quinta-feira, 10 outubro, 24
HomeColunasResenha: Uma Casa à Beira Mar

Resenha: Uma Casa à Beira Mar

Por Daniel Benites – Fala!Cásper       

 

Nostalgia, conflitos familiares e dilemas pessoais estão entre os muitos temas abordados em “Uma Casa à Beira Mar”, mais recente filme do diretor francês Robert Guédiguian.

A trama se passa em uma pequena vila à beira mar, onde um idoso se encontra em seus últimos meses de vida, em estado vegetativo. Seus três filhos, Armand, Joseph e Angéle, reúnem-se na mansão após muitos anos sem se encontrarem. Armand vive na ilha, trabalhando no restaurante e hospedaria construídos pelo pai. Joseph é um escritor que se encontra amargurado e sem inspiração, vivendo com uma mulher muito mais jovem e a cada dia mais distante dele. Já Angéle é uma atriz de teatro, que não encontra os familiares há mais de quinze anos, por motivos que vão se revelando ao longo do filme.

Os três precisam decidir se devem vender ou não todo o patrimônio conquistado pelo pai, o qual se resume a uma hospedaria e um restaurante que, ainda que construídos com a intenção de ajudar os menos abastados, movimentava boa parte dos moradores da vila em outros tempos. Ainda que todos se inclinem a mantê-los, a situação é complicada. Não apenas eles já não possuem mais recursos, todos os que habitavam o vilarejo partiram para outros lugares ao longo do tempo.  No presente, os únicos habitantes são um casal de idosos e seu filho médico, além de um pescador solitário, amante de teatro.

Os irmãos divergem em muitos pensamentos a respeito do futuro da propriedade. Apesar de valorizarem os sonhos da juventude do pai, percebem que não tem como se manter com a vila praticamente deserta. Nas discussões, problemas não resolvidos do passado vêm à tona, dificultando sempre a relação ente os três. Joseph se vê triste com a situação, sentindo que será obrigado a enterrar não apenas o sonho de seu pai, mas a sua própria luta contra a injustiça mundana, tema frequente de todos os seus diálogos no filme. Armand é mais reservado e quieto que o irmão, mas não por isso deixa de sentir o mesmo. Angéle, por brigas com o pai, vários anos antes, deseja sair o mais rápido possível da vila e voltar para sua turnê. A atriz se sente solitária ao lembrar dos velhos tempos e encontra no pescador um amigo, já que ambos apreciam o teatro mais do que tudo.

Ainda assim, situações que vão surgindo ao longo do enredo permitem com que os irmãos não apenas reconsiderem suas atitudes um com o outro, mas também (e principalmente) acaba por enchê-los de esperança em relação ao futuro. A chegada imprevista de um barco de refugiados do Oriente, comunicada a todos pelos soldados que guardam a fronteira, pode ser uma oportunidade para suprimir erros e conquistar o que o pai lutou a vida toda para conseguir: ajudar os mais próximos.

O enredo foca na comparação que os protagonistas fazem do passado alegre na vila com um presente solitário e infeliz, sem, no entanto, apelar excessivamente ao sentimental. A harmonia entre os atores protagonistas, Ariane Ascaride (Angéle), Jean-Pierre Daroussin (Joseph) e Gérard Meylan (Armand), contribui para que a história flua naturalmente e sem remeter a sentimentos exagerados. Além disso, vale notar que em diversos momentos em que se lembram do passado e se veem e situação de mudança, contemplam as ondas do mar, remetendo a uma metáfora de que tudo sempre vai e vem, mas nunca permanece exatamente o mesmo.

Uma Casa à Beira Mar transmite esperança a quem assiste e vontade para seguir em frente, inspirando-se no passado para construir melhor um presente.

ARTIGOS RECOMENDADOS