Poderia ser a cidade que não para nunca. Ou a terra da garoa. Eu diria palco de muitas histórias. E talvez, por isso, a cidade não dorme nunca. São Paulo é atravessar o trânsito dentro do carro de um desconhecido que você achou em um aplicativo cinco minutos atrás. E falar, ouvir, discutir. Isso é São Paulo. É aquela chuva que você odeia, mas no fundo agradece por existir.
Se existe um lugar entre o céu e o inferno capaz de causar sentimentos tão diversos é São Paulo. Onde os instantes são rápidos demais, acendem e apagam – apesar de dizerem que não se apaga nunca. É onde o coração bate. As vezes por medo, mas sempre por amor. É uma constante. É estar sempre se despedindo em meio aos encontros.
Dizem ser a cidade de tantos encontros. Encontra-se tudo, menos o outro. Dizem tanto, mas é onde não se diz mais nada, perde-se todos. E assim, no meio da vastidão se paga o preço de viver sempre tão apressado. É aceitar uns aos outros com um julgamento silencioso, sem coragem de dizer tantas palavras proibidas, mas com a coragem de nunca se pronunciar. No fim, a gente quase se encontra em tantos desentendimentos.
Talvez exista uma energia impalpável que torna tudo que é cinza mais bonito. Parece solitário ao redor de tanta gente. Parece com o mundo, é bonito, mas perigoso. Estações indefinidas quase parecem estar querendo agradar todo mundo. São Paulo é tentar agradar todo mundo – e nunca conseguir. São Paulo é viver em constante adaptação de uma modalidade de vida desordenada.
É ambiente de trabalho. É tragédia e desesperança. É desigualdade. E mesmo assim, existe uma tranquila felicidade que irradia das coisas fazendo com que ninguém entenda o porquê. Apenas sabe-se. Apesar de tantos defeitos, é o saber. É espaço de epifania, de liberdade de dizer coisas sem nexo e ser entendido por isso. É ter a responsabilidade de ser quem é e fazer dela um deleite. É a essência de uma realidade enviesada. É ser único, enquanto igual a vários.
É onde se deve viver, apesar de medos. Viver, apesar de multidões. Viver, apesar do descaso. E viver porque o “apesar de” é o que nos faz ficar.
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Por Bianca Antunes – Fala! Mack