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Caso George Floyd e as discussões sobre racismo e abuso policial

No dia 25 de maio, na cidade de Minneapolis, em Minessota, EUA, George Floyd, ex-segurança negro, foi abordado e morto pelo policial Derek Chauvin, que manteve o joelho sobre seu pescoço durante 8 minutos e 46 segundos, mesmo após George alertar diversas vezes: “I can’t breathe” (não consigo respirar, em tradução livre), frase que percorreu o mundo após o caso ganhar notoriedade e levantar diversas discussões sobre o racismo.

O fato, que aconteceu logo após Floyd ser acusado de utilizar uma nota falsa de vinte dólares para comprar cigarros, chocou todos e levou muitos a questionarem os aspectos racistas ainda presentes em seus países. Movimentos como “#vidasnegrasimportam” e “#BlackoutTuesday” inundaram a Internet e várias celebridades se solidarizaram com o ocorrido.

Black lives matter
Protestos nos EUA “Black lives matter”. | Foto: Ryan McLaughlin.

Protestos pelo mundo

Em meio à pandemia do novo coronavírus o mundo parou para protestar contra as vertentes racistas enraizadas na sociedade, e líderes de diversos países se pronunciaram a respeito das mobilizações. Em uma coletiva de imprensa, Josep Borrell, diplomata da União Europeia, disse: “Estamos chocados e horrorizados com a morte de George Floyd. Isto é um abuso de poder e tem que ser denunciado, tem que ser combatido nos Estados Unidos e em todos os lugares.”.

Protestos que foram registrados em todos os 50 estados dos EUA se espalharam país afora. Reivindicações foram feitas em lugares como a Alemanha, Reino Unido, Inglaterra, Holanda e Canadá, além da França e da Austrália onde, assim como no Brasil, as manifestações trouxeram à tona movimentos já existentes, acusadores da discriminação racial.

Em Paris (França), após as autoridades proibirem manifestações em frente à embaixada dos EUA e no gramado da Torre Eiffel, os protestantes se reuniram e lotaram a Praça da Concórdia. Já em Londres, as pessoas protestaram na Parliament Square com máscaras e embaixo de chuva, acompanhados de faixas apoiando o movimento. 

Manifestações contra o racismo
Manifestações em Berlim. | Foto: Reuters/Christian Mang.

Enquanto, em Berlim, manifestantes saíram as ruas com placas contendo frases de cunho político/social, entre elas: “Nós só dizemos “vidas negras importam” porque você age como se não importassem.”. E, na Austrália, os protestos se ampliaram para a reivindicação contra o tratamento que a polícia dá aos aborígenes australianos.

Ainda, monumentos de pessoas ligadas a qualquer forma de escravagismo vêm sendo atacados. Na Inglaterra, a estátua de Edward Colston foi jogada no rio por manifestantes, enquanto a de Cristóvão Colombo tem sido depredada nos EUA, e a de Leopoldo II, na Bélgica, removida para um museu a fim de evitar represálias. Apesar de pessoas, como o historiador Paulo Marins, dizerem que essa derrubada não melhorará o cenário, “Não vamos nos apaziguar tirando um problema, precisamos tratar esse problema”, afirma o especialista.

morte de George Floyd.
Estadunidenses protestam a morte de George Floyd. | Foto: Ryan McLaughlin.

Implicações no cenário brasileiro

No Brasil, a morte de Floyd trouxe à margem questões já existentes que são relembradas de tempos em tempos por meio dos casos de abuso policial com a população negra que, infelizmente, já fazem parte da rotina do país. Todos os dias, jovens pretos, maioria periféricos, são alvos de abordagens policiais, que se assemelham pela violência, e resultam, muitas vezes, em mortes, de grande maioria sequer averiguadas.

São diversas as ocorrências de abuso policial registradas em território brasileiro, só em São Paulo tiveram 68 denúncias de abuso, e 105 de lesões corporais em 2019, de acordo com dados da Corregedoria da Polícia Militar. Esses números refletem casos como o de Evaldo dos Santos, músico negro, que levava sua família a um chá de bebê quando teve seu carro alvejado por 80 tiros dos oficiais do exército.

Ainda, é possível citar o caso de Ágatha Vitória, menina preta de apenas 8 anos, que foi atingida pelas costas por um tiro de fuzil da polícia militar enquanto estava no banco de trás de uma Kombi com sua mãe. Os policiais alegaram que somente estavam revidando contra duas pessoas montadas em uma moto que passaram atirando, mas, segundo a polícia civil, que também estava no local, não havia ninguém mais armado, além dos agentes.

Artistas brasileiros também denunciam os abusos em suas músicas, na canção Salmo 23, Projota canta: “Se eu vacilar na rua levo 80 tiros, e as verdades que eu canto ninguém quer ouvir”. Já na letra de Mandume, Emicida e rappers convidados falam sobre as represálias sofridas pela população negra, “Pior que eu já morri tantas antes de você me encher de bala, não marca, nossa alma sorri, brilhar é resistir nesse campo de fardas”.

protestos contra racismo
Nos Estados Unidos, manifestantes pedem por justiça em protestos. | Foto: Ryan McLaughlin.

No final, o motivo pelo qual o caso do cidadão americano tomou tamanha proporção e visibilidade é mais complexo do que aparenta. A causa dos protestos não foi apenas a morte de George, é muito mais profundo que isso, são anos de marginalização e opressão policial, o assassinato de Floyd foi apenas a gota d’água para que tudo viesse à tona.

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Por Bianca Sousa – Fala! Faculdade Paulista de Comunicação

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