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O contra-ataque democrata de Alexandria Ocasio-Cortez

Por Giovanna Stival – Fala!Cásper

Quem é a hispânica que pode se tornar a mulher mais jovem da história a chegar ao Congresso americano

 

Saindo de trás do balcão de um bar de tacos mexicanos em Manhattan, Alexandria Ocasio-Cortez, de 28 anos, venceu as primárias democratas de Nova York com um discurso esquerdista, pró-imigração, uma equipe de menos de vinte funcionários e um orçamento 10 vezes menor que o de seu concorrente Joseph Crowley – um antigo conhecido do partido de 56 anos. A ativista do Bronx é uma figura em ascensão no cenário político polarizado americano, e ainda pode se tornar a mulher mais jovem da história a chegar ao Congresso do país se ganhar do republicano Anthony Pappas nas legislativas em novembro.

Nascida e criada no bairro que ascendeu sua vontade política, o pai, Sergio, era dono de um negócio familiar e a mãe, Blanca, é uma imigrante porto-riquenha que costumava trabalhar como faxineira. Para oferecer uma boa educação à filha, os dois economizaram o suficiente para enviá-la a Yorktown, um bairro mais ao norte da metrópole, para que estudasse em uma escola da região.

Obteve diploma em Economia e Relações Internacionais pela Universidade de Boston e nesse mesmo período trabalhou com o ex-senador democrata Ted Kennedy. Durante a campanha presidencial do esquerdista Bernie Sanders, no entanto, foi quando mergulhou oficialmente no movimento pelo qual lançou sua candidatura.

Assim como outros políticos americanos, Alexandria converte sua história de vida nos valores que deseja mobilizar em sua campanha. Depois de formada, ela voltou ao Bronx e começou a trabalhar como educadora e atuou como ativista na comunidade, mas a morte do pai em 2008 a levou a realizar turnos como atendente no Flats Fix para ajudar nas finanças da casa. Sendo capaz de compreender as dores dos trabalhadores americanos, a latina da voz aos desfavorecidos com uma mensagem de dignidade social, econômica e racial, o que a coloca em uma posição de destaque no lado oposto ao atual governo dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, oferece desconfiança ao eleitorado.

Desacostumados com a palavra “socialismo”, ainda não é possível dizer se a filha de porto-riquenhos é apenas um caso em destaque devido a demografia dos bairros onde concorreu a eleição (a metade da população do distrito, de mais de 600.000 habitantes, é de origem latina), sua ideologia progressista e um uso inteligente das redes sociais – fatores destacados pelo site City & State New York, especializado na cobertura política do estado – ou uma guinada sólida e surpreendente contrária a atual onda de conservadorismo que age no país. Ocasio integra a organização The Democratic Socialists of America e faz parte de uma ala mais jovem e radical formada recentemente no partido americano.

Foto: JENNIFER MASON

Entre suas propostas estão a abolição da polícia alfandegária e migratória dos Estados Unidos, um plano de saúde que garantiria assistência médica para todos os americanos (conhecido como “Medicare for All”) e garantia universal de empregos. Alexandria também participou de um protesto contra a separação de pais e filhos imigrantes no Texas no fim de semana anterior às eleições primárias.

O levante de Cortez, assim como o que deu base para a candidatura de Donald Trump, tem ligação com o uso não convencional das redes sociais e um foco maior dado aos eleitores mais jovens, o que a reportagem do City & State New York definiu como sendo “o futuro do Partido Democrata”. No entanto, a movimentação parece arriscada pois, se chegar ao Congresso, seus primeiros rivais estão na própria máquina do partido, seguidos do perfil americano resistente a movimentos de extrema esquerda.

Foto: Jose A. Alvarado Jr.

Por causa da derrota de Hillary Clinton, os democratas estão perdendo força e atacando o establishment, termo que se popularizou em 1961, quando o jornalista Richard Rovere publicou o texto The American Establishment, caracterizando alianças de indivíduos das finanças e dos negócios que influenciavam diretamente no exercício do poder nos EUA em favor dos interesses de grupos ricos específicos. Até o momento, Alexandria revirou o conceito e redesenhou as legislativas que acontecerão em novembro, resta saber se ser mulher, latina, e dar voz aos desfavorecidos é um bom motivo para ganhar ou perder as eleições.

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