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Brasil é criticado pela ONU: como isso afeta as relações internacionais?

No dia 28 de abril, o presidente Jair Bolsonaro afirmou não ter o que fazer em relação ao novo recorde de mortes, que até então somava 474 óbitos em 24h. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse Bolsonaro em referência ao próprio sobrenome.

Bolsonaro em coletiva
Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante coletiva. | Foto: Reprodução.

Após esse e outros episódios, a Comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um comunicado direcionado especificamente para o Brasil via Escritório do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, onde dois relatores criticaram o governo brasileiro por políticas que colocam “a economia acima da vida” no combate ao novo coronavírus no país.

Juan Pablo Bohoslavsky
Especialista independente da ONU Juan Pablo Bohoslavsky. | Foto: ONU/Jean-Marc Ferre.

“A epidemia da Covid-19 ampliou os impactos adversos de uma emenda constitucional de 2016 que limitou os gastos públicos no Brasil por 20 anos”. A declaração é do especialista independente em direitos humanos e dívida externa, Juan Pablo Bohoslavsky, e do relator especial sobre pobreza extrema, Philip Alston. 

Os cortes de financiamento governamentais violaram os padrões internacionais de direitos humanos, inclusive na educação, moradia, alimentação, água e saneamento e igualdade de gênero. 

Afirmaram os delatores no comunicado

Sempre priorizando a economia, o governo brasileiro tem mantido medidas rasas para a contenção do vírus e isso não tem sido visto com bons olhos por entidades externas. Apesar das indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os riscos de contágio, muitas cidades têm reaberto comércios enquanto as mortes só aumentam, totalizando, no dia 24 de maio, 360.062 casos confirmados e 22.603 mortes.

“Não pode se permitir colocar em risco a saúde e a vida da população, inclusive dos trabalhadores da saúde, pelos interesses financeiros de uns poucos”, ressaltaram os especialistas da ONU. “Quem será responsabilizado quando as pessoas morrerem por decisões políticas que vão contra a ciência e o aconselhamento médico especializado?”.

A crítica veio depois que várias instituições brasileiras, dentre elas a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados (CDHM), apresentaram denúncias a autoridades das Nações Unidas sobre a conduta do presidente Jair Bolsonaro.

coronavírus no Brasil
Brasileiros voltam ao “normal” em algumas cidades. | Foto: Germano Lüders/Exame.

Em razão da inexistência de uma vacina ou tratamento eficaz contra o vírus, as medidas de maior sucesso adotadas no exterior são o isolamento social e a testagem em massa. Mas as constantes atitudes tomadas pelo governo contra o isolamento, colocam o Brasil em más lençóis, pois ao passo em que se preocupa com a economia, o chefe do Executivo pode enterrar ainda mais as finanças do país. Uma falha na estratégia faria com que outros países reagissem de forma negativa.   

coronavírus
Pessoas fazem uso do transporte coletivo durante pandemia do coronavírus.| Foto: Reprodução.

Segundo o economista William Baghdassarian, professor do Ibmec e PhD em finanças pela Universidade de Reading, na Inglaterra, “O presidente Bolsonaro não é a pessoa mais feliz do mundo em termos de relações internacionais. Ele e a família parecem ter vocação para briga. O próprio ministro da Educação gerou indisposição com os chineses, o filho fez uma piada que gerou incômodo. O próprio presidente virou as costas para a China”, afirmou para o Correio Brasilense. Ainda de acordo com o especialista, medidas contra o isolamento que resultem na reabertura do comércio, podem acarretar em perdas na produtividade do país a longo prazo e em restrições a serviços brasileiros no exterior. 

Além de riscos econômicos ao contrariar as recomendações das Organização Mundial da Saúde, a imagem do país no exterior está posta em xeque. A ciência brasileira sempre foi uma das mais respeitadas do mundo, em vista da qualidade das universidades, artigos publicados e descobertas abundantes em diversas áreas. Mas, ao negar a gravidade da pandemia e propagar o uso de remédios que ainda não passaram por testes clínicos, o governo brasileiro perde parte da confiança conquistada no exterior, ou, pelo menos, o pouco que ainda lhe restava. 

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Por Hillary Marcos – Fala! UFSC

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