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Sufragistas: Quem eram e qual a sua importância para as mulheres

O Movimento Sufragista reivindicou os direitos de participação política para as mulheres, como a liberdade para votar e ser votada. As primeiras suffragettes ou sufragistas – mulheres que integravam o movimento – surgiram na Inglaterra, no século XIX, porém a luta pelo sufrágio feminino se expandiu em maior escala no século XX – quando mulheres de diferentes países conquistaram o direito ao voto. Dessa forma, as sufragistas consolidaram o que ficou conhecido como a primeira onda do movimento feminista e abriram espaço para as futuras reinvindicações, que resistem até os dias atuais.

O Movimento Sufragista garantiu o voto para as mulheres.
O Movimento Sufragista garantiu o voto para as mulheres. | Foto: Reprodução.

As primeiras sufragistas

Apesar de o movimento ser datado de 1897, algumas mulheres já lutavam pelo sufrágio desde o fim do século XVIII, quando, por exemplo, Olympe de Gouges foi sentenciada a morte após criar a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, em contraposição a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, vigente na França. Na Inglaterra, por sua vez, uma das pioneiras foi a educadora Millicent Fawcett, que, ainda no século XIX, desenvolveu a União Nacional pelo Sufrágio Feminino, que atuava a partir de pedidos formais à Assembleia Legislativa.

É importante ressaltar que, no século XIX, a Europa vivia um contexto de intensa urbanização e industrialização da sociedade, acompanhada pelo fortalecimento acadêmico, a partir de ideias positivistas, política e economicamente liberais e cientificistas. Nesse período, importantes movimentos surgiram, como o socialismo, o questionamento do lucro e a luta por direitos e participação política aos operários. Toda essa movimentação social, no entanto, não incluía as mulheres da época, as quais eram destinadas apenas à vida no lar.

Com isso, na virada do século, surgem as primeiras reivindicações feministas, que se resumiam pelo direito ao voto e à participação política. O movimento sufragista britânico ganhou força a partir de 1903, quando Emmeline Pankhurst fundou a União Social e Política das Mulheres, que atuava a partir de greves e protestos, com manifestações violentas e não-violentas.

De acordo com a historiadora Diane Atkinson, em reportagem da DW, as sufragistas britânicas perseguiam políticos importantes e os questionavam sobre o voto feminino, além disso, as ativistas mais radicais apedrejavam vitrines, explodiam caixas de correio e incendiavam edifícios abandonados, por exemplo. Assim, cada vez mais mulheres se identificavam com a causa e aderiram ao movimento. Dessa forma, as sufragistas contrariaram o comportamento social esperado das mulheres de uma forma nunca vista até então.

Em 1913, um episódio marcou o movimento. Emily Davison, uma das líderes sufragistas do Reino Unido, durante um evento em um hipódromo, com participação da realeza da época, invadiu a pista como forma de protesto e foi atropelada por um dos cavalos do rei. Davison morreu quatro dias depois e gerou comoção por todo o país, principalmente entre as ativistas. Cinco anos depois do acontecimento, em 6 de fevereiro de 1918, tornou-se lei o direito a voto para mulheres acima de 30 anos e com determinada renda mínima. Somente dez anos depois, o direito foi estendido para todas as mulheres acima de 21 anos.

Emily Davison invade estádio de hipismo como manifestação.
Emily Davison invade estádio de hipismo como manifestação. | Foto: Reprodução.

Movimento sufragista e o movimento negro

Apesar de extremamente importante para as conquistas das mulheres em todo o mundo, o movimento sufragista era protagonizado e voltado, majoritariamente, para as mulheres brancas e de classes mais altas. Conforme ressalta Atkinson, as sufragistas britânicas “[…] Tinham boa aparência, um bom guarda-roupas, eram inteligentes e brilhantes oradores.” – privilégios restritos a uma pequena parcela da população feminina.

Enquanto isso, nos Estados Unidos do século XX, apesar de algumas frentes do movimento se aliarem às causas abolicionistas – o que foi relevante para a luta das feministas negras da época, que resistiam não só enquanto mulheres, mas também sob a ótica racista vigente – a realidade era outra. O movimento sufragista americano, em sua maioria, não incluía as mulheres negras, mas, pelo contrário, muitas sufragistas se posicionavam, até mesmo, contra a frente abolicionista.

Sufragistas americanas.
Sufragistas americanas. | Foto: Reprodução.

Segundo, Denilde Holzhacker, doutora em ciência política, pela matéria da CNN, “Para avançar no direito de voto, as mulheres brancas acabaram aceitando um processo que criava barreiras às mulheres negras. Este processo aconteceu especialmente nos movimentos das mulheres no sul do país, que tinham fortes políticas segregacionistas”. Dessa forma, nos EUA, parte das mulheres conquistaram o direito ao voto pela primeira vez em 1920, enquanto, em alguns estados do país, homens e mulheres negros só conquistaram esse direito 40 anos depois – com a luta de grandes mulheres, como Harriet Tubman e Sojourner Truth.

O sufrágio feminino ao redor do mundo

Além dos EUA e do Reino Unido, Nova Zelândia (1893) e Finlândia (1906) foram os pioneiros países a garantir o sufrágio feminino, enquanto a França, em 1945, foi um dos últimos países europeus a consolidar esse direito. Na América Latina, por sua vez, o Equador (1929) liderou a concessão do sufrágio feminino. 

Alzira Soriano ao tomar posse em 1929.
Alzira Soriano ao tomar posse em 1929. | Foto: Reprodução.

No Brasil, por sua vez, as sufragistas já reivindicavam o direito à participação política desde o início do século XX. Em 1928, duas brasileiras – Alzira Soriano (Rio Grande do Norte) e Mietta Santiago (Minas Gerais) – recorreram à justiça e conseguiram a permissão individual para votarem e se candidatarem.

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Por Jovana Meirelles Soares – Fala! UFMG

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