No sábado retrasado, 4, foi lançado o CD de sambas-enredo das escolas de samba de São Paulo, na Fábrica do Samba, na Barra Funda. O evento contou com mini desfiles dos Grupos de Acesso e do Grupo Especial, começando às 15h e terminando por volta das 3h30 da manhã. A seguir, confira mais detalhes sobre este lançamento aguardado por muitos.
Fábrica do Samba lança CD com sambas-enredo das escolas de SP
Os portões da Fábrica do Samba abriram às 14h, e a entrada do público foi somente permitida com a apresentação do ingresso e passaporte da vacina, com duas doses.
Sem as restrições de horários e público, os shows com o público em pé, torcida nos estádios e outros eventos estão permitidos no estado de São Paulo, desde 1 de novembro. Apesar disso, a possibilidade de o Carnaval acontecer no ano que vem recebeu críticas de personalidades conservadoras.
Em um post do Instagram, a Liga SP apresentou pontos favoráveis para o retorno do Carnaval, trazendo o cenário atual da cidade, com a população vacinada e com os protocolos de segurança a serem seguidos, e também defendendo que o evento faz parte da cultura brasileira.
”CARNAVAL SIM! ELITISMO NÃO!”
Ao desfilarem, os integrantes da Mocidade Unida da Mooca carregavam uma faixa com a frase ‘’CARNAVAL SIM! ELITISMO NÃO’’, em referência a alguns eventos populares, como Lollapalooza, Garota Vip, Rock in Rio e entre outros.
”Prepara o capacete que lá vem pedrada!”, Colorado do Brás
Em 1 de março de 2019, a Colorado do Brás fez a abertura dos desfiles do Grupo Especial. Naquele ano, a escola de samba fez um enredo com o título Hakuna Matata – Isso é viver, em homenagem ao Quênia e inspirado na expressão queniana que ficou conhecida no filme de animação da Disney, O Rei Leão.
Isso é viver, hakuna matata
Trecho de Samba-Enredo 2019.
É lindo dizer Hakuna matata
Pulsa nosso povo apaixonado
Queniano é o tambor da Colorado
Neste ano, Carolina de Jesus, poeta, escritora e compositora foi inspiração para o samba-enredo de 2022 da Colorado. O enredo intitulado Carolina: a Cinderela Negra do Canindé, faz referências aos marcos importantes da trajetória dela, trazendo a sua vivência como catadora de papéis na extinta favela do Canindé, em SP.
”Não duvide da bravura da mulher”
Carolina Maria de Jesus nasceu em março de 1914 em Sacramento (MG). De 1923 a 1929, ela e a família de lavradores migraram para Lajeado (MG), Franca (SP) e Conquista (MG) até voltarem definitivamente para Sacramento. De uma família pobre, Carolina teve uma formação formal de 2 anos.
Em 1937, Carolina de Jesus migrou para São Paulo. Para se sustentar, saía todos os dias para coletar papel para poder sobreviver e sustentar sua família. Construiu sua casa usando madeira, papelão e lata.
Em 1948, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na então extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, onde trabalhou como empregada doméstica.
Apesar da sua dura realidade, Carolina de Jesus era apaixonada pela leitura e escrevia em diários relatando a realidade de viver na favela. Em 1950, publicou um poema em homenagem a Getúlio Vargas, no Jornal O Defensor. Diante deste cenário, o jornalista Audálio Dantas(1929-2018) conheceu a autora e a ajudou a publicar seu primeiro livro O quarto de despejo: diário de uma favelada que foi publicado em 1960.
A publicação do livro foi um sucesso, Carolina mudou-se da favela do Canindé, continuou escrevendo e gravou um disco com suas próprias composições. Em 1977, Carolina de Jesus faleceu em Parelheiros, em São Paulo.
Legado de Carolina de Jesus
O quarto de despejo: diário de uma favelada não foi a única obra de Carolina de Jesus, seus livros expõem a realidade da sua vida e do lugar em que vivia, juntamente com a sua perspectiva. Conheça os principais livros da escritora:
- Quarto de despejo (1960);
- Casa de alvenaria (1961);
- Diário de Bitita (1986);
- Meu estranho diário (1996).
O livro Quarto de despejo foi traduzido para outros idiomas, atualmente, cerca de 40 países conhecem a obra de Carolina. Além disso, o nome da escritora virou nome de rua, na Vila Tolstoi, existe uma rua que leva o nome ‘’Rua Carolina Maria de Jesus’’. Muitas dissertações e teses sobre ela e sua obra Quarto de despejo foram escritas.
Aqui, todas impricam comigo. Dizem que falo muito bem. Que sei atrair os homens. (…) Quando fico nervosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo.
Trecho de Quarto de Despejo.
Carolina: A Cinderela Negra do Canindé
Lá vou eu pra batalha, não tinha o que comer
Fiz verso fiz poesia retratando o meu viver
Quando cheguei em São Paulo sem rumo, sem renda
Falei de justiça pra que o mundo entendaExtra! A negra enriqueceu
Trecho do samba-enredo da Colorado do Brás 2022.
Sou eu… A mãe preta resistência
Bordando em meu quarto sentimentos
Mazela que reflete a consciência
Nas folhas de caderno a verdade se traduz
Em meu sobrenome uma prece, Jesus
Ser a Cinderela do meu Canindé
A flor mais bela, quem é que não quer?!
Vencer o preconceito, lutar é nosso direito
Não duvide da bravura da mulher.
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Por Isabella Martinez – Fala! Anhembi