terça-feira, 10 dezembro, 24
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Dever, coragem e esperança em “Star Wars: Rogue one”

Por Leonardo Delatorre Leite – Reaviva MACK
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Aqui é o Mestre Obi-Wan Kenobi. Sinto informar que tanto a Ordem Jedi quanto a República sucumbiram, e que as forças sombrias do Império tomaram seu lugar. Esta mensagem é um aviso e uma lembrança a qualquer Jedi sobrevivente: confiem na Força. Não retornem ao Templo, esse tempo já passou, e o nosso futuro é incerto. Seremos todos postos à prova: nossa confiança, nossa fé, nossas amizades, mas devemos perseverar. E com o tempo uma nova esperança surgirá. Que a Força esteja com você, sempre.

(Aviso de Obi-Wan Kenobi ao Jedis acerca da ascensão do Império)

Por mais detestável que seja qualquer tipo de guerra, existem causas em favor das quais não lutar é um mal extremamente pior.

(John MacArthur)

Em muitos casos, pela regra do Evangelho, talvez sejamos obrigados a ajudar o próximo quando não podemos fazê-lo sem causar sofrimento a nós mesmos. Se as dificuldades e necessidades do próximo são muito maiores que as nossas e percebemos que ele não tem saída, temos de estar dispostos a sofrer com ele e levar parte de seu fardo em nossos ombros. De outro modo, como cumpriremos a ordem de carregar o fardo uns dos outros? Se aliviarmos o fardo do próximo apenas quando isso não nos prejudica, então como carregaremos o fardo do próximo se não queremos carregar fardo nenhum?

(Jonathan Edwards)
star wars
Rogue One: Uma história Star Wars.

‘Rogue one: Uma História Star Wars’, filme lançado em dezembro de 2016, dá continuidade aos eventos relacionados ao terceiro filme da saga; mostrando, assim, a consolidação do Império Galáctico como uma autoridade totalitária que impõe medo e temor sobre as diversas populações da galáxia.

A obra cinematográfica apresenta explicitamente o poderio bélico do Império e sua força em quesitos militares, ao passo que a resistência em prol da República, a chamada Aliança Rebelde, se demonstrava cada vez mais inepta.

Contudo, a despeito da superioridade desse sistema político organizado com base no terror generalizado, algumas pessoas ainda demonstraram coragem e interesse em lutar pelo bem e pela justiça, mesmo quando tudo parecia perdido e jogado na desesperança.

O presente texto tem como objetivo primordial estabelecer uma reflexão a partir do universo Star Wars, particularmente do filme Rogue One, acerca da eminência das virtudes e valores morais da coragem e da perseverança em meio a contextos dominados pela tristeza e pela preponderância do mal.

Um traço importante a ser destacado acerca do filme consiste no fato de que os personagens são pessoas comuns; não são jedis destacáveis ou grandes generais, mas sim personalidades que, inicialmente, demonstravam até certa indiferença, que agiam meramente por ordens cegas ou não apresentavam uma participação explícita na luta contra o império.

Contudo, com o decorrer dos eventos e acontecimentos da história, os personagens desenvolvem um vínculo pautado num objetivo comum: a destruição da maior e mais poderosa arma até então conhecida pela galáxia, a chamada Estrela da Morte, que se encontrava no domínio do Império e cujo poder era capaz de promover a destruição de um planeta.

Para evitar o colapso total da resistência, os personagens organizam um plano audacioso para adquirir informações secretas acerca da estrutura da Estrela da Morte, bem como de suas vulnerabilidades, com o intuito de que a Aliança Rebelde tomasse conhecimento das possibilidades de promover a ruína desse poderoso instrumento bélico imperial. 

Jyn Erso, a protagonista, ainda quando criança teve seu pai levado como refém pelo Império, uma vez que ele possuía o saber científico e técnico necessário para construção da Estrela da Morte.

Jyn, ao descobrir que enquanto seu pai ajudava coercitivamente nas etapas estabelecidas para edificação da arma imperial acabou implantando uma falha instrumental cuja inabilitação acarretaria no colapso total da Estrela da morte, decide lutar com seus recém-conhecidos companheiros contra o Império.

Ao final do filme, a missão planejada é cumprida às custas de muitas vidas, inclusive as dos próprios protagonistas.

Rogue One lembra das pessoas comuns que resistem à tirania e ousam enfrentá-la, arriscando suas vidas em guerras e conflitos para poderem viver em um mundo mais justo, mas que nunca terão um monumento ou nome de rua em seu tributo por isso.

Creio que o filme nos traz uma eminente mensagem ao ressaltar a necessidade de nos opormos aos mecanismos tirânicos de controle da sociedade e do indivíduo através da coerção governamental e institucional, mesmo quando a força do inimigo nos pareça amedrontadora e potencialmente hostil.

Infelizmente, é fácil perceber que o autoritarismo se manifesta e cresce nos dias atuais através de visões de mundo impregnadas na mentalidade do homem pós-moderno, tais como: intervencionismo, socialismo, relativismo cultural, materialismo, totalitarismo, eugenia e engenharia social.

UMA REFLEXÃO SOBRE A CORAGEM

Lutar pela supremacia do Bem e pela predominância da Justiça e da Liberdade nas relações humanas é um dever ético deontológico. Como dizia Bonhoeffer: “O silêncio em face do Mal é o mal em si; Deus não irá nos inocentar. Não falar é falar; não agir é agir”.

Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.  

(Tiago 4:17)

Um aspecto importante da lição moral de Rogue One encontra-se na ideia da deontologia amalgamada com a prática da virtude da coragem.

A ética deontológica frisa a eminência de agirmos vinculados a um dever estabelecido, não importando as consequências negativas ou o fardo a nós imposto.

Independentemente das circunstâncias e conjunturas, o agir para o Bem é necessário e imprescindível.

Entretanto, é possível verificar o desprezo pela noção do Dever em nosso meio e esse desprezo está correlacionado com a ascensão de correntes antinomistas do emotivismo, relativismo e especialmente do utilitarismo. O utilitarismo é uma posição filosófica amplamente difundida pelos teóricos pós-modernos.

Ao contrário do absolutismo ético e dos pressupostos deontológicos, o pensamento utilitário ou consequencionalista estabelece como critério de legitimidade de uma ação sua respectiva finalidade, que foi especificada pelos pensadores clássicos como a quantidade/qualidade do prazer proporcionada por uma determinada conduta.

Sendo assim, há uma tendência inevitável e gradativa de abandono do Princípio do Dever em face do hedonismo, cujos preceitos nos levam a agir de acordo com a utilidade ou necessidade.

Entretanto, os indivíduos se esquecem de que a ausência de princípios norteadores em uma sociedade conduz automaticamente ao totalitarismo, uma vez que para alcançar objetivos “legítimos” para a predominância do suposto prazer comunitário não há problema algum em violar normas até então consideradas essenciais e imprescindíveis para a Justiça.

Portanto, o consequencionalismo é apenas uma forma de esconder os males do intervencionismo e do totalitarismo. Aldous Huxley, Hans Hermann Hoppe, Edmund Burke e Alexis de Tocqueville já advertiam sobre os perigos de uma visão essencialmente utilitária e hedonista.

A liberdade é o princípio basilar do bem comum e não deve ser abandonada ou até mesmo posta em segundo plano em face do igualitarismo ou hedonismo. A preservação da verdadeira liberdade é um dever deontológico primordial.

Nas palavras de Tocqueville: “Mas há uma liberdade civil, moral, federal, que é o fim e a finalidade da autoridade; é uma liberdade para que o que é apenas justo e bom; é por essa liberdade que você deve se posicionar mesmo com os riscos para sua vida”.

Portanto, devemos suportar o mal e lutar pela supremacia do Bem.

Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.

(Romanos 12:21)

Em nossa vida cotidiana, o sofrimento e a tristeza em face de problemas desgastantes podem nos levar ao desencantamento e ao sentimento de frustração; contudo a lembrança de que a perseverança em situações desfavoráveis contribui para o crescimento moral e para o desenvolvimento das virtudes é sempre confortante.

E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança.

Romanos 3: 3-4

Ou como dizia Charles Spurgeon: “Há algumas de suas virtudes que nunca seriam descobertas se não fossem as provações que você experimentou”. 

Portanto, a atitude correta perante uma realidade marcada pelo mal e pelo sofrimento nunca será a conformidade; mas sim uma posição em prol das virtudes, tendo consciência da suficiência e grandiosidade do Bem para promover a justiça e a esperança.

Como dizia Fulton Sheen: “Se não viveres segundo aquilo em que acreditas, acabarás a acreditar naquilo que vives”. Por mais que o inimigo pareça amedrontador ou potencialmente hostil, a esperança da luta pela verdadeira liberdade e pelo Sumo Bem certamente produzirá um consolo infinitamente maior do que o mal que nos aflige.

Rogue One: Uma História Star Wars nos lembra da necessidade da coragem e da perseverança, bem como da eminência de agir moralmente conforme um Dever estabelecido; dever este que direciona as ações para o bem.

Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra no século XX, tornou-se famoso em seu categórico esforço na guerra e luta contra o Nazismo.

Com base em suas experiências, o estadista afirma: “A lição é a seguinte: nunca desista, nunca, nunca, nunca. Em nada. Grande ou pequeno, importante ou não. Nunca desista. Nunca se renda à força, nunca se renda ao poder aparentemente esmagador do inimigo”.

Enquanto lutarmos, sempre haverá esperança. Como afirmava Chesterton: “A esperança começa a alvorecer somente para aqueles que permaneceram por dez minutos depois que tudo tenha se tornado desesperador”. Por fim, creio que a lição primordial do filme se encontra expressa na seguinte frase: 

Como o mundo poderia ser liberto do terrível dilema do conflito, por um lado, e da dissolução psicológica e social, por outro? Eis a resposta: através da elevação e do desenvolvimento do indivíduo e da disposição de cada um para levar o Ser em seus ombros e escolher o caminho do herói.

Cada um de nós deve aceitar tanta responsabilidade quanto possível pela vida individual, pela sociedade e pelo mundo. Cada um de nós deve dizer a verdade e corrigir o que está errado e quebrado e recriar o que está velho ou desatualizado.

É dessa forma que podemos e devemos reduzir o sofrimento que envenena o mundo. É pedir muito. É pedir tudo.

Mas a alternativa — o horror da crença autoritária, o caos do estado falido, a catástrofe trágica do mundo natural desenfreado, a angústia existencial e a fraqueza do indivíduo sem propósitos — é claramente pior (Jordan Peterson).

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