Seis Décadas de Arte
A Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) é uma entidade brasileira sem fins lucrativos sediada em São Paulo, e mantida pelo trabalho voluntário e pela contribuição anual dos associados. Originou-se da seção paulista da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. Sua principal atividade é a premiação anual dos melhores artistas em cerca de dez categorias distintas.
Abrindo as comemorações de 60 anos de atividade da APCA na noite de terça-feira, 15/03/2016, aconteceu a premiação no Sesc Pinheiros. O evento premia diversas categorias, desde arquitetura , passando pelo campo das artes visuais, cinema, literatura, música popular, rádio, teatro adulto, teatro infantil, televisão e a mais nova categoria adicionada, moda.
Por ocasião das comemorações dos 60 anos da instituição, o troféu ganhou uma nova concepção. Como foi dito por alguns premiados na noite, a APCA é uma das premiações mais importantes para os artistas brasileiros.
Em entrevista com José Henrique Fabre Rolim, um dos críticos da categoria de artes visuais e atual presidente da APCA, ele diz que o fator fundamental para a instituição construir toda sua história, é que ela é a única instituição que atua em 12 áreas da arte, e, quando questionado sobre a falta de divulgação do evento para o público, ele diz que o evento atinge prioritariamente a classe artística e quem acompanha a arte, mas diz que aos poucos as pessoas estão se envolvendo mais, tendo acesso a mais informações, e termina dizendo que espera que a instituição cresça cada vez mais e encontre novos desafios.
Entre os premiados da noite, passaram pelo palco Guilherme Fontes, recebendo o prêmio de melhor direção por Chatô, O Rei do Brasil; Fellipe Barbosa, com melhor roteiro por Casa Grande; Emicida, como artista do ano; Ricardo Boechat recebeu prêmio especial do júri, pela BandNewsFM; a colunista Mônica Bergamo pela BandNewsFM; Maria Luiza Mendonça, como melhor atriz por Um Bonde Chamado Desejo; Silvio Santos foi o grande prêmio da crítica (ninguém compareceu para retirada do prêmio); Walcir Carrasco, como melhor novela por Verdades Secretas; Grazi Massafera, como melhor atriz por Verdades Secretas; Alexandre Nero, como melhor ator por A Regra do Jogo; Monica Iozzi, como melhor apresentadora por Vídeo Show, e por último, com menção honrosa, o Programa Mulheres, que completa 35 anos na TV GAZETA.

A apresentação ficou a cargo de figuras renomadas, como: Lauro César Muniz e Bárbara Bruno (Literatura), Monica Iozzi e Paola Carosella (Artes Visuais), Grazi Massafera e Hugo Possolo (Moda), Alexandre Nero e Fernanda D’Umbra (Música), Marcelo Tas e Bel Kowarik (Rádio), Paulo Milklos e Paulinho Vilhena (Teatro) e por fim Helena Ignez e Fauze Hatten (Teatro Infantil).

Casa Grande:
Entre os ganhadores da noite, estava Fellipe Barbosa, que levou o prêmio de melhor roteiro por ‘’Casa Grande’’, que conta a história de Jean, um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais, secretamente falidos. Enquanto a casa cai, os empregados têm que enfrentar suas inevitáveis demissões, e Jean tem que confrontar as contradições da casa grande. Um filme que vai muito além dos paradigmas impostos aos cenários marginalizados, contrapondo a ideia superficial de que os problemas não atravessam os muros dos grandes palacetes e nobres condomínios da sociedade carioca.
Fellipe Gamarano Barbosa nasceu no Rio de Janeiro, e completou seu mestrado em cinema na Universidade de Columbia, Nova York. Teve seus curta-metragens exibidos no Festival de Sundance, Clermont-Ferrand e o Festival de Cinema de Nova York. Com o filme Casa Grande, seu primeiro longa-metragem ganhou 12 prêmios em festivais internacionais e nacionais.
Quando questionado sobre qual seria o seu diferencial para ganhar tantos prêmios, ele diz:
‘’Eu não faço ideia. O que posso te dizer é que este é um roteiro muito pessoal, falando sobre a minha família, e eu coloquei toda minha alma nisso. Eu escrevi esse roteiro umas 40 vezes. Foi um trabalho de muitos anos, até porque eu demorei muito tempo para ganhar dinheiro e fazer esse filme. Eu trabalhei e eu tenho sido muito cuidadoso com o roteiro, porque é a minha profissão.’’
Para os futuros roteiristas ele deu uma dica: o segredo está em reescrever. Qualquer um pode escrever 100 páginas, mas reescrever é o segredo.
Ele conta em primeira mão que o seu próximo roteiro será sobre um Alpinista, que como ele disse: ‘’Já reescrevi umas 40 vezes, fica tranquila’’. O filme é sobre um montanhista, que era amigo de infância de Felipe e morreu no Malawi em 2009.
Ele encerra a entrevista dizendo:
‘’A maior metáfora da escalada, é que todo passo que você dé é muito importante, e as agarras, que são os obstáculos, como os obstáculos da vida, são o que nos possibilita subir, só que quanto mais tempo você passa em um obstáculo, mais difícil é o próximo.’’
Felipe é um exemplo de genialidade e simplicidade, que promete esquentar o cinema brasileiro com ideias inovadoras e criativas, proporcionando um destaque nesse segmento artístico e ultrapassando fronteiras até então pouco desbravadas pelo cinema nacional.

Chatô – O Rei do Brasil
Guilherme Fontes, ator conhecido principalmente por novelas e minisséries na rede globo, se tornou diretor de uma grande produção com o filme “Chatô – O Rei do Brasil”, que repassa momentos fundamentais da vida do jornalista Assis Chateaubriand, com uma produção que durou 20 anos.
O filme foi lançado em poucas salas, falhou em encontrar seu público nos cinemas, e foi investigado pelos que queriam provar que havia desviado recursos. Guilherme Fontes, que durante anos foi pintado como o homem que destruiu a credibilidade do cinema brasileiro, foi indicado pela crítica da APCA como melhor diretor de 2015. Os críticos afirmaram que ” Chatô” é o último grande filme tropicalista feito no País.
No seu discurso após o recebimento do prêmio, ele disse:
“Jamais pensei que um dia eu pudesse estar aqui recebendo um prêmio. Eu estava muito preocupado com o público, sinceramente. É uma emoção, depois de tudo isso que eu vivi, que o filme viveu, e o que o cinema acabou vivendo em seguida. Eu estou feliz e aliviado de poder ter entregue o filme, e ele ter sido reconhecido”.

Em seguida, ele dedicou o prêmio para sua equipe, seu diretor de arte, de fotografia, figurinistas e para sua mãe. Ele completa o discurso dizendo que não desistiu até que todo seu trabalho estivesse milimetricamente cumprido, e diz:
“Espero que esse seja um começo de um renascimento”.
Em entrevista após o evento, quando questionado sobre a pouca repercussão do filme, ele diz que resolveu esse problema vendendo o filme para a Netflix e para o Now. Diz também que a televisão vai suprir esse desgaste que ele teve com o cinema.
Talvez o maior problema de Guilherme Fontes tenha sido o perfeccionismo, e quando eu disse isso para ele, obtive um sinal de concordância imediato. O filme retrata um período e uma personalidade muito importante, que merece nossa atenção. Então, se você ainda não assistiu, agora já sabe onde o filme esta disponível. Vale a pena investir seu tempo.
Confira mais fotos do evento:









A premiação foi encerrada com um coquetel no mesmo recinto, comemorando também o Jubileu de diamante da instituição e com muita expectativa para a premiação do próximo ano.
Por: Beatriz Cuvolo – Fala!Cásper
2 Comentários
Parabéns Beatriz, ótima cobertura do evento.
Sou a mãe mais orgulhosa desse mundo, parabéns filha, você nasceu para isso!!! Te amo