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Opinião: As 7 provas de Moro contra Bolsonaro e como isso o afeta

Os últimos dias de abril e os iniciais de maio foram bastantes turbulentos em Brasília. Diante de uma pandemia, o país sofre uma crise política intensa com um governo totalmente instável e polêmico. Marcado por esporádicas demissões e contratações, o governo de Jair Bolsonaro sofre mais uma mudança, com a saída do Juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, o que era para ser uma saída “pacífica” (visto a demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) e sem polêmicas se tornou um furacão com as declarações de Moro.

Segundo o juiz,  Bolsonaro o teria pressionado a substituir o então Diretor-Geral, Maurício Valeixo, e o superintendente da PF do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi. De acordo com Moro, o presidente também buscava ter mais acesso a informações de investigações ainda em curso. Diante de toda a polêmica envolvendo suas declarações, o ex-ministro apresentou à Polícia Federal cerca de 7 provas que comprovam a interferência política de Bolsonaro.

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Sergio Moro e Jair Bolsonaro. | Foto: Reprodução.

As 7 provas de Moro contra Bolsonaro

Troca de mensagens com Bolsonaro

Após o presidente responder às acusações emitidas por Moro em sua declaração, dizendo que eram “infundadas”, o ex-ministro revelou à TV Globo mensagens de texto trocadas com o presidente no dia 23 de abril, que comprovam a veracidade das acusações.

Na troca de mensagens, Jair Bolsonaro envia ao ex-ministro uma matéria do site O Antagonista, na qual relatava que a PF estava “na cola” de cerca de 12 deputados “bolsonaristas”, e o presidente a justifica como “mais um motivo para a troca”, se referindo à mudança da Diretoria-Geral da PF.

O ex-ministro então respondeu dizendo que as inquéritos teriam sido conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, e prossegue dizendo “Diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas”, se opondo, assim, à substituição de Valeixo na diretoria-geral da PF e finalizando com “Conversamos em seguida, às 9h”, referindo-se ao encontro de Moro com Jair Bolsonaro.

Troca de mensagens com Carla Zambelli e possível indicação ao supremo

Logo após as acusações de Sergio Moro, Bolsonaro emitiu em sua declaração oficial que o ex-ministro aceitaria a demissão de Valeixo, caso fosse indicado como ministro do STF. Moro então enviou provas ao Jornal Nacional, nas quais são apresentadas mensagens trocadas com a deputada federal Carla Zambelli do PSL.

Na conversa, Carla diz ao ex-ministro: “Por favor, ministro, aceite o Ramage”, se referindo a Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da ABIN, ex-chefe de segurança da campanha de Bolsonaro em 2018 e, posteriormente, nomeado diretor-geral da PF com a saída de Valeixo. A deputada ainda disse: “e vá em setembro para o STF”. “Eu me comprometo a ajudar”, acrescentou. “A fazer JB prometer”, complementou, persuadindo o ex-ministro a aceitar a substituição em troca do apoio para a  indicação do ex- ministro ao STF.

Sergio Moro então respondeu a deputada dizendo: “prezada, não estou a venda”,  Carla então continua, “Ministro, por favor, milhões de brasileiros vão se desfazer”, e respondendo a última mensagem do ex-ministro “Eu sei”, “Por Deus, eu sei”; acrescentando então: “Se existe alguém que não está à verba é o senhor” (possivelmente, a palavra “verba” foi um erro cometido pela deputada, significando assim “venda”), então Moro responde com: “Vamos aguardar, já há pessoas conversando lá”, finalizando a conversa.

A troca de mensagens com Zambelli, comprova a inverdade dita pelo presidente em suas declarações de que o ex-ministro propôs aceitar a substituição de Valeixo, caso o cargo no STF fosse lhe dado, o que não ocorreu, pois, segundo as mensagens, o ex-ministro não tinha interesse na substituição Valeixo pelo cargo no supremo.  

O pressionamento do presidente para a troca da superintendência

Sabe-se que Jair Bolsonaro está insatisfeito com a superintendência do Rio de Janeiro e a Direção-Geral da PF há muito tempo, diante que, em agosto de 2019, o presidente mostrava interesse de trocar o comando da corporação do Rio “por falta de produtividade” para indicar alguém de sua preferência.

Meses se passaram e, com a demissão de Sergio Moro, o ex-ministro revelou à Polícia Federal que o presidente desejava a substituição do superintendente do Rio de Janeiro, pois era onde investigações do interesse  família do presidente e de seus aliados estavam sendo conduzidas, comprovando mais uma vez a interferência política do presidente.

De acordo com Moro, em mensagens trocadas com Bolsonaro , o presidente disse: “Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.

Gravações do Planalto

Ainda segundo o ex-ministro, no dia 22 de abril em sua declaração no Planalto, Bolsonaro ainda afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e que para trocar a superintendência do Rio, substituiria até o Ministro da Justiça e o Diretor-Geral da PF, se referindo a Moro e Valeixo. Tais declarações estão presentes na gravação emitida no Palácio do Planalto e entregues ao STF nesta terça (5).

Acesso aos relatórios da PF

O juiz apresentou protocolos de relatórios da ABIN, no qual comprovam que o presidente já teria acesso às informações de inteligência da PF, que o próprio tinha direito, e não satisfeito almejava da troca da PF para um maior acesso a informações confidenciais. 

De acordo com Moro, em uma de sua reuniões, o ministro Heleno afirmou que “o tipo de relatório de inteligência que o presidente queria não tinha como ser fornecido”, referindo-se ao desejo do presidente em possuir informações da PF.

Outras provas emitidas são as declarações que estão a serem feitas de Ricardo Saadi, ex-superintendente do Rio de janeiro, de Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da Polícia Federal e do próprio ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.

Com a explosiva saída de Moro, Brasília e o governo Bolsonaro tendem a tornar suas trajetórias de instabilidade ainda mais intensas. O país apresenta uma crise política e econômica em um período de calamidade. Em meio à pandemia, a população brasileira ainda sofre com um governo instável, com intensa substituição de cargos.

A demissão do ex-ministro e suas declarações enfraquecem o Presidente, diante de que a má sucessão do mandato vem se tornando cada vez mais real aos olhos dos eleitores que votaram em Jair Bolsonaro e em toda a população brasileira, unindo-se à postura do presidente em relação à pandemia e às mortes recentes, pode-se dizer que a cada dia Jair Bolsonaro perde apoio e se torna mais impopular em relação aos brasileiros.

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Por João Pedro da Costa – Fala! UFPE

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