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Opinião: Governos mundiais são transparentes quanto ao coronavírus?

A pandemia do coronavírus tem colocado à prova o governo das maiores potências do mundo. Itália, Estados Unidos e Brasil são algumas das nações que estão sofrendo com um abalo político por conta das ações de seus governantes que contrariam  as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No meio da crise da Covid-19, não são só as consequências da doença que estão chamando a atenção da população, a forma como os principais líderes mundiais lidam com a questão também está sob holofotes. Falas como “Não estou preocupado” e “ Gripezinha ou resfriadinho” já foram ditas em referência ao surto de coronavírus, o que causou grande críticas e alvoroço em todo o mundo.

A Itália é o país com o maior número de vítimas da pandemia no mundo. No fim de fevereiro, o governo resistiu para promover ações de combate ao vírus e foi no dia 21 do mesmo mês que foi confirmada a 1ª morte. A região da Lombardia no norte do país é a mais afetada pelo o surto da Covid-19, mas antes do início da quarentena, o governador Attilio Fontana ordenou o fechamento de bares e restaurantes. O governo central, entretanto, anulou a decisão alegando que ações como essa eram desnecessárias e culpou a imprensa por uma cobertura exagerada.

Apenas no dia 9 de março, foram adotadas medidas de restrição para todo o território italiano. Nesse momento, o número de infectados já passava de 7000, segundo dados do Ministério da Saúde do país.

A maior potência do mundo, EUA, não fica fora das ondas de críticas quanto à postura adotada na crise do coronavírus. Em janeiro, quando foi diagnosticado o primeiro caso, o presidente Donald Trump alegou não estar preocupado e que tinha tudo sob controle. Além disso, descartou qualquer medida restritiva para preparar o sistema de saúde do país para o surto do vírus que estava a caminho.

Durante um período, Trump usou suas redes sociais para demonstrar que não estava receoso com o aumento do número de casos entre os americanos.

No ano passado, 37.000 americanos morreram da gripe comum. A média fica entre 27.000 e 70.000 por ano. Nada será fechado, a vida e a economia continuam. Neste momento, existem 546 casos confirmados de Coronavírus, com 22 mortes. Pense nisso!

Disse em uma de suas postagens

Donald Trump tem como um dos pilares de seu mandato a economia. Então, apesar de falar sobre a doença, ele manteve um olhar político ao lidar com os efeitos que a crise levou para o país. 

Mas, com o avanço do surto, Trump foi se realinhando às recomendações da OMS e, aos poucos, todos os estados americanos foram promovendo medidas de restrição. Atualmente, EUA são o epicentro da pandemia no mundo, mesmo o presidente ainda tentando relutar quanto as medidas de prevenção, a população segue o isolamento social no intuito de achatar a curva de contágio.

No Brasil, o número de registros de infectados cresce de modo alarmante, assim como algumas ações de Bolsonaro. O presidente vem dando declarações polêmicas e conflitantes ao discurso de especialistas, inclusive ao do Ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Essa realidade vem causando desconforto para a população e inclusive para parte de políticos apoiadores do governo. 

Nesse sentido, governadores e prefeitos vêm tomando atitudes isoladas em seus territórios, já que não veem segurança na postura de Jair Bolsonaro. Em um dos seus atos mais controversos, o presidente foi ao encontro de seus eleitores em uma passeata que aconteceu no dia 15 de março em Brasília. Evidentemente, houve uma onda de críticas de especialistas e famosos que usaram as redes socais para expressarem sua opinião sobre o ocorrido. 

Ator Bruno Gagliasso defende o SUS e a falta de ideologia política no combate à pandemia. | Foto: Reprodução/Twitter.

Os governadores Wilson Witzel (RJ) e João Doria (SP) acusam abertamente a falta de comprometimento de alguns componentes do governo federal. Doria protagonizou um desentendimento público com o presidente, em umas das videoconferências que acontecem durante o período do surto da doença. Após o ocorrido, o governador paulista já afirmou que a população não deve seguir as recomendações de Bolsonaro sobre o coronavírus.

Mandetta também foi um dos críticos da atitude do presidente em comparecer na manifestação. Apesar disso, Bolsonaro manteve sua postura omissa diante das informações mundiais sobre o estragos da Covid-19 e chegou a dizer em pronunciamento oficial que a doença era uma “Gripezinha ou resfriadinho”. Além de ter afirmado em uma entrevista à Rede TV! que “Se o vírus pegar em mim, não vou sentir quase nada”, porque segundo o presidente, ele foi atleta e levou uma facada.

Em contramão às atitudes de Bolsonaro, o Ministro da Saúde vem ganhando destaque por suas falas e ações. De maneira lúcida, Mandetta, que é médico ortopedista, tenta expressar um lado humano, mas sem esquecer da parte técnica em seus discursos, por conta disso recebe elogios de especialistas da área da saúde e de grande parte dos brasileiros.

Bolsonaro deixa explícito sua preocupação com a economia, assim como Trump, já o Ministro Mandetta prioriza a saúde da população. Os dois tentam encontrar um equilíbrio em seus discursos, mas o que se vê ainda é um desencontro de informações a serviço da população.

Diferentemente dos citados anteriormente, a Coreia do Sul vem sendo usada como exemplo no combate à pandemia. O país, desde o primeiro momento, adotou medidas potentes e restritivas, desde fevereiro fechou escolas e promoveu o diagnóstico em massa, tentando testar o maior número possível de pessoas.

Além disso, o governo asiático juntou as forças da polícia e dos profissionais de saúde no tratamento e na identificação dos infectados. A ordem de isolamento social foi prontamente acatada pelos sul-coreanos que foram obrigados a baixar um aplicativo em seus celulares. A partir dessa plataforma, o governo recebia informações de quem estava indo às ruas e desrespeitando a quarentena, ao fazerem isso, os cidadãos eram multados.

Na China, onde começou a crise da Covid-19, as ações das autoridades também foram elogiadas pela OMS. O país conseguiu diminuir a taxa de contágio por meio de um isolamento obrigatório que é o modelo apoiado pelos especialistas. Wuhan foi uma das regiões responsáveis pelo maior numero de infectados, mas a quarentena de toda a população resultou no declínio de contagiados pela doença.

A favor do governo chinês, também houve uma grande conscientização da comunidade que prontamente atendeu às recomendações. Escolas, restaurantes, cinemas e praças foram fechadas, o que reflete o momento em que a China se encontra, prestes a deixar o isolamento obrigatório, sendo um exemplo de que é possível passar pela pandemia.

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Por Lucas Soares – Fala! UFRJ

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