América do Norte. Estados Unidos. Violência. Assassinatos. Todas essas são palavras que não ecoam muito bem juntas, mas que no livro de Truman Capote fazem todo sentido.
É comum relacionarmos a violência aos países da América Latina, criando um esteriótipo de que somente neles encontram-se muitos bandidos contratados para matar, na maioria das vezes inseridos no cenário das drogas e do narcotráfico. Pois bem, no século passado ocorreu um crime terrível em uma cidadezinha americana chamada Holcomb, porém os dois homens que mataram nem pagos para isso foram.
Para retirar a ideia de que Estados Unidos é sinônimo de cidades muito grandes, cheias de tecnologia, multinacionais e desenvolvimento, como Nova Iorque, Los Angeles, Chicago e Houston, que lembram capitalismo e ícones financeiros e da indústria cultural, o foco estará no pequeno vilarejo onde aconteceram as mortes.
Holcomb, uma cidade pequena, com poucos habitantes conhecidos entre si. Onde nasce o trigo, onde há muitas fazendas. Lá vivia a família Clutter, digna dos padrões sociais mais aceitáveis que compõem uma família. O pai, Herb Clutter, a mãe, Bonnie Clutter, e os quatro filhos: Kenyon, Nancy, Beverly e Eveanna, somente os dois mais novos, Kenyon (15 anos) e Nancy (16 anos), moravam com os pais no casarão.
Os quatro moradores da casa foram alvo de Perry Smith e Richard Hickock. Moradores de classe média, não tinham milhões de dólares para oferecer, uma mulher em depressão casada com um marido religioso, jovens normais, que não aparentavam para os outros possuírem tudo o que desejavam ou serem ricos, foram mortos, assassinados com tiros e outros sinais de tortura.
Descrições longas de suas personalidades, de onde moravam, das pessoas que se relacionavam, do que costumavam fazer para ocupar o tempo… Tudo isso para chegar a um fato simples: assassinato brutalmente desenvolvido, e de acordo com as evidências jurídicas, sem uma justificativa plausível. Como está escrito na própria obra: “A verdade pode ser brutal.”
Entretanto, é uma verdade que aconteceu e acontece dia a dia no mundo todo. Com ou sem objetivos marcantes e aparentes, muitas pessoas são mortas e matam as outras. Capote trouxe isso à tona, nada além do óbvio.
O município do Kansas não seria reconhecido por suas belezas naturais, o lago, os pomares para pique-nique, os campos de trigo, as pessoas honestas e trabalhadoras que nasceram lá, e sim por um acontecimento trágico que marcou o ano de 1959, e vários anos após. O Jornalismo é assim, marcado por tragédias e não tem como ser diferente. Por mais que exista uma abordagem mais descritiva, detalhada e literária, o óbvio sempre estará lá e será o fundamental do discurso.
A sociedade querendo julgar os assassinos Perry e Dick nada mais é do que o que ocorre atualmente. Cidadãos querendo fazer justiça com as próprias mãos, sem saberem realmente a causa do crime. No caso individual deste assassinato, Richard e Perry mereciam sim uma punição.
Os dois amigos, Perry aparentemente mais emotivo e menos calculista, planejavam enriquecer por meio do cofre dos Clutter, mas não existia cofre nenhum. Aliás, Herb Clutter nunca andava com dinheiro, então por que ele o guardaria em sua casa? Os causadores da morte não aceitavam essa informação e continuaram insistindo no erro, no episódio violento.
Dick, com fortes traços de psicopata, pensou também em estuprar a filha do casal, ato que seu companheiro Perry abominava. Finalmente, eles não conseguiram nada além de matar os quatro indivíduos e no futuro matarem a si próprios com isso.
As cenas foram fortes e rápidas, e a repercussão grande e muito lenta, durando até hoje, quase um século depois. Como acontece no Brasil, é comum que a Justiça falhe e demore na resolução de homicídios ou outros crimes bem corriqueiros.
A diferença é que em nosso país não existe pena de morte, mas ela ocorre sem que nossos olhos percebam, em favelas, em disputas de terras, em subúrbios ou até bairros nobres. O autor trata de um crime que não é nada excepcional, não há necessidade de tratar o assunto da obra como tal. Talvez a maneira de abordá-lo foi rica e completa, mas será mesmo que primeiro jornalista literário tinha uma memória tão apurada? Qual o objetivo de expor esse adjetivo?
Dizer que Perry foi um garoto com uma infância difícil, que sua mãe era alcoólatra, que suas pernas são atrofiadas e que ele merecia um pouco mais de carinho não ameniza todos os erros que cometeu. Pode ser que tenham sido por essas influências, mas isso nunca será uma resposta. Caracterizar Richard como mentor do crime, grosseiro e frio, não fará dele o principal culpado.
A informação é clara e não são adjetivos e um discurso poético que a farão menos dolorosa, eles eram ex-presidiários e agiram como tal, eles não controlaram seus próprios instintos e se tornaram bandidos conhecidos e julgados por toda a América, por advogados e juízes. Como acontece na vida real, sem poesia alguma, é mais fácil apontar os defeitos do outro do que melhorar os próprios, e foi claramente isso que aconteceu no desenrolar da apuração após o assassinato.
Julgamentos a favor da execução dos dois, contra a execução, julgamentos indecisos, apenas julgamentos. Os que não mudaram em nada a morte de dois seres humanos, que dessa vez, não conseguiram se safar do que eles mesmo buscaram. Eles nem consideraram que foi ruim morrer, pois o lugar para onde foram poderia ser melhor do que a Terra. Terra, planeta onde crimes hediondos acontecem todos os dias, mas precisam de uma abordagem tão complexa para se tornarem clássicos.
_____________________________________________________________________________
Resenha crítica por Izadora Del Bianco (@izadbr) – Faculdade Cásper Líbero