Independente, inspirador e inovador. Esses três adjetivos são fundamentais para o futuro do jornalismo. Com a falência das grandes redações e o “boom” das redes sociais, agora é a hora de se reinventar.
Festival 3i de Jornalismo
Por isso, 13 plataformas jornalísticas nativas digitais organizaram a 2ª edição do Festival 3i de Jornalismo, realizado entre os dias 18 e 20 de outubro, no Rio de Janeiro.
O evento contou com palestras dos principais nomes nacionais e internacionais que pensam soluções inovadoras para o jornalismo, além de workshops e exibição de projetos.
Na cerimônia de abertura, Agostinho Vieira, um dos organizadores do festival e diretor do projeto Colabora, chorou ao citar Paulo Freire. “É preciso lembrar o papel do jornalista como transformador do mundo”, desabafou.
Colaboração
A palavra-chave das discussões foi “colaboração“. Diferente da lógica das redações antigas, que disputam o furo jornalístico entre si, o futuro da profissão depende cada vez mais da colaboração entre profissionais para melhorar a qualidade dos conteúdos.
“Associar-se à alguém continua sendo a melhor forma de aprender e fazer jornalismo”, disse José Roberto de Toledo, editor-executivo do site da revista Piauí.
Por que não compartilhamos nossa pequena experiência pessoal para diminuir nossa enorme ignorância coletiva?
disse José Roberto de Toledo.
O destaque entre os palestrantes foi Raull Santiago, fundador do Coletivo Papo Reto. Ele falou sobre a importância de iniciativas de comunicação independentes, que constroem uma rede de informações sobre as favelas e periferias a partir da vivência dos próprios moradores.
“Jornalismo periférico não fala só sobre violência e morte; a gente cria, fala sobre soluções.”, disse. Raull foi o único palestrante a ser aplaudido de pé. Com fala potente, ele ressaltou as dificuldades que pessoas negras e periféricas encontram para fazer parte do jornalismo hegemônico, e mostrou que é possível cobrir a cidade fora desses espaços.
“Estamos fazendo o nosso porque nunca tivemos espaço nas grandes redações”, disparou. “Para cada uma das mesas desse evento, tinha um jornalista favelado que poderia ter sido chamado para falar sobre.”
Questão financeira como vilão do jornalismo
A questão financeira é o principal vilão do jornalismo empreendedor, e foi tema citado em várias mesas de debate. Mas a solução pode estar na diversidade de fontes de receita.
Segundo Rosental Calmon Alves, fundador do Knight Center for Journalism in the Americas, essa é a saída para os novos modelos de jornalismo. “Na minha opinião, cobrar assinatura não é a solução”, completou.
Ele comentou a tendência estadunidense de jornalismo sem fins lucrativos. Isso significa que os sites e blogs buscam sustentabilidade para reinvestir nos seus negócios, sem buscar lucro através disso.
Combate às fake news
O combate às fake news também foi debatido sob a ótica de projetos independentes. A jornalista mexicana Tania Montalvo apresentou o projeto Verificado, uma iniciativa de fact-checking lançada em 2018 para as eleições mexicanas.
Para ela, é preciso mostrar para a sociedade as consequências reais das mentiras espalhadas na internet. “Temos que superar as barreiras do digital para combater a desinformação”, disse. “Isso tem que ser multiplataforma, nas TVs, no jornal, precisa estar estar em todos os terrenos”, completou.
“Hache” Ariel Merpet, jornalista argentino representante do projeto Chequeado, lembrou o papel da educação social no fact-checking. “A luta contra as informações falsas não é uma tarefa exclusiva do jornalismo”, disse.
É preciso educar as pessoas e ensiná-las a identificar e verificar informações falsas para uma mudança efetiva.
afirmou “Hache”.
O Google News Initiative e o Facebook Journalism Project também marcaram presença no evento. O Espaço Google contou com a exibição de projetos como Perifa Con, Agência Tatu de Jornalismo de Dados, CDD Acontece e Desenrola E Não Me Enrola.
No espaço do Facebook Journalism Project rolaram palestras sobre os conteúdos jornalísticos nas mídias digitais e orientações sobre como postar seu próprio conteúdo online no Facebook e Instagram.
O Festival
Acima de tudo, o Festival 3i é uma oportunidade de estar em contato com pessoas que buscam inovar no jornalismo. Em qualquer ponto do evento era possível ouvir conversas que misturavam sotaques de diferentes regiões do Brasil.
Pelos corredores, nos intervalos das palestras, jornalistas e estudantes do país inteiro trocavam vivências. E isso é o espírito do jornalismo. Como disse Glenn Greenwald, fundador do The Intercept, em uma das palestras: “Jornalismo não é uma profissão, é um estilo de vida.”
_____________________________________
Por Camille Lichotti – Fala! UFRJ