O descaso do presidente Jair Bolsonaro com a atual pandemia da Covid-19, ignorando as recomendações de isolamento social da Organização Mundial de Saúde, passou a influenciar seus seguidores a fazer o mesmo. Manifestações a favor de Bolsonaro, além de incitarem aglomerações, estão impulsionando uma série de agressões que estão ocorrendo contra profissionais da saúde e jornalistas.
Contra a Saúde
No dia 1º de maio, em pleno feriado do Dia do Trabalho, enfermeiros foram agredidos durante um protesto silencioso em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Os funcionários da área de saúde, a mais importante em meio à atual crise pandêmica, protestavam em memória aos colegas de profissão que morreram na linha de frente da luta contra a doença. Além disso, reforçavam a importância do isolamento social.
Sem máscara e xingando, um apoiador do governo Bolsonaro confrontou os enfermeiros. Além dos ataques proferidos verbalmente, o manifestante partiu para a agressão física e chegou a empurrar duas enfermeiras. Ana Caterine Carneiro, de 31 anos, foi uma das atacadas. Em uma entrevista ao portal G1, ela lamentou: ”Os profissionais de saúde no mundo são aplaudidos e, no Brasil, a gente apanha”.
O agressor em questão era Renan da Silva, funcionário do Ministério dos Direitos Humanos. Ele foi substituído no dia seguinte.
O Sindicato dos Enfermeiros de Estado de São Paulo (SEESP) emitiu uma nota de repúdio às agressões, exaltando a pacificidade do ato e a morte de colegas de profissão.
Ataque a jornalistas
No dia seguinte, 2 de maio, um profissional de outra área muito importante durante a atual crise do coronavírus sofreu ataques. Um cinegrafista da RIC TV, rede filiada a Record, foi atacado também por um apoiador de Jair Bolsonaro. Na ocasião, Robson William da Silva e sua equipe cobriam a chegada do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, em Curitiba, onde deporia na Polícia Federal. O manifestante, além de agredir Robson com uma bandeira do Brasil, empurrou a câmera do profissional e houve confusão até interferência da polícia.
No dia 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, outros profissionais do jornalismo foram atacados, dessa vez, do Estadão. Cobrindo uma manifestação pró-governo (motivada pelo próprio presidente) em uma área restrita à imprensa, o fotógrafo Dida Sampaio foi empurrado da escada e sofreu chutes e socos de bolsonaristas. “Lixo, Lixo”, gritavam os agressores.
Em resposta, diversos representantes repudiaram o acontecimento. A ministra Carmen Lúcia, do STF, lamentou as agressões e reforçou a importância da liberdade de imprensa. “Lamento o fato de terem ocorrido agressões”, disse a ministra. “Acho inaceitável e inexplicável que tenhamos cidadãos que não entenderam que o papel do profissional da imprensa garante a cada um de nós poder ser livre”, continuou ela, em vídeo postado pelo portal de notícias Poder360. Os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso também se manifestaram, em repúdio às agressões.
Porém, o repúdio foi em vão. Na semana seguinte, apoiadores de Bolsonaro invadiram a área destinada à imprensa no Palácio da Alvorada e reviraram os lixos do local, em busca de notas fiscais de pedidos de comida. Assim, poderiam identificar os profissionais que cobriam ocasiões no local e, consequentemente, poderiam partir para uma possível agressão contra os jornalistas.
O presidente
Não apenas seus seguidores, mas também o próprio Jair Bolsonaro incita as agressões. No dia 5 de maio, ao conversar com um grupo de apoiadores aglomerados, o presidente não apenas se recusou a responder uma pergunta feita por um repórter como também o mandou “calar a boca”.
Além disso, na ocasião, atacou o jornal Folha de S. Paulo, chamando o veículo de “canalha”, “patife e mentiroso”. Bolsonaro também diz que a imprensa mente ao falar da troca da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, que antes era ocupada por Carlos Henrique de Oliveira. A troca foi realizada pelo novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, que substituiu Maurício Valeixo, nome de confiança do ex-ministro Sergio Moro.
Esse tipo de ofensa a jornalistas não é inédito entre líderes do Brasil. No ano de 1983, durante a Ditadura Militar, o general Newton Cruz se irritou com o repórter Honório Dantas, da Rádio do Planalto. Quando Dantas questionou sobre o estado de emergência no país, Newton Cruz se irritou. Porém, quando o repórter tentou alterar a sua pergunta com o objetivo de conseguir ser respondido adequadamente, o general se irritou e emitiu um pontiagudo “Cala a Boca”. O jornalista desligou o microfone, ao que o militar respondeu “Desliga essa droga, então”.
A ignorância de Bolsonaro seguiu em frente. No dia 7 de maio, fez questão de anunciar que faria um churrasco para “umas 30 pessoas” no Palácio da Alvorada. Porém, ao anunciar que havia desistido, chamou o evento de “fake” e, como se fosse um grito preso em sua garganta, chamou jornalistas de “idiotas”. Além disso, afirmou que o MBL (Movimento Brasil Livre), ex-aliado do presidente, “se superou” ao entrar com ação na justiça.
O coronavírus já matou mais de 11 mil pessoas no Brasil.
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Por Victor Livi – Fala! Cásper