elas tinham formato de ziguezague para que a eventualidade da entrada de um inimigo nas trincheiras não provocasse uma destruição total do local. Assim que as primeiras retas eram construídas, os abrigos eram levantados para proteger os soldados de possíveis bombardeios. Mas havia desvantagens também, já que com as chuvas esses buracos eram preenchidos por lama, e durante o filme podemos ver como o solo úmido prejudica o avanço do exército e dos soldados.

 As trincheiras foram uma ação tática criada para proteger os homens durante os conflitos. Elas eram altas e fundo o suficiente para protegê-los dos ataques.
As trincheiras foram uma ação tática criada para proteger os homens durante os conflitos. Elas eram altas e fundo o suficiente para protegê-los dos ataques. Foto: Imperial War Museums/Domínio Público

1917 é construído todo em plano-sequência: as cenas da jornada dos personagens não possuem cortes como os filmes comuns, valorizando todo o desespero, a urgência e a atenção dos soldados no campo de batalha. O filme deixa o público em completo estado de tensão pelas expectativas e acontecimentos que ainda estão por vir. Em uma das cenas de 1917, os personagens estão prestes a serem soterrados, e a sequência de acontecimentos faz o espectador entrar em desespero junto aos personagens pela busca da saída daquela situação. Mas há também os momentos de respiro, quando o espectador pode finalmente apreciar as questões técnicas cinematográficas, como a fotografia.

https://www.youtube.com/watch?v=C2U0g0n8Xlw
Marcado pela forma inovadora de capturar todas as imagens, o diretor Sam Mendes optou pelo plano sequência, que é muito bem exemplificado na cena acima. A cena que dura cerca de 24 segundos chamou à atenção dos internautas que elogiaram o trabalho do diretor.

Com Roger Deakins como diretor de fotografia, também responsável por Blade Runner 2049 (2017) e que recebeu a estatueta de ouro por melhor fotografia, o filme conseguiu entregar cenas de perfeito equilíbrio, em que podemos enxergar a beleza do filme que é trazida pelo caos da guerra, mas também ajuda na construção da trama.

O modo escolhido para a gravação aborda uma visão única, não apresentando arcos diferentes, a não ser dos protagonistas, que não foram muito explorados, já que poucas coisas são apresentados de ambos, mas já era o suficiente para entendermos a trama, pois o que mais importava ali era o espetáculo à volta deles, que Sam Mendes e Deakins, conseguiram entregar, se preocupando em como gravaria as cenas que passam à noite e até mesmo em como acompanhar os atores à produção desenvolveu uma maquete em miniatura, para treinar todos os movimentos e posicionamentos de câmera, para trazer todo o resultado que o diretor queria. 

1917 não é baseado em fatos precisamente reais, como é Até o Último Homem (2016), – que conta a história de um soldado, na Segunda Guerra Mundial, que foi médico no exército estadunidense e salvou inúmeras vidas com à sua fé e persistência-, mas em histórias que o avô do diretor contava para ele quando mais novo. 

Com todas essas técnicas e trazendo uma história bem estruturada, o longa já conquistou o Globo de Ouro como melhor filme dramático, melhor diretor e melhor fotografia, e que promete conquistar algumas estatuetas de ouro no próximo domingo (9). 1917 já está disponível nas melhores salas de cinema do Brasil e vale à pena dar uma corrida para assistir o filme antes da premiação.

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Por Gabriela Almeida – Fala! Anhembi

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