sábado, 20 abril, 24
HomeEsporteMegan Rapinoe: conheça a melhor jogadora da Copa do Mundo feminina 2019

Megan Rapinoe: conheça a melhor jogadora da Copa do Mundo feminina 2019

A seleção americana de futebol feminino consagrou-se campeã da Copa do Mundo Feminina de 2019 pela quarta vez em sua história, demonstrando seu amplo domínio na modalidade. Mas, durante a campanha na competição, uma atleta se sobressaiu: Megan Rapinoe, eleita a melhor jogadora do torneio.

Conheça a história de Megan Rapinoe

            Megan Anna Rapinoe nasceu em 5 de julho de 1984, em Redding, na Califórnia, e cresceu junto dos pais, Jim e Denise, e cinco irmãos, incluindo sua gêmea, Rachael. Começou a praticar futebol logo aos 3 anos de idade por influência do irmão, Brian, e passou a maior parte de sua juventude jogando em equipes treinadas por seu pai.

            Em 2005, Megan e sua irmã entraram na Universidade de Portland, em Oregon, e passaram a fazer parte do time de futebol feminino do Portland Pilots, equipe multiesportiva da faculdade. Nesse ano, Rapinoe começou a se destacar como atleta, sendo titular no time dos Pilots que conquistou o Campeonato de Futebol Feminino da Divisão I da NCAA (em inglês, National Collegiate Athletic Association) de forma invicta.

Carreira de Megan Rapinoe

            No ano de 2006, Megan estava entre as principais artilheiras do país, com dez gols e duas assistências em onze partidas, quando, no dia 5 de outubro, sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior (LCA), encerrando sua participação. Em 2007, teve sua segunda contusão faltando dois jogos para o final da temporada.

            Em 2008, retomou a titularidade dos Pilots após se recuperar da lesão do ano anterior. Naquela temporada, se destacou após marcar cinco gols e dar incríveis 13 assistências em uma partida na qual seu time ganhou de 20 a 2, sendo também eleita a Jogadora do Ano da Conferência da Costa Oeste.

Megan Rapinoe jogando pelo Portland Pilots
Megan Rapinoe jogando pelo Portland Pilots

Em 2009, aos 25 anos, Rapinoe se tornou atleta profissional de futebol após ser selecionada em segundo lugar no WPS Draft 2009 pelo Chicago Red Stars para a primeira temporada da Women’s Professional Soccer (WPS), a principal divisão de futebol dos Estados Unidos na época.

Pela equipe, foi nomeada, em agosto daquele ano, para o All-Star Team da Liga, após uma temporada em que foi titular em 17 dos 18 jogos do time, marcando dois gols e dando três assistências.

No ano de 2013, Megan assinou por seis meses com o Olympique Lyonnais, que já havia conquistado seis campeonatos franceses e dois títulos europeus de maneira consecutiva. Pela equipe francesa, marcou 8 gols em 28 jogos e se tornou a quinta mulher americana na história a jogar a final da Liga dos Campeões, quando o Lyon foi derrotado pelo time alemão do VfL Wolfsburg por 1 a 0.

No segundo semestre de 2013, Rapinoe juntou-se ao elenco do Seattle Reign FC. Mesmo jogando apenas metade daquela temporada (12 jogos de 22), a atleta se tornou a artilheira da equipe com cinco gols.

Megan permanece no time até hoje, conquistando, nos anos de 2014 e 2015, o NWSL (em inglês, National Women Soccer League) Shield, prêmio concedido à equipe com a melhor pontuação da temporada regular, e marcando 34 gols em 70 partidas disputadas.

Rapinoe em jogo pelo Seattle Reign FC
Megan Rapinoe em jogo pelo Seattle Reign FC

Pela seleção dos Estados Unidos, foi convocada pela primeira vez em 2002, integrando o time sub-16 do time americano. Entre 2003 e 2005, passou a jogar pelo time sub-19 dos EUA, disputando 21 partidas e marcando nove gols.

Rapinoe fez sua estreia pela seleção principal no dia 23 de julho de 2006, em um amistoso contra a Irlanda. Posteriormente, na data de 1 de outubro do mesmo ano, marcou seus primeiros dois gols pela seleção em um outro amistoso, dessa vez contra a seleção de Taiwan.

Em 2011, Megan foi convocada para sua primeira Copa do Mundo, sendo titular em todos os jogos da seleção americana na competição. A jogadora ficou marcada pela assistência para o gol de Abby Wambach no minuto 122 da prorrogação, nas quartas-de-final do campeonato contra o Brasil, levando a decisão para os pênaltis.

Na disputa, Rapinoe converteu sua cobrança e ajudou sua seleção a passar para as semifinais. Naquela Copa, os Estados Unidos chegaram à final, mas perderam nos pênaltis para o Japão por 3 a 1. Megan terminou sua participação no torneio com um gol e três assistências. Após a competição, sua cidade natal, Redding, a homenageou com um desfile e nomeou o dia 10 de setembro como “Megan Rapinoe Day”.

No ano de 2012, Rapinoe ajudou os EUA a conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres. Sua principal atuação foi na semifinal contra o Canadá, marcando dois gols na dramática vitória da seleção na prorrogação por 4 a 3, sendo o primeiro deles um gol Olímpico.

Na final, o time americano derrotou o Japão por 2 a 1, com Megan dando uma assistência para o segundo gol. A atleta terminou o torneio com três gols e quatro assistências e foi nomeada para diversas listas de “Seleção da Competição”, incluindo aquelas feitas pela BBC e All White Kit.

Em 2015, a jogadora participou da conquista do título da Copa do Mundo Feminina de maneira invicta, marcando dois gols durante a campanha americana no torneio. Na final, novamente contra o Japão, os Estados Unidos ganharam de 5 a 2, com Rapinoe dando assistência para um dos gols.

Rapinoe comemorando o título da Copa do Mundo de 2015
Megan Rapinoe comemorando o título da Copa do Mundo de 2015

Após não chegar muito longe nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, a seleção norte-americana voltou a se destacar na Copa do Mundo de 2019, disputada na França, e tendo Rapinoe como uma das protagonistas novamente.

Durante a campanha, que terminou com o título da equipe dos EUA, Megan, atuando como uma das capitãs americanas, se sobressaiu ao marcar cinco gols e dar duas assistências em quatro jogos disputados. Na final, fez o primeiro gol da vitória do time dos Estados Unidos sobre a seleção da Holanda por 2 a 0, sagrando-se campeã, pela segunda vez na carreira, do torneio.

Além disso, foi premiada como artilheira, ao lado de sua companheira de seleção Alex Morgan e da inglesa Ellen White, com 6 gols marcados, e eleita a melhor jogadora da final e da competição.

Megan Rapinoe com os prêmios de artilheira e melhor jogadora da Copa do Mundo
Megan Rapinoe com os prêmios de artilheira e melhor jogadora da Copa do Mundo

Megan Rapione e sua ligação com o irmão

Megan sempre foi muito ligada a seu irmão, Brian, afirmando que ele foi sua inspiração para seguir a carreira de jogadora. Quando pequenos, Brian era o membro da família que fazia todos rirem. As dancinhas engraçadas e as imitações de Jim Carrey marcaram a infância de Rapinoe, fazendo-a vê-lo como um herói.

Megan (à direita) e Brian na infância
Megan Rapinoe (à direita) e Brian na infância

Porém, aos 12 anos, Brian começou a fumar maconha e, três anos depois, foi preso por levar metanfetamina para a escola. Nessa época, foi para um centro de detenção de menores e começou a ver Megan se revoltar pelo caminho que vinha tomando.

  Aos 18 anos, após ser liberado do centro de detenção, o jovem se envolveu em coisas piores. Avançou para outras drogas, especificamente heroína, e foi novamente preso sob alegações de roubo de carro.

Na prisão, se aliou a seguidores do nazismo e chegou a fazer uma tatuagem de suástica na palma da mão, alegando que assim se manteria vivo e conseguiria proteção e drogas para continuar seu vício em heroína.

Enquanto isso, sua família sofria de forma devastadora, principalmente Megan, que se comunicava com ele por meio de cartas e telefonemas e passou a maior parte de sua vida achando ter perdido seu maior ídolo.

 Após esse período, Brian foi mandado para a prisão de segurança máxima de Pelican Bay. Lá, teve contato com pessoas de culturas, ideias e etnias diferentes, fazendo-o questionar seu próprio racismo e desenvolver uma nova compreensão de sua vida.

Brian arrumou algumas de suas tatuagens (a suástica, por exemplo, virou uma teia de aranha), mas ainda lidava com o vício em heroína.

Em 2011, da prisão, ele assistiu à Copa do Mundo e ficou extremamente orgulhoso ao ver sua irmã fazendo parte da seleção americana de futebol feminino, mobilizando todos os presos a assistirem aos jogos. No ano de 2015, ainda na cadeia, Brian viu Rapinoe ser essencial na campanha americana que resultou no título da Copa do Mundo Feminina.

Em entrevista à ESPN norte-americana, Brian declarou: 

“Eu estava super feliz pela Megs e super triste por mim. Eu amo muito a minha família, e todos eles estavam lá. Entendi que eu não podia nem ser parte daquilo. Sim, eu fiz muitos torcerem por ela na prisão, mas, quando o jogo acabou, eu estava sentado na minha cela e não podia abraçá-la. Não estava lá para testemunhar isso. Foi mais uma coisa da vida da minha família que eu perdi. O que estou fazendo com a minha vida?”

            Mas foi em 2016 que Brian teve um insight.Em uma partida da seleção dos EUA, Rapinoe se ajoelhou durante a execução do hino nacional, além de não cantá-lo como de costume, como forma de protesto contra a violência policial, especialmente contra a população negra.

A imagem viralizou mundialmente e fez seu irmão sentir orgulho de sua atitude. “Eu quero ser como Megan”, disse Brian ao ver a notoriedade que sua irmã ganhava e sua coragem para se expor.

Megan Rapinoe ajoelhada como forma de protestar contra o preconceito racial durante o hino nacional
Megan Rapinoe ajoelhada como forma de protestar contra o preconceito racial durante o hino nacional

O exemplo da irmã, seu profissionalismo e amor nutrido mesmo quando Brian parecia ter chegado ao fundo do poço tocaram o irmão. Ele resolveu, após 24 anos, que era hora de largar a heroína e recomeçar. Atualmente, ele faz parte de um programa de reabilitação e ressocialização do sistema prisional da Califórnia.

            Hoje em dia, os dois trocam mensagens diariamente. Todavia, o papel de herói na família Rapinoe parece ter mudado de mãos. Brian, que antes era venerado por sua irmã, passou a ter Megan como inspiração e exemplo de luta e coragem.

Megan Rapinoe fora do campo

            Além de ser uma excelente jogadora, Rapinoe chama a atenção por suas atitudes e declarações fora de campo, destacando-se por seu ativismo político e social. Descrevendo-se como um “protesto ambulante”, Megan é uma das principais representantes na luta pelos direitos das atletas norte-americanas.

Megan  Rapinoe é uma das responsáveis pelo processo mobilizado pelas jogadoras da seleção dos Estados Unidos contra sua federação, a acusando de favorecer de maneira discriminatória o time masculino, em um país onde a equipe feminina é amplamente mais vitoriosa. Seu objetivo é acabar com as diferenças salariais e das condições de trabalho existentes entre as seleções masculina e feminina.

            Além disso, Megan fez trabalhos filantrópicos para a Rede de Educação Gay, Lésbica e Heterossexual (GLSEN) e para o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos.

No ano de 2012, recebeu o prêmio de diretoria do Los Angeles Gay and Lesbian Center, por trazer a conscientização para as pessoas LGBT nos esportes. Em 2013, se tornou embaixadora da Athlete Ally, uma organização sem fins lucrativos que luta contra a homofobia no mundo do esporte.

No ano de 2015, foi introduzida no Hall da Fama Gay e Lésbico Nacional dos Esportes, criado para homenagear as personalidades e organizações LGBT e aliadas “cujas realizações e esforços melhoraram o esporte e o atletismo para a comunidade gay e lésbica”.

Em setembro de 2017 passou a colaborar com a campanha Common Goal, a qual incentiva atletas de elite a doar 1% do salário para questões ligadas à justiça social.

Megan Rapinoe
Megan Rapinoe se tornou uma voz ativa no esporte americano

Rapinoe também é voz ativa pela ajuda aos dependentes químicos, devido ao acontecido com seu irmão. Em entrevista coletiva durante a Copa do Mundo de 2019 afirmou:

“Pessoas que usam drogas precisam de ajuda também. Tenho a impressão de que a prisão fez com que meu irmão conhecesse pessoas que lhe davam mais acesso às drogas. Mas tenho opiniões particulares”

            Recentemente, Rapinoe chamou a atenção ao declarar que não iria visitar a “p… da Casa Branca” em caso de título americano na Copa do Mundo, mostrando que não teme usar sua força e os holofotes para confrontar um dos mais influentes líderes do mundo e fazer oposição a Donald Trump.

A atleta já afirmou em diversas ocasiões que as políticas da Administração Trump representam um retrocesso nas lutas por igualdade e pelo fim da discriminação racial, e que fará o máximo possível para denunciá-las.

            Atletas como Megan Rapinoe mostram como é possível utilizar a ampla exposição que muitos esportes recebem para expressar suas opiniões e ajudar nas causas pelas quais se acredita.

Em função de seu talento inquestionável, sua coragem, suas declarações e da grande divulgação que a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019 recebeu, o nome de Megan Rapinoe deve ser muito lembrado nos próximos anos.

_____________________________
Por Pedro Souza – Fala! Cásper

ARTIGOS RECOMENDADOS