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The 1975 encerra uma era com álbum mais maduro e som experimental

A banda inglesa The 1975 sempre garantiu aos seus fãs que sua primeira era, chamada Music For Cars, iniciada com o EP homônimo de 2013 e vindo até os dias atuais, teria um desfecho. E, após (muitos) atrasos e diversos adiamentos de lançamento, ele chegou no dia 22 de maio de 2020 na forma de seu quarto álbum de estúdio: Notes On A Conditional Form.

Cada um dos seus trabalhos anteriores conta um capítulo da vida da banda, ou mais especificamente, do cantor principal, líder e compositor Matty Healy, iniciando em 2013, com seu álbum de esteia utilizando temáticas como drogas e relacionamentos amorosos de uma vida que até então ocorria nas noites das ruas britânicas.

Três anos depois, as canções já mostravam outras preocupações, como a influência da mídia e da tecnologia na vida das pessoas. Em 2018, o terceiro trabalho da banda apresenta um novo Healy, mais vulnerável e introspectivo após sair da reabilitação, tentando retomar seu lugar no mundo, focando em seus próprios comportamentos e nas mudanças e injustiças que o permeia.

Já Notes On A Conditional Form, apesar de ter como tema principal os problemas ecológicos e climáticos do planeta, aborda uma variedade tão grande de temas e estilos que é quase impossível categorizá-lo.

The 1975
The 1975 encerra uma era com álbum Notes On A Conditional Form. | Foto: Reprodução.

Notes On A Conditional Form

Desde sua primeira faixa intitulada The 1975, peça tradicional que dá o tom a todos os álbuns, Notes On A Conditional Form já mostra que não é como os outros: ao invés da letra original composta por 10 versos (já bem conhecidos pelos fãs), a abertura do quarto trabalho da banda inglesa conta com um monólogo de quase cinco minutos da ativista sueca Greta Thunberg alertando sobre a crise climática no mundo, apenas com uma trilha sonora instrumental e minimalista ao fundo.

A faixa seguinte, People, divulgada como o primeiro single do álbum em 2018, assusta com a mudança brusca de estilo, com as guitarras distorcidas, o som rápido e ruidoso e a letra política que despertam memórias da era anarco-punk americana, completada pelo vocal alto e gritado que não poupa esforços de Matty Healy. Já a terceira faixa do álbum, The End (Music For Cars), retoma o minimalismo da abertura em seus dois minutos e meio de um instrumental calmo e contemplativo.

A partir de então, a banda é incapaz de definir um estilo único, contando com pegadas de eletropop, rock dos anos 80, pop noventista e até folk e country americanos. São 22 músicas que preenchem uma hora e meia de uma confusão experimental e, ainda assim, pontuadas por alguns de seus melhores trabalhos. Todo o álbum parece uma mistura de “eles se perderam em uma confusão multitarefa” com “eles sabem exatamente o que estão fazendo”.

Com muitas músicas longas e instrumentais, o foco se dá em If You’re Too Shy (Let Me Know), que remete ao início e ao estilo principal do The 1975. Por meio de pequenas notas no Spotify, Healy conta: “nós pegamos tudo o que há de bom na ideia tradicional do que é The 1975 e destilamos isso. Então, temos o melhor solo de saxofone, o melhor instrumental, o melhor riff de guitarra, a melhor homenagem à cultura dos filmes adolescentes dos anos 80”. Ele ainda compara o estilo da letra da música com A Change of Heart, quarta música do segundo álbum da banda.

As parcerias com Phoebe Bridgers, Jesus Christ 2005 God Bless America e Playing On My Mind, também merecem destaque por resgatarem um pouco da música folk americana e pelas letras puras, interpretativas e subjetivas. Outra parceria do álbum que merece destaque é a música Don’t Worry, escrita pelo pai de Matty, Tim Healy, nos anos 90.

A música que encerra essa era é Guys, uma declaração de amor pura e genuína de Healy para seus colegas de banda e amigos mais próximos, com quem já compartilha mais da metade da vida. Com uma letra tão sincera quanto pode ser, ele repete “vocês são a melhor coisa que me aconteceu” e, se pode haver um desfecho para o momento, essa é a melhor trilha sonora para ele.

Infelizmente, os singles divulgados anteriormente são a melhor parte do álbum, marcando os pontos altos entre os instrumentais contemplativos e minimalistas. Ainda assim, em meio a tantos gêneros e direções diferentes, fica a expectativa de saber como serão os shows ao vivo de uma possível nova turnê mundial. Com Notes On A Conditional Form, The 1975 mostra, de uma vez por todas, que não é preciso seguir uma linha reta de estilos para agradar o público e, muito menos, para se fazer boa música.

Capa de divulgação do álbum Notes On A Conditional Form
Capa de divulgação do álbum Notes On A Conditional Form. | Foto: Reprodução.

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Por Bruna Janz – Fala! PUC

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