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O abismo entre o futebol e os outros esportes é cada vez maior

Em tempos de cortes, os já ignorados esportes olímpicos, e os não olímpicos também, terão no próximo ano menos de 50% dos recursos que foram propostos durante o governo Michel Temer, para 2019, ou seja, R$ 220 milhões. O ano de 2020 é emblemático, pois ocorrerá a próxima edição dos Jogos Olímpicos, em Tóquio. Mas, se engana quem pensa que a prática esportiva como um todo sofrerá um grande baque, uma vez que os valores se mostram cada vez mais generosos para os grandes clubes de futebol do país.

Para efeito de comparação, o Flamengo prevê receber com direitos de transmissão esse ano o total de R$ 260 milhões, segundo Rodrigo Capelo, jornalista do Globoesporte.com, especializado em negócios do esporte.  Ou seja, sozinhos, os cariocas receberão um total superior ao planejado para ser investido em esporte, no país, durante o próximo ano. O abismo financeiro que se abre, entre o futebol e os demais esportes, é de tamanho colossal.

Se, por um lado, o futebol brasileiro encanta os olhares dos jovens com a promessa de defender grandes clubes, ascender socialmente e mudar o padrão de vidas de seus familiares, com os demais esportes não é bem assim. A falta de estrutura dos times – que em muitos dos casos veem os esportes olímpicos como “custo extra” –, dos centros de treinamento, a condição financeira e o apoio familiar impedem que muitos sigam com o sonho. Isso pode fazer com que muitos desistam no meio do caminho. A seguir, confira o depoimento de Matheus, atleta do time juvenil de vôlei do Flamengo, a respeito das verbas destinadas a esse esporte:

Pelo Flamengo, eu joguei quatro campeonatos brasileiros de seleção […]. Fui campeão uma vez e fiquei em terceiro em outra. Quando você pega pódio nesse campeonato, você ganha o bolsa atleta, que é um dinheiro que o governo te dá mensalmente. Um campeonato foi em 2017 e outro em 2018, só que, como o governo estava quebrado, o dinheiro de 2017 só entrou esse ano e o de 2018 vai entrar no ano que vem. Então preciso estar jogando para receber esse dinheiro.

Até o ano passado, a Caixa Federal patrocinou 25 clubes, pagando cerca de R$ 130 milhões, segundo reportagem do portal Terra. Esse valor foi dado nas mãos de dirigentes que constantemente estão envolvidos em negociações escusas, como é o caso do atual mandatário do Cruzeiro – clube que era patrocinado pela estatal –, como foi revelado em reportagem no Fantástico em maio deste ano.

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Por mais que venha crescendo nos últimos tempos, sobretudo devido à Copa da França, o futebol feminino ainda é um universo à parte do masculino. Apesar de se tratarem do mesmo esporte, suas realidades são bem diferentes, para não dizer contraditórias. Enquanto meninos de 5 anos já ganham sua primeira bola, são incentivados pelos pais e aos 17 ganham salários milionários, as meninas são constantemente desestimuladas a correrem atrás da bola e começam a praticar esportes mais tarde. Há menos de 40 anos, as “Martas” eram proibidas de calçarem chuteiras.

Além do preconceito, da falta de apoio e, muitas vezes, de insatisfações da própria família, não podemos esquecer que o futebol feminino ainda enfrenta a abissal desigualdade nas premiações: R$ 120 mil contra R$ 48,3 milhões para o campeão brasileiro em 2019; R$ 15,4 milhões contra R$ 146,5 para o campeão mundial; e assim se seguem outros tantos casos de desigualdade. Cabe destacar, ainda, que a frase “o futebol feminino não tem patrocínio porque não é atrativo” pode se tornar, sem esforço argumentativo, “o futebol feminino não é atrativo porque não tem patrocínio”. 

Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação
Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação

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Carlos Vinícius Magalhães – Fala! UFRJ

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