Por: Débora Bandeira – Fala! PUC
O fazer artístico da espanhola Carina Gonzalez nas suas mais diversas facetas.
A exposição da artista espanhola Carina Gonzalez y Sousa, intitulada de “Cadências nos olhos da alma”, traz a arte nas suas mais diferentes faces. A palavra “cadência” significa “sequência encadeada e regular de sons e de movimentos”, e busca nortear as várias obras expostas.
Exibida no Instituto Miguel de Cervantes, ela mostra suas diversas particularidades por meio da pintura, da fotografia, literatura, música e dança.
Já na entrada, um poema intitulado de “Ritmo del sentido” expressa a ideia de movimento que diz estar dentro de sua alma, e orienta seu pensamento artístico. Ao lado dele, diversos quadros em nanquim, uma espécie de tinta preta feita à base de carvão, trazem uma carga mais emotiva para as obras. Formas e linhas que lembram corpos inquietos são os temas do conjunto de desenhos.


“A inspiração dessa exposição veio logo após eu visitar o Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera. Saí de lá com os esboços prontos na minha mente e uma vontade de resgatar o que já está na arte” declarou Carina Gonzalez.
Além disso, pinturas de porte maior e coloridas também fazem parte da exposição, assim como cadernos de rascunhos da artista. Na parede oposta aos desenhos em nanquim, fotografias se destacam e são divididas entre paisagistas e de estúdio. Nessas últimas, um jogo feito com uma modelo, luzes e um lençol dá a sensação de efeitos psicodélicos em quem as observa. Trechos de composições suas no piano, danças performáticas e poemas declamados são exibidos no auditório do Instituto.

Juntamente com as suas outras obras, a exposição oferece uma experiência completa ao espectador, que poderá entrar em contato com os mais diversos modos de se fazer arte, além de ser tocado por diferentes possibilidades de interpretações. A visita poderá acontecer até o dia 30 de abril de 2017, ou seja, até este domingo, no Instituto Miguel de Cervantes, localizado na Avenida Paulista, 2439.
Conhecendo a artista
Nascida na Espanha, na cidade de Goyan em 1972, Carina Gonzalez y Sousa foi trazida para o Brasil com meses de vida e, ainda criança, entrou em contato com manifestações que guiaram seu modo de ver a vida. “Caminho pelas artes desde que me conheço por gente”, declara Carina, ao relatar que começou a frequentar aulas de dança aos quatro anos de idade e aulas de piano aos seis.
Moradora de Santos, aos doze, ela entrou para um grupo de poetas da cidade e nunca mais largou a escrita. “Sou poeta e acredito que a poesia revela a possibilidade de um outro olhar, um outro modo de ler a vida que nem sempre está escrita”, expressou a artista.
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Santos, mestre e doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo,- USP, a espanhola acredita que a área de linguagens está fortemente vinculada ao fazer artístico, pois tem forte relação com o sentimento. “A comunicação está muito ligada a ser sonoro. Não à toa, quando eu falo de pauta, pode ser tanto música como jornalismo. É o que os norteia”, conclui.
Também estudiosa de arte, Carina afirma que sempre se identificou com a dramaticidade e o excesso de emoções do expressionismo. Juntamente com ela, admira a geometrização do neocubismo, tendo o livro “Conversas com Picasso”, de Gilberto Brassai, como livro de cabeceira.


Porém, mais do que se inspirar em movimentos já existentes, a espanhola crê que todo ser humano, independente de quais condições se encontre, tem a capacidade de manifestar o seu eu através da arte. “Eu acredito que todo ser, na sua maneira, tem o seu próprio repertório. Penso na arte como modo de ser da própria vida, como parte do ser humano”, diz.
O repertório de Carina está intrinsecamente ligado ao conceito de movimento, de ritmo e som.
“É de onde vem minha inspiração”.
Dessa maneira, a artista traça um paralelo entre a ideia de que a música é a instância mais elevada da arte, assim como os batimentos cardíacos:
“Nosso coração pulsa a todo instante. Vibrar é um aspecto físico e é essencial para música. Não acredito que o sentimento seja automático, acredito que esteja conectado”.
A dança também tem profunda ligação com esse sentimento entre o ser e o ritmo. Carina, formada em ballet, confessa que tem como único arrependimento não ter conhecido antes o trabalho de Isadora Duncann e Pina Bausch. A primeira, precursora da dança moderna e, a segunda, da dança contemporânea, que baseia suas coreografias em dramatizações para contar uma história.
Além do movimento, a metáfora também é uma maneira importante com a qual Carina trabalha ao buscar uma percepção que não está presencialmente no momento. “Há muita coisa presente estando ausente”, reflete.
A fotografia vem como sua arte mais recente, tendo a paisagem como enquadramento principal. Já no campo literário, Carina reflete e estuda sobre a relação entre o fazer artístico e o ser humano em “Ágape – a arte como a vida”. Seu projeto mais recente é o livro de contos “Amanajé”, lançado no dia 15 de março, dia da abertura da exposição.


Por fim, Carina expressou forte luta em sua condição de mulher. Condição esta que é inerente a ela, como pessoa e como criadora. “Ela está no próprio ato do meu existir e está na minha arte, a partir do momento em que me proponho a ser artista”, desabafa.
Carina vai além do simples fazer artístico, carrega sua filosofia de vida em cada uma de suas transitoriedades. “Viver não é um respirar que a gente não se dá conta”, diz a artista.
De fato, viver é mais. Segundo sua arte, viver é se movimentar e sentir as vibrações que estão dentro de si próprio e que nos faz despertar.
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