Ainda que tenhamos passado boa parte de nossas vidas estudando inúmeras personalidades históricas, apresentamos uma dificuldade notável em citar aquelas que eram negras ou detentoras de traços de descendência africana.
Esse problema é uma explícita consequência das diversas ações que ocorreram em boa parte do mundo em prol da ideologia de branqueamento, que defendia a realização de uma série de atitudes a fim de tornar a população mais clara.
No Brasil, esse fenômeno aconteceu durante o final do século XIX. A elite intelectual e política brasileira temia que o grande número de africanos e afrodescendentes na região viesse a comprometer o futuro da nação.
Com o objetivo de evitar que isso sucedesse, várias foram as negras violentadas por homens brancos, além da criação de políticas que facilitavam a vinda de mão de obra europeia ao Brasil. O intuito maior era de que o número de uniões inter-raciais aumentasse e que essas gerassem crianças com maior semelhança às feições europeias.
Muitos dos grandes nomes da história que apresentavam aspectos fisionômicos afrodescendentes tiveram esses ocultados, uma vez que, na compreensão de vários indivíduos durante múltiplos momentos, era praticamente impossível que uma pessoa negra fosse a responsável por qualquer ação de destaque.
Como uma das diversas sequelas desse período, segue abaixo cinco personalidades históricas que possuem traços afrodescendentes e você, provavelmente, não sabia.
1 – Machado de Assis
O escritor Joaquim Maria Machado de Assis foi tido por grandes críticos, leitores e estudiosos como um dos maiores nomes da literatura brasileira. Em 2011, Machado de Assis foi interpretado como um homem branco durante uma campanha publicitária da Caixa Econômica Federal.
A propaganda foi alvo de um número considerável de reclamações por parte do público e recebeu uma queixa formal proveniente da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir-PR). Devido à grande repercussão que ocorreu na época, a Caixa retirou a campanha de circulação.
2 – Alexandre Dumas
Neto de um marquês e de uma escrava, além de filho do general Thomas-Alexandre Dumas Davy de la Pailleterie, Alexandre Dumas foi um romancista e também dramaturgo francês responsável pelos clássicos Os Três Mosqueteiros (1844) e O Conde de Monte Cristo (1844).
3 – Cleópatra
Grande rainha do Egito nascida na Macedônica, em Alexandria. Reinou com o irmão, Ptolomeu XIII Téo Filópator e, depois, se casou com ele, o que era uma prática bastante comum em sua dinastia.
Cleópatra foi a única pessoa de sua linhagem a dominar o idioma egípcio, falando também mais cinco idiomas. Foi amante do líder romano Júlio César e teve um forte envolvimento amoroso com o político Marcos Antônio.
Vale notar que a raça e a cor de Cleópatra gera um extenso debate que perdura até hoje. Os estudiosos geralmente identificam Cleópatra como essencialmente de ascendência grega com alguma ascendência persa e síria, com base no fato de que sua família grega macedônia (a dinastia de Ptolomeu) havia se misturado com a aristocracia selêucida da época.
Mas um estudo feito por pesquisadores da Academia Austríaca de Ciências em 2009 analisaram o crânio e demais partes do esqueleto de uma mulher que, estima-se, viveu há cerca de dois mil anos na Turquia. A ossada estudada foi localizada numa tumba em Éfeso e estava identificada como sendo de Arsinoe, irmã de Cleópatra. A partir das conclusões tiradas sobre Arsinoe, os pesquisadores afirmaram que Cleópatra era africana – precisamente, do norte da África. Coordenador do estudo, o cientista austríaco Hilke Thuer qualificou a descoberta como “uma das mais significativas” dos últimos tempos. E acrescentou: “Finalmente temos novas informações sobre a família de Cleópatra e seus ascendentes.”
O estudo apontou que o formato e as dimensões do crânio de Arsinoe indicam que ela possuía características físicas de africana – e, se essa é a sua ascendência, pela lógica também deve ser a de sua irmã, Cleópatra. Por fim, as análises antropológicas e arquitetônicas da tumba acabaram convencendo os especialistas de que Cleópatra realmente descendeu de negros do norte da África. “Tudo indica que ela tinha o rosto em formato alongado, traço típico de africanos da Antiguidade. Cleópatra possuía genes da raça negra”, diz Thuer.
4 – Nilo Peçanha
Foi deputado federal entre os anos de 1891 e 1902. Tornou-se presidente da república após a morte de Afonso Pena, em 1909, e, duranteo seu governo, foi criado o Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Nilo Peçanha foi o primeiro homem de pele escura a chegar ao cargo mais alto do poder executivo brasileiro.
5 – Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto foi um jornalista e escritor brasileiro, filho de um tipógrafo e uma professora do primário. Por sua cor e origem humilde, sofreu preconceito durante toda a vida.
Barreto costumava escrever sobre alguns problemas sociais relacionados, principalmente, à cor. Foi o autor de grandes obras como Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), Clara dos Anjos (1948) e Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), que conta a história de um homem de pele escura que procura ascender profissionalmente, mesmo com os obstáculos advindos do preconceito racial.
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Por Heloisa Vasconcelos – Fala! UFPE