Os serviços de streaming se popularizaram a partir de 2013 com o lançamento de uma das séries de maior sucesso da Netflix, House of Cards. A rede de vídeos sob demanda se propôs a investir em uma série de drama político, desacreditada pela maioria dos estúdios em que a produção foi oferecida. Como consequência da escolha assertiva, a Netflix se caracterizou como a grande revolucionária digital no universo do entretenimento (posição que ainda mantém, mesmo que ameaçada). A partir de então, a marca cresceu em proporções inimagináveis e seus “tentáculos” começam a esbarrar no até então intocável cinema.
Por oferecer maior facilidade de acesso e exibição de filmes, séries e outras produções audiovisuais por uma pequena quantia mensal, a Netflix conquistou muitos consumidores ao redor do globo. Além de exibir vídeos online, sem a necessidade de demorados downloads (o que contribuiu para a diminuição – mas não extinção – da pirataria), a pioneira do streaming disponibiliza também um enorme acervo ao gosto do espectador. Apostando na “economia de bundling”, isto é, na venda de produtos por pacotes (o que aumenta a chance do consumidor de encontrar algo que o interesse), a Netflix ultrapassou o cinema no que se refere a possibilidades e experiência.
Enquanto isso, os defensores da Sétima Arte defendem exatamente a experiência. Para muitos dos atores e produtores, o diferencial das telonas continua sendo a possibilidade de viver algo diferente do habitual. O executivo sênior da Warner Bros, Toby Emmerich, chegou a afirmar que “muito mais pessoas tiveram seu primeiro beijo em um cinema do que na sala de estar dos seus pais”. Para enfatizar a importância de frequentar as sessões, o cinema passa a se esforçar cada vez mais em proporcionar a melhor experiência possível ao espectador. Com salas 3D ou multiplex, o consumidor tem acesso a diferentes sensações e mordomias que antes não existiam. Tais tecnologias, porém, custam caro e aí está mais uma das vantagens dos serviços de streaming: os preços baixos.
Enquanto o valor gasto para assistir um filme nos cinemas for quase equivalente à assinatura mensal da Netflix (por exemplo), os espectadores irão pensar duas antes de se locomover aos cinemas de suas cidades. A associação entre streaming e internet possibilitou maior facilidade na distribuição de conteúdo com menores gastos e maior alcance.
Contudo, o cinema também não está tão para trás nessa disputa. Nos últimos meses, com o lançamento de live actions de filmes renomados da Disney e de continuações das sagas da Marvel, as bilheterias chegaram à casa dos bilhões. Os chamados “blockbusters” e as já famosas sagas são a aposta da Sétima Arte para sua sobrevivência em meio ao avanço do streaming. Nesses casos, a fidelização do espectador é essencial.
Porém, apesar de ter sido a primeira a nadar em águas tão profundas, a Netflix corre o risco de morrer na praia. Grandes estúdios cinematográficos enxergaram o potencial de uma rede de distribuição de conteúdo como o streaming e pretendem lançar em breve suas próprias plataformas. A Disney+ e a HBO Max são as mais esperadas por trazerem ao conforto das telinhas grandes sucessos como os recentes live actions, Os Vingadores, Friends, Game of Thrones e Euphoria. Dessa forma, tais produções serão enxugadas do catálogo da Netflix, que terá que lidar com uma estrondosa concorrência até então inexistente.
Muitos são os questionamentos que cercam essa batalha: o streaming vai acabar com o cinema? O cinema nunca perderá a sua “majestade”? Quem se dará melhor no fim dessa guerra? A verdade é que é impossível saber. Talvez a grande concorrência entre diferentes plataformas de streaming faça com que esse sistema perca a força e o cinema abrace os possíveis desiludidos. Talvez o cinema realmente desapareça aos poucos em função das múltiplas possibilidades ofertadas pelo streaming. A única certeza que se tem é a de que os espectadores continuarão, por muito tempo, grudados nas telas com seus baldes de pipoca na mão só esperando o filme começar.
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Por Beatriz Zolin – Fala! Cásper