A pílula do dia seguinte é um contraceptivo de emergência utilizado pelas mulheres após uma relação sexual desprotegida. Vendido nas farmácias sem necessidade de prescrição médica, o medicamento age para impedir o início de uma gravidez indesejada. Contudo, a pílula não deve ser utilizada com frequência, pois contém em sua composição substâncias que podem causar danos no longo prazo ao organismo feminino.
Pílula do dia seguinte: uma bomba hormonal
Para que a mulher engravide, o útero precisa apresentar uma série de condições favoráveis à fecundação, uma delas é a ocorrência da ovulação, processo biológico mensal no qual o óvulo é liberado nas tubas uterinas para ser fecundado pelos espermatozóides. É nesse processo que age a pílula do dia seguinte.
O medicamento atua criando maneiras de impedir a fecundação. Caso a mulher não tenha ovulado, ela atrasa a ovulação e deixa o muco cervical mais espesso, o que dificulta a chegada dos espermatozoides ao óvulo. Também, torna o endométrio (a camada interna do útero) pouco receptiva para a gestação, além de alterar a mobilidade do esperma.
Para sua maior eficácia, é recomendado que a pílula seja ingerida em dose única imediatamente após a relação desprotegida. Quando o tratamento é iniciado dentro de 72 horas após a relação, o risco de engravidar pode ser reduzido em até 75%.
Devido a elevada carga de hormônios no organismo, a pílula pode causar inúmeros efeitos adversos quando utilizada com frequência. Entre eles está a redução gradativa da sua eficácia, o que aumenta o risco de uma gravidez. Além disso, ela pode provocar dores de cabeça, náuseas, vômitos, fadiga e sangramento excessivo. Também é comum a desregulação do ciclo menstrual.
“O uso prolongado da pílula do dia seguinte também pode causar complicações cardiovasculares como infarto, derrames e AVC (Acidente Vascular Cerebral)”, afirma Caroline Padilha, médica ginecologista da Universidade Federal do Paraná (PR). “O recomendado é que se use de três a quatro vezes por ano.”
É válido ressaltar que o medicamento não é abortivo, uma vez que não tem qualquer efeito sobre o óvulo já fecundado. Da mesma forma, não causa má formação fetal e nem previne doenças sexualmente transmissíveis.
Educação sexual ineficaz
Por ser facilmente comprada nas farmácias e apresentar um custo relativamente acessível, muitos jovens utilizam a pílula do dia seguinte de maneira inadequada. É o que aconteceu com Alicia Bastos, uma estudante do ensino médio de Curitiba.
Quando completou quinze anos, a jovem decidiu iniciar a vida sexual com seu namorado. Apesar do preservativo não ter estourado na primeira relação, Alicia decidiu tomar a pílula do dia seguinte por medo de engravidar, mesmo sem existirem riscos reais. “A possibilidade de ser mãe tão nova me deixou aterrorizada. Eu pensava: como vou contar pros meus pais que estou grávida?”, relatou a estudante. “A minha menstruação ficou bagunçada e tive sangramento excessivo.” Hoje, Alicia reconhece que a sua inexperiência com métodos contraceptivos na época contribuíram para que tomasse a pílula sem necessidade.
A ginecologista Caroline Padilha ressalta a importância da educação sexual para o uso adequado da pílula do dia seguinte. “A melhor forma de prevenção continua sendo a informação. A pílula do dia seguinte só deve ser usada como último recurso: quando a camisinha estoura, quando a mulher esquece de tomar o anticoncepcional por mais de dois dias ou quando o sexo acontece sem consentimento”, conclui a médica. “Quando houver escolha, o ideal é que o planejamento familiar sempre seja a primeira opção.”
A recomendação é que, após tomar a pílula sem prescrição médica, a mulher procure um ginecologista imediatamente para acompanhar os possíveis efeitos adversos em seu organismo.
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Por Ludi Evelin Moreira dos Santos – Fala! Universidade Federal do Paraná