Com a chegada desastrosa do novo coronavírus no Brasil, ocorreu uma explosão política e social, na qual os cerca de 210 milhões de brasileiros estão tendo que lidar, de forma oficial, desde o início do mês de março.
A pandemia, além de desmascarar a imensa desigualdade no setor de saúde (pois há um grande abismo entre saúde pública e privada, desde acompanhamento médico até a disponibilização de leitos de UTI e respiradores àqueles que apresentarem sintomas da Covid-19), escancarou a severa ineficácia do atual presidente brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, em se tratando do combate ao vírus no território nacional.
No dia 26 de fevereiro, o Ministério da Saúde confirmava o primeiro caso de coronavírus no país e, nos dias subsequentes, uma onda de novos casos surgiram e a população começava a se preocupar de forma gradativa com a situação. Porém, algumas atitudes e problemas advindos internamente do governo federal impactaram de forma negativa na saúde e, somadas, consolidaram uma crise política que pode levar a um impeachment no meio da pandemia.
Atitudes do Governo Federal
1 – Subestimação do vírus
Embora a maioria esmagadora das nações no planeta estejam empenhadas na luta contra o coronavírus, o Brasil assume uma posição inerte na situação. Pelo menos é o que deu a entender após uma declaração por parte do presidente Bolsonaro:
No meu caso particular, com o meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quanto muito, acometido por uma ‘gripezinha’, ou ‘resfriadinho’.
É preocupante pensar que o líder de uma nação continental vai na contramão do que é recomendado pelos principais órgãos sanitários e pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Uma consequência marcante dessa declaração é o fortalecimento da ignorância por parte daqueles que concordaram com o presidente e compartilharam do mesmo pensamento. Isso leva a um relaxamento preocupante nas técnicas sanitárias que todos devem ter durante e depois da pandemia para frear o contágio: usar máscara, lavar as mãos e evitar aglomerações.
Essa fala do presidente é facilmente refutável, já que a letalidade da doença, pelo menos no Brasil, é altíssima (uma das mais altas do mundo). Ou seja, o país não está enfrentando uma ‘gripezinha’ ou ‘resfriadinho’, pois o número de mortes já chegou a quase 8 mil na quarta-feira, 6 de maio.
2 – Aglomerações em protestos pró-governo em plena pandemia
Contrariando todas as recomendações possíveis de todas as instruções sanitárias, tanto nacionais quanto internacionais, centenas de manifestantes se reuniram, como citado anteriormente, em passeatas e carreatas em diversas cidades do país. Os protestos ocorreram principalmente nas capitais e pediram, de forma retrógrada, anti-democrática e anti-constitucional, a volta da ditadura militar e uma nova implementação do AI-5 (Ato Institucional número 5), presente no período ditatorial brasileiro.
Se já não bastasse toda essa afronta à saúde brasileira, o líder, que deveria ser o mediador maior durante a crise, se juntou aos protestos na capital federal, abraçou e apertou as mãos de manifestantes e não utilizou máscara (tudo o que não se deve fazer durante a pandemia). A democracia brasileira, todas as vezes que protestos desse cunho são feitos, é gravemente ferida.
3 – Demissão conturbada do ministro da saúde
Parece um ato um tanto quanto estúpido demitir o ministro da Saúde no meio de uma pandemia? Para o governo Bolsonaro, a resposta é não. No dia 16 de abril, Mandetta anunciava nas suas redes sociais que havia sido demitido pelo presidente. A explicação mais lógica, porém não oficial, para a demissão é um ‘desalinhamento’ de ideologias do então ministro com o presidente.
Enquanto Mandetta assumia uma postura a favor do distanciamento social e contra a reabertura do comércio e à volta da normalidade, Bolsonaro, nas suas diversas entrevistas, defendia que a economia do país não poderia parar e todos deveriam voltar aos trabalhos normalmente (em mais uma declaração subestimando o coronavírus). Uma forte disputa de egos que impacta negativamente na crise.
4 – Falas discutíveis do presidente sobre os números da Covid-19
Na terça-feira, 28 de abril, Jair Bolsonaro foi interrogado, em Brasília, sobre os números de vítimas do coronavírus em todo o país. Em qualquer nação do globo, espera-se de um líder uma resposta formal e, no mínimo, respeitável quando uma pergunta sobre um assunto tão delicado quanto esse é feita. Contudo, o presidente, parecendo bastante irritado, respondeu:
E daí? Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.
A frase repercutiu de forma negativa no país e logo virou debate ao redor mundo. Ainda como se fosse insuficiente, ele já havia declarado outras frases consideradas desrespeitosas vindas de um presidente da república, como “Eu não sou coveiro”, “Todos vamos morrer um dia”, “Coronavírus é histeria”, dentre outras.
Em meio à uma crise sanitária, o Brasil teve a proeza de conseguir iniciar uma crise política e agravar ainda mais a situações do país. Parece ser histeria da oposição, mas não é. Jair Bolsonaro faz questão de se mostrar como um líder despreparado para lidar com o coronavírus e ser imaturo em diversas ocasiões.
Fora a crise de saúde, Bolsonaro ainda consegue se envolver em diversas polêmicas quase simultâneas: demissão e intrigas com o ex-ministro Sergio Moro, tentativas de arquivar investigações contra os seus filhos na Polícia Federal do Rio de Janeiro e ataques contra a imprenssa e a liberdade de expressão, ao ordenar que um jornalista ‘Cale a boca’ ao interrogá-lo sobre algo que ele se vê incapaz de responder. Mais uma vez: tempos sombrios brasileiros.
________________________________
Por Raul Holanda – Fala! UFPE